Mesmo não tendo nascido em Curitiba, Efigênia Rolim faz parte da cultura da cidade e é personagem amada pelos curitibanos
Por Irma Bicalho
A feira de domingo do Largo da Ordem ostentava mais brilho e cor, quando no emaranhado de pessoas, alguém tinha a sorte de encontrar uma rainha. Não era uma monarca qualquer, com coroa de diamantes e ar sisudo. Era a Rainha do Papel de Bala. Vestida em fantasias criadas por ela, feitas de papeizinhos coloridos que antes embalavam doces, Efigênia Rolim distribuía graça e magia, contando histórias e recitando poemas para quem quisesse ouvir.
A doce Efigênia Rolim nasceu em Minas Gerais, na cidade de Abre Campo, em 1931. Não bastasse nascer em cidade com esse nome, ainda veio ao mundo em 21 de setembro, o Dia da Árvore. Estava registrado nas linhas de seu destino o amor pela ecologia. Talvez por isso, muito antes dos assuntos sobre meio ambiente virarem moda, Efigênia, em sua simplicidade genuína, já reciclava materiais e pregava o respeito à natureza.
Antes de virar artista, Efigênia teve uma vida de sacrifícios. Veio para o Paraná na década de 60, indo morar em Tamarana, onde exercia duro trabalho na lavoura. Em Curitiba, ela chegou aos 40 anos. E foi aos sessenta que a magia aconteceu. Estava andando pela Rua XV, quando viu uma joia brilhante no chão. Não era joia, era um papel de bala de hortelã. Encantada pelo brilho colorido, Efigênia vislumbrou que aquele papel tinha seu valor e começou a criar obras de arte utilizando papéis de balas e outros materiais que ela reciclava.
A beleza de seus trabalhos extrapolava o visual. Era acompanhada de invencionices textuais. A Rainha do Papel de Bala hipnotizava seu público, ora com os reflexos brilhantes de suas fantasias, ora com o tom suave de sua voz dando vida às histórias que inventava e aos poemas que declamava.
“Eu não sei para onde vou
Nem de onde vim, mas se Deus me convidou
Vou ficar até o fim”
Efigênia Rolim
O talento e o carisma de Efigênia frutificaram. Participou de diversas exposições e coletivos. Alguns de seus trabalhos fazem parte do acervo do Museu Oscar Niemeyer. Recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio de Culturas Populares (2007) e a Ordem do Mérito Cultural (2008) do Ministério da Cultura. Efigênia foi também a estrela de dois documentários: Rainha do Papel de Bala (1998) e O Filme da Rainha (2005). Atuou nos curtas-metragens “O Traste” e Logo será Noite, ambos de 2001.
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A história da vida de Efigênia é contada no livro “A Viagem de Efigênia Rolim nas Asas do Peixe Voador”, escrito e lançado pela jornalista Dinah Ribas Pinheiro, em 2012. Em 2019, a jornalista cultural Maria Adélia Lopes lançou o livro “Contos de Fada Efigênia”. O trabalho é um resgate da arte oral da Rainha do Papel de Bala, contos, poemas e histórias que teriam se perdido no tempo, caso a jornalista não as reunisse na belíssima obra, ricamente ilustrada pela artista plástica Kátia Horn.
Em 2018, com a saúde delicada, Efigênia se mudou para Itapoá, em Santa Catarina. Lá, a artista mantém um pequeno atelier, onde aos 88 anos, dá vida às figuras que brotam de sua natureza sensível e criativa.
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Eu levei minhas crianças de Pré para ver suas obras na Bienal Internacional de Curitiba 2013, que estava no Museu Oscar Niemeyer. Fiquei maravilhada com a riqueza dos materiais que não damos importância, mas aos olhos dela criam vida. A Efigênia Rolim e o grupo Uakti me inspiraram a trabalhar com essa proposta, no ano seguinte criamos um projeto com as crianças e uma das etapas foi parar na Bienal de arte e educação da RME em 2014, exposição no Memorial de Curitiba.