Semeando o amor em um ano de pandemia

Projeto de palhaços curitibanos precisou se reinventar para continuar atendendo crianças, idosos e hospitais

Por Camile Triska
No início do ano, nossas rotinas mudaram da noite para o dia. De repente, atividades presenciais precisaram ser suspensas por um período – que não imaginávamos que duraria tanto. No meio disso tudo, projetos solidários que atendem instituições também não podiam mais acontecer. O que fazer?
Ir para o YouTube e inventar novas formas de interação foi a saída para o projeto Semeando Amor, que desde 2013 promove intervenções culturais e lúdicas por meio da arte da palhaçaria em instituições filantrópicas e hospitais.
Segundo a pedagoga Letícia Witzki Morona, a palhaça Pipoca, umas das fundadoras do grupo, o ano de 2020 iniciou cheios de planos com treinamentos marcados, novos locais para visitas, eventos… até que a pandemia chegou e suspendeu todas as atividades – que, no início, esperavam que logo retornassem, mas o mês passou e nada parecia que voltaria ao normal tão cedo.

Voluntários do grupo em uma reunião virtual. Foto: Divulgação

Foi quando surgiu o Plantãonildo, vídeos enviados através do whatsapp, feitos pelos palhaços do grupo com mensagens de pessoas a amigos e familiares, conteúdos no YouTube, como clipes musicais, o Jornal Semeando Acontece, com notícias “palhacêuticas”, o Semeando Histórias para as crianças, além de diversas lives falando sobre palhaçaria, voluntariado e adoção.
O Plantãonildo, que chegamos a divulgar aqui, no Curitiba de Graça, teve mais de 500 vídeos enviados. “Tantas pessoas impactadas, tantas mensagens para serem ditas, tantos abraços que não puderam ser dados pessoalmente e foram enviados através da tela do celular. Jamais poderá ser comparado com o toque físico, mas se fazer presente quando não se pode estar presente é essencial”, considera Letícia Witzki Morona.
Relato de uma das pessoas que participou do Plantãonildo

O projeto fez tanto sucesso que, para comemorar o dia do abraço, em 22 de maio, foi reformulado para colaboradores e pacientes do Hospital Nossa Senhora das Graças. Duas palhaças do Semeando Amor distribuíram cartões com QR Code que levava para uma mensagem especial aos funcionários e ainda foram realizadas chamadas de vídeo por whatsapp com crianças.

Outra interação que a tecnologia permitiu que o grupo semeasse amor para pessoas internadas foi a de um robô, o Robios, no Hospital Cajuru. Por meio dele, a atriz Amanda Stankoski, a palhaça Poesia, visitou pacientes de forma remota.

“A experiência de estar dentro do hospital de forma diferente, andando pelos quartos e corredores falando com as pessoas me fez sentir meio robô mesmo. Mas é incrível o quanto a tecnologia pode ser nossa aliada para que possamos conseguir realizar encontros e continuar nosso trabalho. É sempre bom se renovar e se reinventar enquanto palhaços e a tecnologia está aí para isso. O que é bem legal e maluco ao mesmo tempo”, observa Amanda Stankoski, a palhaça Poesia

Os profissionais de saúde, um dos mais afetados pela pandemia, também receberam um pouco de conforto por um projeto do grupo: o Semeando Cartas, também divulgado aqui, no Curitiba de Graça. Pessoas de todo o Brasil escreveram mensagens de carinho e esperança que foram entregues nos hospitais Cajuru, Marcelino Champagnat, Nossa Senhora das Graças e Hospital e Maternidade São José dos Pinhais

Doações

Mais do que doar seu tempo e amor, o grupo ainda realizou ações de arrecadação de alimentos e roupas para moradores de rua apoiados pelo projeto RV Social e de livros e materiais de papelaria para crianças da Associação Lar Criança Arteira, uma das instituições que tiveram as visitas do Semeando Amor suspensas devido à pandemia.

Grupo fez blitz para distribuir item de higiene e esperança. Foto: Divulgação

O grupo ainda distribui álcool em gel e cartões com mensagens de esperança em São José dos Pinhais e Curitiba, na Blitz Semeando Amor, que substituiu o Dia do Abraço Grátis, realizado todos os anos.

Nove meses depois, o amor continua

O que no início parecia ser só uma “quarentena” como o nome sugere, acabou durando nove meses – e ainda demora um pouco para tudo voltar a ser como era antes. Mas, o grupo do Semeando Amor conseguiu até fazer algumas visitas presenciais, mesmo que um pouco distantes.

Mesmo embaixo de chuva, os palhaços do Semeando Amor cantaram para idosos. Foto: Divulgação

“Participamos de um drive thru para os voluntários do Hospital e Maternidade São José dos Pinhais, entregando uma lembrança para cada voluntário que faz parte da instituição, e após o drive, realizamos depois de nove meses, uma visita presencial no hospital entregando uma lembrança para os pacientes e acompanhantes que estavam naquela noite”, conta Letícia.

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Para encerrar as atividades do ano, ainda foram feitas serenatas nos lares de idosos Hebron e Iracy Dantas, com entrega de minipanetones.
“O Semeando Amor decidiu não parar diante da situação, decidiu continuar suas atividades da maneira que foi possível, espalhando fé, esperança e amor, mesmo que virtual. Decidimos continuar nossa missão porque acreditamos em nosso propósito e na arte transformadora que é a palhaçaria. O amor não pode parar”, enfatiza Letícia Witzki Morona.
 
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