O homem que ousou CuTUCar a inspiração


O que te inspira a alma? O que te cutuca e te chama à vida todos os dias? Você acha que a palavra tem poder, que pode transformar as pessoas? Te convido a conhecer pessoas que acreditam, convivem, transformam e são transformadas pela palavra todos os dias. Da palavra que sai fácil… que virou hábito, à mais elaborada, que vem de muito fundo… aquela que nem imaginávamos que estava ali, mas que nos traz respostas e vislumbres do que nos deparamos todos os dias.
O poeta levanta-se, caminha e deita-se todos os dias com a palavra, sem ela sente-se vazio, ela é sua alma, a cutucada que precisa para respirar todos os dias. Em alguns momentos enclausura-se com ela em seus pensamentos, e fica assim, dias a fio, sem derramar um lamento ou contentamento sequer. Já outros ela transborda-lhe pelos olhos, pelas mãos que escrevem sem parar. Quando se dá a falar então, canta, chora, vibra palavra no ar, se encanta e encanta tantos no seu caminhar.
Te convido a conhecer também o lugar onde tudo acontece. Poderia ser na rua, no parque, no mar, embaixo das estrelas, mas aqui ela tem um templo, um lugar que chama de lar. Aqui todos são bem-vindos, desde que saibam escutar de formas inusitadas, pela pele, pelos olhos, por todos os cinco sentidos que a palavra pode chegar. Te convido a conhecer um dos templos da palavra em nossa cidade. Ele se encontra no coração da nossa história, na Galeria Júlio Moreira, entre a Catedral e o Largo da Ordem, no centro de Curitiba.
Hoje, conhecido como TUC, o Teatro Universitário de Curitiba é um espaço subterrâneo presenteado à cidade em 29 de setembro de 1976, inicialmente com o nome Teatro do Estudante. O espaço já foi palco de atividades estudantis relacionadas à cultura, mostra de compositores, fotógrafos, artistas plásticos e muita troca de informações. Hoje, além de sediar vários espetáculos musicais e manifestações populares, também é o palco da poesia e seus poetas.
E como todo templo tem um mentor, apresento o super inspirado e inusitado homem que ousou cutucar a inspiração, Geraldo Magela Cardoso. Poeta visionário, pai e produtor do projeto de intervenções poéticas, o “CuTUCando a Inspiração”, que iniciou em abril de 2013 e que desde então, ao longo de suas 45 apresentações, vem descobrindo e trazendo ao palco inúmeros poetas e músicos com suas múltiplas linguagens e facetas.
Segundo Magela, a proposta tem como objetivo manter a tradição oral da poesia tanto popular como erudita, transformar a arte poética como motivo de apreciação e lazer num formato múltiplo e de várias linguagens, valorizando assim os poetas e escritores de toda cidade, juntamente com poetas de renome, cuja produção já é conhecida do público.
Magela nasceu no sertão mineiro em 1956. Autodidata herdou da mãe, Maria Lisbela Cardoso, professora, folclorista e poetisa, a veia poética. Em 1971 veio para Curitiba e trabalhou em diversos locais antes de passar no concurso público em 1991 como promotor cultural da Fundação Cultural de Curitiba – FCC, órgão da Prefeitura Municipal de Curitiba. Na FCC começou no Centro de Criatividade, passou quatro anos no circo da cidade, foi mediador de leituras por 17 anos, contador de histórias e coordenador de bibliotecas, casas de leituras, Clube do Xadrez e desde 2016 na Feira do Poeta. Neste ano de 2017, tornou-se oficialmente coordenador da Feira do poeta e é ali que suas ideias fervilham.

Alguns livros publicados
Bendita Boca Maldita, Os Calombos dos Quilombos, Antologia Poetas na Praça, Curitiba nunca se Sabe, Marmitexto – Antologia Poética Culinária no Marmitex, O Homem é produto do email, Os mamilos de Vênus, Welcome Capital do Freezer, Se metamorfosse, e outros. Seu último lançamento aconteceu esse ano, o livro infantil “O rebu do urubu e o legado do leão”, com ilustrações do cartunista e gravurista Nilo Trovo.
Convido a todos para conhecer mais sobre os poetas, suas poesias, seu templo e seu criador. Venha assistir o próximo CuTUCando a Inspiração que acontecerá no dia 28 de abril, no TUC, a partir das 19h. Venha conhecer e participar da Feira do Poeta, no Largo da Ordem. Ela funciona de terça à sexta das 9h às 17h30. Domingo das 9h às 13h30h, quando são realizados lançamentos de livros e outras atividades culturais. Sábado e segunda o espaço não funciona.

NAVIOS NEGREIROS
Navios negreiros à beira do cais
Navios negreiros em terras estranhas
Navios negreiros em minhas entranhas
Navios negreiros orixás nos abissais…
Navios negreiros pretos violados
Navios negreiros todos castrados
Navios negreiros nos canaviais
Navios negreiros cantigas de Angola
Navios negreiros presos em argolas
Navios negreiros negros nos currais
Navios negreiros abrigos febris
Navios negreiros braços servis
Navios negreiros Não voltam mais…
Geraldo Magela

Silvana Mello é professora, especialista em Gestão Pública da Educação, jornalista e apaixonada por poesia.