Um Sistema de Gestão Ambiental também pode ser utilizado em eventos e festivais culturais para torná-los mais sustentáveis e conscientizar a população sobre as causas ambientais
Por Wainer Luiz Louza Borges
Hoje falo de um tema que além de importante, é dinâmico, ou seja, multidisciplinar. As questões ambientas como um todo, geralmente, são tanto micro quanto macro, ou seja, pontuais e difusas. E elas dependem de nós mesmos, da justiça, dos nossos representantes nas esferas de poder, dependem até de outros países. Aqui, comentarei sobre aspectos, alternativas e curiosidades quando o assunto é gestão ambiental em eventos, logo, fatos pontuais, que dependem de nós. Mas, os fatos podem atingir muita gente, e eu explico: é que nesse caso, a educação ambiental é inclusa. Afinal, precisamos da comunicação para o bom gerenciamento em conjunto das práticas impactantes nos eventos, além, é claro, de ser uma maneira de atrelar pessoas e propósitos.
Aproveito para salientar que qualquer Sistema de Gestão Ambiental deve contemplar a água, resíduos e energia (ISSO 14001). Na perspectiva dos eventos, incluir também a educação, pois o desafio é facilitar o entendimento do público, mas não apenas isso, também ter uma gestão comprometida, criativa e colaborativa pela qual é possível ter um poder de sensibilização para causas ambientais, e isso o público carrega para a vida. Essa interação entre pessoas, ações e o conhecimento pode crescer e muito, se tornando um novo atrativo do festival. As pessoas podem participar de oficinas, vivências “in loco” dos processos, palestras e debates, por exemplo, enriquecendo o conhecimento e a cultura como um todo. É um ciclo, sendo que a educação ambiental paira sobre todas as outras atividades, que podem ocorrer antes, durante e após o evento, a forma depende das características, possibilidades e dos interesses do festival ou evento, mas sempre visando a sensibilização, prevenção a poluição, recuperação ambiental e promoção social. Alias, vocês lembram os três pilares da sustentabilidade? São eles: ambiental, social e econômico.
É muito prazeroso e interessante perceber que processos manuais, básicos e de baixo custo podem transformar um evento! Além, é claro, de toda parte artística, de vanguarda e de necessidade para um futuro próximo.
Se é utilizado um sistema (SGA – Sistema de Gestão Ambiental), ele deve ter começo, meio e fim, e do fim volta para o começo, a partir de um princípio administrativo, o ciclo “PDCA”, do inglês, PLAN, DO, CHECK, ACTION – planejar, executar, verificar (os erros) e agir, onde do último, o A (ações corretivas), voltamos ao P (planejamento) e repetimos tudo, interessados em diminuir os erros.
Alguns aspectos a serem gerenciados antes do evento: mídia (uso do papel, que pode ser reciclado, reduzido, o uso maior da internet, etc); excursões (reduz poluição do ar e uso de recursos de fontes não renováveis); fornecedores e parceiros ambientalmente responsáveis, escolhidos por critérios certificações e/ou boas práticas comprovadas; capacitações dos funcionários; plantios (ações compensatórias); participação em outros eventos com pegada ecológica similar para troca de experiências. Lembrando que quando se trata de oficinas e práticas antes do eventos, essas, além do marketing ecológico, também podem gerar produtos que se tornam brindes e incentivos que podem ser destinados a parceiros, público e comunidades. Também deve-se ressaltar que a comunicação para uma boa gestão ambiental deve iniciar antes, na internet e na portaria do evento.
Já durante o evento, são muitos aspectos, é importante que as questões ambientais estejam conectadas com os espaços e pessoas e a comunicação deve ser sutil, sem causar poluição visual e sem ser ser invasiva com o público, fazendo com que todos assumam um compromisso saudável com as questões ambientais. Deve ser uma abordagem holística, uma permacultura, ou seja, a arquitetura inteligente. Friso ainda o uso da madeira e, partindo para os outros aspectos, nós encontramos a segregação dos resíduos como base e indispensável da gestão ambiental. Em sequência, deixo aqui outras ideias a serem colocadas em prática, como a distribuição de kits ecológicos, plantios, oficinas, palestras, estandes, gincanas, documentários, debates, banheiros secos, Iluminação LED, uso de energia alternativa (exemplo: solar, biodiesel), etc.
É importante salientar que a parte primordial da gestão ambiental do evento é a segregação dos resíduos, indicados em três: orgânicos, recicláveis e rejeitos. Os orgânicos, muitas vezes, podem ser compostados no local, é importante que haja um centro de triagem dentro do evento e que a disposição dos coletores (lixeiras) e equipes seja estratégica, quer dizer, além de prática, supra as necessidades dos locais com maior geração (geralmente, recicláveis em uma pista de dança e orgânicos na praça de alimentação). Os recicláveis devem ser separados minimamente, com devida e fácil identificação, e encaminhados para reciclagem por meio de associações locais, assim a comunidade é valorizada. Lembre-se: a responsabilidade é compartilhada entre público, organizadores e parceiros e os prejuízos podem afetar a comunidade e a biodiversidade local.
Deixo também aqui com vocês algumas dicas para oficinas, palestras e documentários: roda de conversa com profissionais da área ambiental, despertando para uma maior sensibilização; plantio de mudas nativas; interação da programação ambiental com a recreação infantil, aproximando pais, filhos e interessados; oficinas de papel semente (reciclado) e tintas naturais; hábitos saudáveis em acampamento; documentários sobre educação ambiental; tour pelo evento explicando metodologias e processos bioquímicos, seja compostagem, banheiros secos, gerenciamento dos resíduos, etc. As ações durante o evento são muitas e a criatividade deve ser aproveitada, estimulando o público a participar. É ideal que a programação esteja alinhada com a programação cultural.
No estado do Paraná e Santa Catarina, o coletivo Ambiente Livre (@ambientelivre no Instagram e Facebook) realiza a gestão e educação ambiental em eventos, além de ofcinas esporádicas em escolas e comunidades, plantios urbanos de árvores nativas e outras atividades que contemplam alguns dos ODS – Objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU.
Após o evento, algumas ações que devem ser realizadas é a quantificação e destinação correta via associação local, reúso da decoração, levantamento de todos aspectos e impactos ambientais, bem como ações de educação ambiental e divulgação dos dados em relatório final para melhoria na próxima edição e participação em outros eventos para troca de experiências.
CURIOSIDADE: Na Holanda, uma casa noturna usa a energia cinética da dança do público para manter a pista ligada, ou seja, ficar sem dançar pode significar ficar sem som e luz!
Wainer Luiz Louza Borges é gestor ambiental e professor e atua como produtor cultural e de eventos nas áreas de Educação e Gestão Ambiental.