Os rios que atravessam as cidades sofrem com poluição e degradação das suas margens. Mas, a criação de parques lineares está ajudando a recuperar esses locais
Por Wainer Luiz Louza Borges
Historicamente, grandes cidades cresceram junto das águas, afinal, sempre precisamos de água por perto. Vejam os exemplos das capitais brasileiras, estão praticamente todas da costa Leste em região litorânea ou próximas. Mas, infelizmente depois de tantos anos degradando estes recursos hídricos com esgotos e derrubando a vegetação ciliar (margens), nos vemos obrigados a cada vez mais ter que ir buscar água de qualidade em regiões mais distantes, tanto para consumo humano quanto para indústrias e irrigação. E isso é bem caro! Além, é claro, de uma série de prejuízos ambientais, ligados diretamente à sustentabilidade, que é o equilíbrio entre o social, ambiental e econômico.
Uma das estratégias para recuperação desses recursos hídricos é criar parques lineares! Vamos lembrar aqui que os mais antigos parques de Curitiba, o Barigui e o São Lourenço, foram criados para conter as cheias dos rios Barigui e Belém ainda lá nos anos 70, mas, hoje, a aposta é outra: preservar as margens para vida desses já considerados rios “cadáveres”. Assim, contribuímos não só para humanidade quanto para biodiversidade que depende desses ecossistemas, pois áreas enormes são recuperadas nas margens dos rios e se transformam em grandes corredores ecológicos, é delimitada uma área e todas as construções (muitas vezes moradias) são removidas para dar lugar à natureza, árvores nativas são plantadas e ajudam a filtrar a poluição trazida com águas de chuvas para o rio e servindo de abrigo para aves, mamíferos, répteis e outros elementos da nossa fauna e flora.
A legislação federal determina proteção integral para as áreas próximas dos rios, são as chamadas APP’s (Áreas de Proteção Permanente), um pouco diferente da APA (Área de Proteção Ambiental), que é mais permissiva, pois o tamanho dessa área varia de acordo com o tamanho do rio, logo que os mesmos contam com sua área de várzea ou segunda calha do rio, grandes áreas passíveis de alagamentos naturais, como banhados, mangues, etc. As áreas de proteção precisam estar ali e conter muitas árvores e vegetação para, literalmente, segurar não apenas a poluição, mas o próprio solo para não ir parar dentro do rio, causando assoreamento. Vale ressaltar que medidas paliativas evitam desastres e são menos onerosas. Cidades como Rio de Janeiro sofrem anualmente com deslizamentos e afins devido ao irregular uso e ocupação do solo. Em Curitiba, uma preocupação da saúde e defesa civil é, entre outras, a leptospirose.
Caso de sucesso
Na capital paranaense, observamos, por exemplo, a incrível mudança na região da Vila Barigui, no CIC, nome devido ao Rio Barigui, que nasce em Almirante Tamandaré, corta a porção Oeste da cidade e deságua no extremo Sul de Curitiba, determinando a divisa com a cidade de Araucária. É um dos maiores e mais poluídos rios da cidade, mas onde haviam casas caindo e sofrendo com alagamentos, agora temos um belo gramado com ciclovias, quadras esportivas, árvores crescendo e áreas de lazer e convivência. A sensação é de renovação! Em dias de menor estiagem, a água até parece limpa, sendo evidente apenas uma poluição pontual, porém, em épocas pouco chuvosas, ainda percebemos a poluição difusa.
Há um grande programa chamado Rio Parque de Conservação, que está implantando áreas de preservação e lazer ao longo do rio Barigui e que pretende interligar vários parques no Tanguá, Tingui, Barigui, Cambuí, Guairacá, Mariri, Mané Garrincha e Reserva do Bugio (bugios são macacos nativos de porte médio, há um parque com muitos deles em uma reserva no Tatuquara). Essa mudança na paisagem influencia diretamente na qualidade de vida dos moradores do entorno, sua segurança, comércio, há valorização imobiliária, atrai empreendimentos, etc. A ampliação da rede de coleta de esgoto pela Sanepar é fundamental para despoluição, muitas vezes a ligação dos dutos de esgoto é direcionada para os dutos de captação de águas da chuva, logo, o esgoto acaba desembocando no rio em vez de ir para tratamento. O programa é uma parceria da Prefeitura de Curitiba com a Agência de Francesa de Desenvolvimento.
Em São José dos Pinhais também há grande preocupação socioambiental, envolvendo governos municipal, estadual e federal, com a recuperação das águas do Rio Itaqui, que são destinadas ao consumo humano. Contando com recursos do Banco Internacional de Desenvolvimento, foram criados vários condomínios para famílias realocadas que se encontravam em situação irregular nas margens do rio Itaqui e sofrendo com inundações.
Existem metodologias de pesquisa socioeconômicas que definem quem irá receber as casas e quem será desapropriado. O rio é considerado classe 2 (existem 5 classes mais a classe especial, águas que ficam em regiões serranas e devem permanecer “intocadas”). O rio, na região da borda do campo, delimita divisa com a cidade de Piraquara, que é conhecida como capital das águas. Là existe uma lei que restringe a instalação de indústrias, justamente por suas águas serem tão importantes e usadas para consumo humano em Curitiba e região.
A construção do parque Rio Itaqui está em andamento. Os novos condomínios do bairro Guatupê contam, inclusive, com painéis fotovoltaicos para geração de energia solar em todas as casas (confira a imagem abaixo). Há uma estimativa de que mais de 18 mil famílias sejam beneficiadas. Lembrando que para R$ 1 investido em saneamento básico é economizado R$ 5 em saúde.
Wainer Luiz Louza Borges é gestor ambiental e professor e atua como produtor de eventos e cultural nas áreas de Educação e Gestão Ambiental.