Museu Paranaense reabre com quatro mostras inéditas

Reabertura acontece com as exposições: “Agrocorpus”, “Curitiba: Símbolos em Questão”, “Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta” e “Educação pela Pedra”

Depois de mais de um ano de portas fechadas ao público devido à pandemia da covid-19, o Museu Paranaense (MUPA) reabre neste sábado (08/05) com quatro novas exposições. Por causa dos protocolos sanitários, aos finais de semana e feriados, mais sujeitos à aglomeração, as visitas deverão ser agendadas previamente AQUI, pelo Sympla. De terça a a sexta, não é necessário fazer o agendamento. A entrada é gratuita.
O centenário de nascimento do escritor e poeta recifense João Cabral de Melo Neto é o tema de uma das novas mostras, “Educação pela Pedra”, realizada em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco, do Recife (PE) e com curadoria de Moacir dos Anjos. As obras investigam os afetos canalizados pelos versos do poema que dá nome à exposição, escritos em 1966.
“O poema nos apresenta a pedagogia da pedra e a sua capacidade de nos ensinar por ela própria, uma cartilha muda, mas que nos educa. Pode ser entendida como a metáfora de nossa relação com a arte: a capacidade que a arte tem de nos emancipar e educar por ela própria, nos fazer ver o mundo de outra maneira”, comenta o curador, que inaugurou a ponte aérea do projeto no final de novembro de 2020 para a montagem da mostra.

Obras da exposição “Educação pela Pedra” têm ou não a pedra como referência direta, mas de alguma forma remetem às lições do poema de João Cabral. Foto: Marcelo Almeida

Participam da exposição os artistas Oriana Duarte, Marcelo Moscheta, Jonathas de Andrade, Jimmie Durham, Cinthia Marcelle, Traplev, Agrippina Manhattan, Louise Botkay e Randolpho Lamonier, além de Caetano Veloso, que só entrou na montagem curitibana. A canção do músico baiano “If you hold stone”, que permeia a mostra, foi composta no exílio em homenagem à artista brasileira Lygia Clark e descreve a experiência de interagir com o trabalho da artista, sugerindo que o contato com a pedra gera conhecimento.
As obras têm ou não a pedra como referência direta, mas de alguma forma remetem às lições do poema de João Cabral: a resistência, a concretude, a concisão e a impessoalidade. São audiovisuais, instalações e fotografias que desafiam o espectador na capacidade de articular a arte com a sua própria bagagem e aspirações.

Erva-mate

Também em cartaz nesta reabertura estará “Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta”, que  propõe diferentes olhares sobre a erva-mate por meio de obras, objetos e documentos históricos provenientes do acervo do MUPA. A mostra faz parte do Circuito Ampliado – Acervos em Circulação, que contará com exposições em dois locais. Além do Museu Paranaense, o Palacete dos Leões, sede do Espaço Cultural do BRDE no Paraná, receberá em breve a mostra “Narrativas e Poéticas do Mate”. O circuito conta com a parceria do Museu Oscar Niemeyer e terá vigência até 2022.

VEJA TAMBÉM: Exposição Japonésia ficará em cartaz no Museu Oscar Niemeyer até julho

A exposição montada no MUPA apresenta a erva-mate a partir de alguns eixos: os usos e saberes dos povos indígenas do Sul ligados à planta, bem como seus primeiros locais de cultivo: as florestas; o beneficiamento artesanal da erva-mate por pequenos produtores; e aspectos relacionados à representação científica e artística da natureza feitos por viajantes estrangeiros e pesquisadores.

“Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta” apresenta diferentes olhares sobre a erva-mate por meio de obras, objetos e documentos históricos. Foto: Marcelo Almeida

Fazem parte da exposição um amplo conjunto de fotografias, peças tridimensionais, reproduções do álbum Voyage pittoresque et historique au Brésil, de Jean Baptist Debret, bem como a emblemática fotopintura Família Kanhgág no Museu Paranaense, de 1903, e especialmente restaurada para fazer parte da exposição.
Dentre as dezenas de peças do acervo do MUPA, a exposição conta ainda com uma obra do artista indígena wapichana Gustavo Caboco. De maneira poética, ela propõe uma atualização da história indígena ligada à erva-mate, questionando o lugar dos saberes dos povos originários em contraposição à história “oficializada”. A obra comissionada faz parte do acervo da instituição. “Entendemos que dessa forma reforçamos o diálogo com as comunidades que representam os temas abordados, trazendo uma reflexão sobre o papel do museu na sociedade”, afirma a diretora do Museu, Gabriela Bettega.

Videoperformance

A instalação “Agrocorpus”, em exposição no Espaço Vitrine, trará a videoperformance do artista Rodrigo PC. A proposta expositiva foi uma das selecionadas no I Edital de Ocupação do Espaço Vitrine, lançado pelo MUPA em 2020. Além de Agrocorpus, foram selecionadas mais duas propostas expositivas: “Como fazer um buraco em uma pedra com uma colher”, de Érica Storer de Araújo, e “Finalmente Museu!”, do escritório de arquitetura CLUBE.

Videoperformance estabelece uma conexão entre o corpo negro, o solo e as forças da natureza. Foto: Divulgação

Com 23 minutos de exibição, a obra “estabelece uma conexão entre o corpo negro, o solo e as forças da natureza, explorando a resistência do artista em estado estático. Rodrigo PC traz à tona em suas performances as entranhas de uma história escrita às custas da pele negra e indígena, que, assim como ele, tem os pés fincados no chão do Brasil, feito raiz que brota e rompe o solo seco da narrativa”, reflete a artista e pesquisadora Roberta Stubs no texto curatorial.

Símbolos curitibanos

Em tempos proibitivos para viagens transterritoriais, o MUPA propõe uma jornada histórica entre o passado e o presente da capital com a mostra “Curitiba: Símbolos em Questão”. Entre os objetos que fazem parte da exposição, peças importantes que ajudam a compor a iconografia da cidade, tais como a escultura do século XVII “Nossa Senhora da Luz dos Pinhais” e a pintura “Cidade Adormecida”, do artista norueguês radicado no Paraná, Alfredo Andersen.

Mostra “Curitiba: Símbolos em Questão” apresenta peças importantes que ajudam a compor a iconografia da cidade. Foto: Divulgação

Três registros fotográficos do artista Fernando Zanoni, que fazem um contraste com os objetos históricos presentes na exposição, foram adquiridos para a mostra e passam a integrar o acervo do museu. “Uma experiência interessante que a exposição pode trazer é poder olhar para o passado e o presente em um único espaço. Por meio de um grande contraste entre histórias e memórias das diferentes épocas é possível perceber o grande desenvolvimento da cidade nos últimos tempos”, indica Gabriela Bettega.

Primeiro museu do Paraná

Idealizado por Agostinho Ermelino de Leão e José Candido Murici, o Museu Paranaense (MUPA) foi inaugurado no dia 25 de setembro de 1876, no Largo da Fonte, hoje Praça Zacarias, em Curitiba. Com um acervo de 600 peças, entre objetos, artefatos indígenas, moedas, pedras, insetos, pássaros e borboletas, era então o primeiro no Paraná e o terceiro no Brasil.
Em 1882 transformou-se em órgão oficial de governo passando a receber contínuas doações. Desde a sua inauguração, o MUPA ocupou seis sedes, até fixar-se na atual, o Palácio São Francisco. Segmentado entre Antropologia, Arqueologia e História, o espaço está estruturado para a realização de projetos e atividades culturais, atingindo os diversos segmentos sociais.
O horário de funcionamento é das 10h às 17h30, de terça a domingo. O Museu Paranaense está localizado na Rua Kellers, 289 – Alto São Francisco, no Centro Histórico de Curitiba. Mais informações no site www.museuparanaense.pr.gov.br, no Facebook ou Instagram.
 
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