Sobrevivencialismo: Como sobreviver a uma disrupção social?

 Vários acontecimentos podem causar aos cidadãos normais situações extremamente desagradáveis, como  a necessidade de estoques de alimentos


Por Claudia L. Borio

Cá estou eu aqui novamente com a coluna sobre Sobrevivencialismo e com certeza algumas pessoas vão se perguntar – afinal, o que é isso? Pois bem, o Sobrevivencialismo é uma ciência, inicialmente desenvolvida por exércitos de várias partes do mundo, que ajuda as pessoas a escapar de situações de emergência e a sobreviver em condições difíceis. Imediatamente, a gente pensa naqueles shows em que uma pessoa fica isolada em uma ilha deserta com somente uma faquinha e uma panela, mas não é bem isso. Apesar desse aspecto anedótico ou até mesmo esportivo, o sobrevivencialismo é uma ferramenta extremamente útil em casos de emergências de diversos tipos. Sendo assim, vou falar um pouco de sobrevivência em caso de disrupção social.

Infelizmente, em um país que se orgulhava de não ter terroristas, temos visto recentemente que grupos armados de malfeitores podem causar muitas perturbações na ordem urbana. Vários acontecimentos que foram fruto da ação humana podem causar aos cidadãos normais situações extremamente desagradáveis que envolvem autodefesa, entrincheiramento em casa, fuga e até mesmo a necessidade de estoques de alimentos e/ou armas.
Não é muito fácil encarar o fato de que, com dez dias de uma greve de caminhoneiros, começa a faltar praticamente tudo em nosso país, especialmente, combustível e alimentos frescos. Quem não tem a menor preparação para sobrevivência, após três dias de greve, pode começar a passar problemas em casa.

Uma greve da polícia insatisfeita pode representar um dos perigos mais sérios pelos quais passamos. Há muitas discussões sobre a legalidade de tais greves e, na letra da lei, são consideradas ilegais. Mas, o fato é que acontecem em casos extremos, quando policiais ficam sem salário por vários meses, por exemplo.
Uma epidemia de grande extensão, que ainda não aconteceu, ou se aconteceu foi bastante bem controlada pelo nosso eficiente sistema público, também pode levar as pessoas passarem situações que exigem habilidades sobrevivencialistas.

E finalmente, outra situação extrema que pode ocorrer é a configurada por uma série de atentados violentos visando a perturbar as autoridades locais, deflagrados por bandidos de facções rivais. Esses atentados apavorantes, além de perdas materiais, mortes, lesões corporais e outros problemas gravíssimos, podem perturbar o comércio, levar a dificuldades de comunicação, levar pessoas a empreender fugas para outros endereços ou cidades e entrincheiramento em casa até que a situação melhore.

Portanto, como fazer para estar preparada como uma sobrevivencialista? As mulheres, geralmente, são ótimas sobrevivencialistas natas, pois possuem o senso do abastecimento da despensa e costumam pensar em termos de estoques domésticos. Mas o fato é que essa disciplina pode – e deve! – ser praticada por todos, homens, mulheres, idosos e crianças, sendo uma preparação para o bem-estar em caso de emergências variadas.

Para quem gosta, existem livros, sites, filmes no Youtube e também lojas especializadas em equipamento de sobrevivência, vendendo desde mochilas, botas, bolsas especiais para carregar suprimentos, bússolas, radiocomunicadores, roupas, camuflagens, e mil e uma coisas que podem ser úteis e interessantes.

Mas, voltemos para nossa sobrevivência e de nossa família em caso de uma emergência. O pensamento mais comum é: “ah, isso nunca vai acontecer conosco”. Pois nesse caso eu convido você a procurar nas notícias por fatos como esses que eu descrevo aqui e pensar no que você faria.

A primeira decisão importante a tomar é: quero me preparar para uma emergência? Como fazer isso? Quero aumentar a segurança de minha família? A partir dessa reflexão, a pessoa poderá perceber, por exemplo, que só tem um estoque de alimentos muito limitado e que serviria no máximo para três dias.

Outra decisão importante é: ficar em casa ou empreender fuga? Se você mora bem próximo de uma grande indústria química, por exemplo, um porto, uma barragem de rejeitos de mineração, um depósito de materiais inflamáveis, uma usina nuclear, um depósito de materiais recicláveis, pode ficar ciente de que ocorrem emergências nesses locais e que por vezes é necessário sair dali muito rápido. Mas, muito rápido mesmo! Pessoas que fogem de emergências químicas ou ambientais podem, literalmente, perder tudo em questão de minutos e ficar sem documentos, roupas, alimentos para si e para seu cachorro, remédios, fotografias, memórias do casamento e outras coisas que podem ser muito dolorosas.

Em caso de uma fuga apressada, é preciso usar a cabeça! Não adianta nada fugir de um incêndio de produtos tóxicos por uma rua que pode ficar bloqueada na mesma direção da fumaça. Use a cabeça por alguns segundos: para onde vamos? Como vamos? Estamos levando todos os membros da família? Pegue o estritamente necessário e VAZE. Pessoas morrem porque ficam tentando carregar coisas como televisões ou uma máquina de lavar roupas. NÃO. Não leve nada. Leve seu bebê, sua avó e seu cachorro e VAZE.

Se você já é um ou uma sobrevivencialista e sabe que mora em local de alto risco, talvez você já tenha sua bug-out-bag ou “bolsa de fuga” pronta, próxima da saída de sua casa. Essa bolsa tem um conteúdo bem simples – algumas comidas prontas para comer, cópias de seus documentos, uma peça de roupa, um pendrive com a parte mais importante do conteúdo de seu computador, uma boa garrafa de água, uma manta… Isso pode salvar vidas e evitar enormes problemas no futuro. Essa bolsa pode ficar dentro do seu carro, por exemplo, ou próxima do local de saída. E cada membro da casa terá uma bolsa, incluindo crianças e animais.

Agora, se você se defronta com uma emergência social e resolve ficar em casa, o importante é saber que essa é uma situação de sobrevivência e você deverá fazer de tudo para manter a segurança sua e de sua família. Para poder ficar em casa é preciso ter um pequeno estoque de alimentos – pequeno, porém variado, pois ninguém aguenta ficar dias e dias comendo somente arroz ou fubá. Você pode achar isso absurdo, mas em greves recentes já houve pessoas que ficaram ilhadas em casa e sem alimentos. Inclua temperos, doces, legumes em lata, picles, coisas que dêem sabor além de substância na comida. Use a imaginação e faça seu estoque aos poucos, comprando produtos em oferta e que duram bastante. Compre também produtos de limpeza e papel higiênico.

Verifique mentalmente e pense: para quantos dias tenho gás? Tenho uma caixa d’água grande? Tenho os remédios fundamentais? Tenho comidas para meu pet? Tenho velas e lanternas em caso de falta de luz? Minha casa é segura e bem fechada? Tenho como me garantir aqui dentro por alguns dias?

Também é preciso ver se você tem com o que se entreter caso falte a internet. Um velho ensinamento do exército é : mantenha a moral das tropas sempre elevada! Você não vai querer que as crianças fiquem doidas e nem você fique morrendo de tédio. Para isso é muito bom ter alguns livros e até mesmo aquelas enciclopédias antigas podem adquirir uma graça imensa. Afinal, livro funciona sem bateria e diverte durante muitas horas. Da mesma forma são os jogos, quebra-cabeças, lápis de cor, etc.

Parece bobagem? Mas imagina ficar com suas crianças ou idosos por uma semana, ilhados dentro de uma casa, sem ter o que fazer? Tem gente que prefere enfrentar um tiroteio a pensar nisso. É um verdadeiro teste para a resistência ou a imaginação e pode ser uma situação bem interessante depois de superada.

Finalmente, tem pessoas que nessas horas pensam logo em ter uma ou várias armas dentro de casa. Aprovadas, históricas, enferrujadas ou clandestinas, armas são um imenso problema. Elas são a primeira coisa que os bandidos procuram dentro de uma casa, junto com dólares e joias. Muitas vezes servem para matar o próprio dono. Se você tem certeza absoluta de que sabe usar uma arma e de que não teria o menor medo de usá-la, tenha sua arma. E não esqueça que as crianças são curiosas. Mas, muito curiosas mesmo! Ter uma arma em casa é um enorme perigo. Isso deve ser muito bem considerado.

E para terminar, o sobrevivencialismo não adianta de nada se você agir isoladamente. Enquanto você faz seu lindo estoque de alimentos, seu vizinho hostil pode estar tramando roubar tudo da sua casa. Se você pensa em se preparar de verdade para uma situação de emergência, conheça seus vizinhos, fale com eles, tenha seus telefones e alie-se a eles. Você não precisa ser amigo íntimo dos vizinhos, mas saiba quem são, procure saber como pensam, conte a eles que faz preparação e que é uma boa ideia fazer isso em conjunto. Em casos de emergência, estamos muito mais seguros em aliança do que em inimizade com vizinhos. Eles podem ajudar, proteger, vigiar e salvar a sua vida em muitas circunstâncias.

Se você é funcionário, proprietário de empresa ou servidor público, pode também iniciar um movimento de prevenção de desastres e de sobrevivência dentro de sua entidade ou empresa. Isso pode ser muito útil e realmente salvar vidas.

A vida em sociedade é cada vez mais complicada e repleta de perigos. Mas, com preparação podemos escapar de muitos deles de maneira mais tranquila. Boa sorte!

 

 

Claudia L. Borio é advogada, ativista ambiental, especializada em direito socioambiental e pratica o sobrevivencialismo.

curitiba de graca
curitiba de gracahttps://curitibadegraca.com.br
O portal Curitiba de Graça vem colaborar para que os moradores da capital e turistas possam aproveitar os eventos gratuitos (ou não!) que acontecem em Curitiba e Região Metropolitana.

3 COMENTÁRIOS

  1. Adorei a publicação. Lendo isso, me coloquei no lugar de alguém em apuros e percebi o quanro estou acomodado e despreparado. Na lista de coisas para passar o tempo, dá de incluir um baralho ou algum jogo de tabuleiro, caso hajam muitos membros. comidas enlatadas, conserva e, caso nao precise sair so local, uma horta vai bem também. E lembrar sempre dos outros também e não fazer igual o cidadão que, na greve doa caminhoneiros, comprou 45kg de arroz. Rs parabéns pela publicação!

    Att,
    CARLOS

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