Sobrevivencialismo: Sustentabilidade pessoal

Nós vivemos em uma comunidade onde é preciso pensar em todos, praticar a sustentabilidade pessoal. Mas, o que é isso? A nosso colunista e sobrevivencialista, Claudia Lopes Borio, explica para você.

 

Por Claudia Lopes Borio

É dever de todo sobrevivencialista pensar não só na sobrevivência de sua família, mas também dos seus vizinhos, da sua comunidade, da sua cidade, enfim, do seu mundo. De que adianta construirmos um bunker para uma emergência, onde ficaremos escondidos por dois ou três meses, e sair dele para um mundo devastado onde não haja mais alimentos ou água fresca? Ou onde haja somente seres humanos doentes e sofrendo? Que mundo seria esse? Evidentemente que isso funciona nos roteiros de filmes americanos, mas não é um mundo que queremos.

Por isso, hoje falo de sustentabilidade. Quando surgiu esse termo, sustentabilidade significava, em uma interpretação livre do termo, usar os recursos naturais de uma forma que eles continuassem existindo para nossos filhos e netos, ou seja, se vamos usar algo que existe na Terra, que esse algo possa continuar existindo e sendo usado. Infelizmente, ao longo dos trinta anos de existência da palavra, a sustentabilidade de nossa civilização se mostrou bem problemática. Estamos extinguindo ou dificultando o uso futuro de muitos de nossos recursos naturais e, além disso, o crescimento da população e as mudanças climáticas vão causar muitos outros problemas não previstos inicialmente. No entanto, alguma medida de sustentabilidade pessoal ainda é possível.

Mas, o que seria isso, sustentabilidade pessoal?

Na minha opinião, sustentabilidade pessoal é tentar usar os recursos naturais e criados pelo ser humano com maior respeito e parcimônia, sem, ao mesmo tempo, criar desemprego. Precisamos considerar que nossa cultura é toda baseada em consumo de bens e serviços e são pessoas que nos provêm essas coisas. Se pararmos de usá-las, possivelmente essas pessoas vão ficar desempregadas – e terão que achar outras coisas para fazer e sobreviver com dignidade. Portanto, o debate da sustentabilidade vai bem longe – tão longe que alcança até o nosso próprio emprego.

Vou começar com algumas medidas simples de sustentabilidade pessoal.

A primeira medida é usar o máximo possível qualquer coisa material que você tenha em sua casa. É surpreendente notar que quase qualquer eletrodoméstico estragado pode ser consertado. Máquinas de lavar, geladeiras, fogões, liquidificador, ferro de passar, secador de cabelo, enfim, quase tudo que é elétrico ou eletrônico pode ganhar nova vida se você tiver um pouco de paciência para procurar alguém que ainda faça esse serviço – e no Brasil podemos nos orgulhar de ter muitos consertadores eficientes! Mesas, sofás, cadeiras danificadas podem ser renovadas, trocadas peças, ficando lindas novamente! Qual a vantagem disso? Ora, menos lixo nos lixões, menos porcarias jogadas fora, menos recursos naturais empregados para fazer novos equipamentos, aparelhos, móveis, objetos e embalagens, e menos gastos para você, pois, com certeza, um aparelho ou móvel consertado custa menos de 1/3 de um novo.

A segunda medida é tentar fugir do vício do consumismo. Sim, digo vício, um vício estimulado ativamente por todos os meios de comunicação ao nosso redor desde que nascemos. Comprar tantas coisas é mesmo necessário? Sua cozinha precisa mesmo de trocentos mil acessórios, talheres, aparelhos, tábuas, panelas, mixers e processadores ou poderia funcionar super bem somente com as coisas básicas? Você precisa mesmo de uma tevê maior, quando a outra ainda funciona? Você precisa mesmo de um sofá novo, quando poderia mandar trocar o revestimento do antigo? Você precisa mesmo de um banheiro de mármore, quando o antigo ainda está bom?

Uma parte séria do consumismo são as roupas, acessórios e calçados. Pense nisso! Você precisa mesmo de 45 pares de sapatos ou poderia viver luxuosamente, variando com frequência e tendo elegância, somente com dez? Você precisa mesmo de mais de 30 camisas, quando somente usa seis delas? Não quer dar uma de Marie Kondo e jogar fora quase tudo o que tem? Reduza com sabedoria, mande um pouco para aquela parente menos privilegiada que mora no interior, destine a um asilo ou instituição!

Descubra os prazeres de comprar nos brechós – se você tem nojo ou nunca foi a um, que tal experimentar um brechó extrachique? Em São Paulo, por exemplo, existem brechós que só vendem roupas de grife super caras, tão caras que têm até segurança na porta. Pode ser uma surpresa ver como essas roupas que custavam tantos milhares de reais na loja original, terão seu preço bem reduzido após serem usadas uma, duas ou nenhuma vez. Uma das coisas mais surpreendentes de comprar em lojas de roupas usadas é ver a quantidade incrível de peças que evidentemente NUNCA foram usadas. Tudo isso deve nos fazer pensar: para que então comprar, se a pessoa nunca usou?
E há ainda os prazeres das trocas com amigas ou parentes, levar uma boa sacola de roupas, sapatos, livros, objetos e dizer “não preciso mais disso, quer trocar por algo”? Ou trocar brinquedos, coisas que as crianças adoram fazer, pois não são tão apegadas como nós e, assim, já começam a ver que o consumismo não é tão legal assim.

E a pergunta principal sobre o consumismo e tudo o que compramos e gastamos: você está fazendo isso porque precisa, porque te faz realmente muito mais feliz, ou está fazendo porque quer mostrar para sociedade que PODE, que tem dinheiro suficiente, que está ostentando? Até onde é mais importante TER do que SER?

A sustentabilidade também passa pelos aspectos tóxicos de coisas que consumimos, ingerimos ou até contratamos sem nos darmos conta de que estamos envenenando o mundo. Uso de produtos tóxicos dentro de casa (venenos, dedetização, tintas, solventes, desinfetantes de banheiro, aromatizadores, entre outros). Comidas cheias de conservantes e corantes cancerígenos. Remédios desnecessários e com contraindicações sérias. Estamos pensando no fato de que podemos estar nos envenenando e jogando fora água e esgoto também envenenados?

Existem produtos que são moralmente tóxicos também. Coisas com origens perversas, como por exemplo, roupas fabricadas por empresas que usam trabalho escravo, produtos que são obtidos destruindo o meio ambiente ou deslocando comunidades indígenas.

E finalmente, falando ainda em sustentabilidade pessoal, como está a sustentabilidade das pessoas que prestam serviços para você? Você está contribuindo para a sua comunidade? Você já foi até a casa daquela faxineira que limpa sua casa para ver como ela vive? Será que ela está se beneficiando mesmo do emprego que tem, será que você, com seu padrão de vida mais alto, está pensando na situação das pessoas que te prestam serviços? Para falar disso, me orgulho de mencionar sempre meus pais, que tiveram como regra, durante a vida, sempre ajudar seus funcionários a adquirir casa própria, concedendo pequenos empréstimos e, muitas vezes, perdoando algumas dessas parcelas para dar aquele empurrãozinho que as pessoas precisavam para ter seu lar. Conheci outro casal que comprou uma ferramenta cara e presenteou seu jardineiro. Custou muito para eles? Acho que não, e ganharam felicidade e gratidão que duram para sempre. No entanto, já conheci uma pessoa com curso superior e um bom emprego que reclamava da faxineira que abriu uma lata de leite moça para tomar com café, pois ela não tinha deixado o café da manhã. Ora, será que ela não sabia que dar condições para a pessoa trabalhar também é obrigação do patrão? Mas, além de tudo, sua atitude denotava uma grande desumanidade.

A compra de produtos feitos próximos de sua casa também é um aspecto bem interessante a ser considerado, pois além de você poder conferir de verdade como são feitos e o que eles levam de insumos, você garante empregos em sua comunidade. Já pensou nisso? Comprando frutas, verduras, ovos, carne, queijos de produtores próximos, você alimenta um ciclo de prosperidade perto de onde mora. E não é só isso: há roupas, sapatos, eletrodomésticos, móveis, louças, tapetes, enfim, uma infinidade de outras coisas que podem ter origem bem perto de onde você mora. Considere a origem das coisas que consome…

Enfim, o pensamento sobre como vivemos e o que consumimos é necessário para diminuir a destruição em nosso planeta e para obter condições de vida mais agradáveis e amenas no futuro. Não queremos viver em uma metrópole futurista de céus cinzentos, onde chova ácido sulfúrico e não haja mais nenhuma planta viva. Queremos um lugar feliz, onde existam praças, crianças brincando… e fontes de água limpa.

Claudia Lopes Borio é advogada, sobrevivencialista, membro da Comissão de Meio Ambiente da OAB-PR, especializada em direito socioambiental e acadêmica de Ciências Biológicas na UFPR.

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