Mulheres Paranaenses: Professora Betinha, referência no estudo das Escolas Normais

A professora Betinha atualmente é destaque nacional na área da História da Educação, em especial no que se refere à formação de professores no estado do Paraná

professora betinha
Foto concedida pela própria professora Maria Elisabeth, a Betinha

Por Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
A professora Maria Elisabeth Blanck Miguel, conhecida nos meios acadêmicos carinhosamente como Betinha, nasceu em Curitiba, no dia 07 de junho de 1941. Seu pai era funcionário federal do Exército e sua mãe, de origem alemã, geria os assuntos da casa e gostava de costurar para a vizinhança. Tiveram duas filhas: Betinha e Margarete, (hoje juíza aposentada do Estado de Mato Grosso). Para o casal, o que se podia dar de mais valioso às filhas era a educação, de preferência em colégios de irmãs, como forma de garantir seu futuro. Além da educação, a família valorizava o amor ao trabalho e à disciplina.
Para estimular a leitura na família, eram adquiridas coleções de livros como o Tesouro da Juventude, a Corte de D. João VI no Rio de Janeiro e tantos outros livros quantos fossem possíveis de adquirir. Com o mesmo cuidado, era tratada a alimentação da família: frutas, legumes e verduras da melhor qualidade sempre estavam disponíveis.
Em entrevista concedida às autoras, Betinha contou sobre sua escolaridade, iniciada no Grupo Escolar Presidente Pedrosa (no bairro Portão) e após, no Colégio Sagrado Coração de Jesus, dirigido por religiosas e localizado em Curitiba. Lembrou que, ao finalizar o curso ginasial, teve uma conversa com seus pais a respeito de sua escolha profissional. À época, no nível médio, havia duas possibilidades: o colégio, compreendendo o clássico e o científico; e o profissionalizante, composto pelos cursos Normal, técnico em Contabilidade, técnico Industrial, técnico Agrícola.
Para as mulheres, porém, o curso Normal era o que mais se adequava. E isso lhe foi dito por seus pais, que a orientaram a cursar a Escola Normal, que lhe daria uma formação para ser professora, permitindo-lhe trabalhar na área. Mais tarde, ao decidir pelo curso superior, deu continuidade aos estudos na esfera educacional e ingressou no curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná, o qual concluiu em 1964. Nesse período, correspondendo à expectativa social em relação às moças da época, Betinha se casou com o Dr. Stalin Passos, advogado e empresário, com o qual teve quatro filhos (Felipe Manoel, Gisele, Tatiana e Fernando Manoel). Continuou a exercer a docência após o nascimento dos filhos. E a estudar: em 1982, concluiu o mestrado em Educação, na Universidade Federal do Paraná. Posteriormente, divorciou-se, vindo a casar com o Sr. João Piragibe de Bakker Filho, psicólogo e professor universitário.
Betinha mencionou que, não obstante amasse o magistério, só se deu conta de que essa escolha não havia sido unicamente sua, ao escrever seu memorial para ingresso no curso de doutorado em Filosofia e História da Educação, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1989. E explicou: a opção pelo magistério não havia decorrido de uma opinião do pai ou da mãe, mas estava ligada à classe social à qual pertencia. Era o que se esperava que ela e outras moças que viviam à época, de mesma categoria social, fizessem. Como o casamento também estava no horizonte das moças, a opção pela profissão de professora surgia como a mais adequada: se o marido tivesse boas condições financeiras, a moça não precisaria trabalhar, e tudo estava resolvido; porém, se o trabalho dela fosse necessário para a manutenção da família, o magistério era a profissão perfeita, porque a moça trabalharia meio período e ainda teria tempo para cuidar da casa e dos filhos.
Fossem quais fossem as determinantes de sua escolha profissional, porém, Betinha “foi professora a vida toda”, como ela mesma referiu. Iniciou como professora auxiliar de ensino na Escola Isolada da Vila Pimpão (atual Escola Municipal Papa João XXIII – Ensino Fundamental), no Portão, em 1958, tendo trabalhado no ensino primário por 17 anos. Mais tarde, foi docente no ensino médio, com dois padrões, lecionando Fundamentos da Educação. Em 1971, tendo sido convidada para trabalhar na Universidade Federal do Paraná, pediu exoneração de seus dois cargos na esfera estadual, ingressando no magistério federal. Atualmente, aposentada da UFPR, é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR.
A professora Betinha atualmente é destaque nacional na área da História da Educação, em especial no que se refere à formação de professores no estado do Paraná. Com efeito, o livro que teve origem em sua tese de doutorado, intitulado “A formação do professor e a organização social do trabalho”, publicado pela Editora UFPR, em 1997, é obra de referência na área. Betinha é, também, coordenadora do Grupo de Pesquisa HISTEDBR/Curitiba, vinculado a grupos de pesquisadores em âmbito nacional. Em seus muitos anos de docência, exerceu diversos cargos administrativos, inclusive coordenando o Programa de Pós Graduação, Mestrado e Doutorado em Educação, na PUCPR, no período de 2008/2014 e participou de inúmeros eventos nacionais e internacionais. Publicou livros, capítulos de livros e artigos acadêmicos em periódicos qualificados na área. Orientou mais de quarenta dissertações de mestrado e vinte de doutorado, na pós-graduação stricto-sensu. Sua atuação acadêmica ultrapassa fronteiras: ela é professora colaboradora da Université Catholique de l’Ouest, localizada em Angers, na França.

Para saber mais:

Acesse o Currículo Lattes da professora Maria Elisabeth Blanck Miguel: http://lattes.cnpq.br/8090273140545543
Agradecemos à professora Maria Elisabeth pela entrevista que nos foi concedida e pela cessão da foto que ilustra a coluna.


Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.