Mulheres Paranaenses: Lala Schneider, a primeira-dama do teatro no Paraná

Em 52 anos de carreira, Lala Schneider participou de 99 peças, nove filmes, oito novelas e recebeu vários prêmios

Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
Lala Schneider nasceu em Irati, no dia 23 de abril de 1926. Ela é conhecida como a primeira-dama do teatro no Paraná e foi considerada uma das cinco melhores atrizes do Brasil (GAZETA DO POVO, 2007).
Suas origens estão na vinda de imigrantes alemães para o Brasil, no final do século XIX. O avô materno, Pedro Berg, era casado com Ana Mathiens e dedicou-se a fabricar ferramentas no Brasil. Os avós paternos, Guilherme Schneider e Selma Ilhon, casados na Alemanha, instalaram-se em Ponta Grossa, onde montaram uma frota de carroças para o transporte de erva-mate. O pai de Lala, Gustavo Schneider, trabalhava no transporte de erva-mate e faleceu cinco meses após seu nascimento. A mãe, Ottília Berg, era cozinheira e costureira de famílias da elite curitibana, o que influenciou Lala a investir em cursos de etiqueta, desejosa de abrir outros caminhos.
Em entrevista concedida a Oliveira & Liotto (2005), Lala contou que, quando nasceu, recebeu o nome de Esmeralda, mas seu pai não efetuou o registro, considerando a burocracia e o alto custo envolvidos nesse processo. Ela ficou sem documento até os 18 anos de idade, quando precisou da certidão de nascimento para trabalhar e solicitou a um amigo da família, que era vereador, que a ajudasse. O registro foi obtido, mas o amigo não sabia que o nome de Lala, na realidade, era Esmeralda. A partir daí, ela passou a se chamar, oficialmente, Lala Schneider.
O sonho de Lala era ser dançarina. Adorava ver Ginger Rogers e Fred Astaire no cinema. Assim, aos 9 anos de idade fez sua primeira performance, na pracinha da igreja do Cabral. Era uma loirinha de cabelo liso, mas imitava Carmem Miranda… Relembrou que “os padres cobravam 500 réis para quem quisesse falar ou cantar no microfone, e as pessoas pagavam para eu cantar” (OLIVEIRA & LIOTTO, 2005, p. 1). Disse que gostaria, também, de ter sido professora ou advogada, mas esses sonhos não puderam se concretizar por não ter tido oportunidade de estudar quando criança, em função da falta de documentos para se matricular.
Em Curitiba, desde a demolição do velho teatro Guaíra, na década de 40, não havia um espaço oficial para os artistas apresentarem seu trabalho. As montagens, então, eram encenadas nos salões de igrejas, escolas, sociedades beneficentes e palcos dos cines-teatro existentes na cidade (TEIXEIRA, 1992). Nesse contexto, o SESI (Serviço Social da Indústria) montou um grupo para levar teatro aos bairros, para os trabalhadores e suas famílias. Na época, Lala trabalhava no setor administrativo do SESI, onde ficou até se aposentar e, dessa forma, foi convidada para atuar no Teatro de Adultos da organização. Em fevereiro de 1950, estreou com a peça “O poder do amor”, de Nilo Brandão, na Sociedade Operária Beneficente do Batel.
Menciona Teixeira (1992, p. 3) que, entre 1951 e 1960, “51 grupos de teatro foram criados em Curitiba atuando, em sua maioria, como amadores, sem receber qualquer tipo de subvenção”.
Quando o Pequeno Auditório do Teatro Guaíra abriu suas portas ao público, no dia 25 de fevereiro de 1955, estava pronto o cenário para a profissionalização do teatro em Curitiba. “Autores, atores, diretores e técnicos ligados ao teatro paranaense foram unânimes em reconhecer que a inauguração daquela casa de espetáculos representaria para a classe, a oportunidade de ‘subsistir em sua própria casa’”. (TEIXEIRA, 1992, p.2).
Em 1959, com a reinauguração do Teatro Guaíra, que havia recebido melhoramentos do ponto de vista da acomodação da assistência e de ordem técnica, conta Teixeira (1992) que “o acontecimento teatral do ano ficaria com a realização de quatro espetáculos no Grande Auditório” […] “que abrigou no dia 25 de maio, a encenação do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, pelo Teatro de Adultos do SESI, de Curitiba”. E acrescenta que a peça – da qual Lala fazia parte -, foi “assistida por aproximadamente três mil pessoas, a montagem foi dirigida por Eddy Franciosi, entrando para a história do Teatro Guaíra como o primeiro espetáculo propriamente teatral ali encenado”. (TEIXEIRA, 1992, p. 109-110).
Na década de 60, Lala iniciou o trabalho na televisão, e se disse deslumbrada – além de muito atarefada – com tudo aquilo. Isso fez com que abandonasse o curso colegial, no segundo ano, e desistisse de vez de seu sonho de ser advogada (OLIVEIRA & LIOTTO, 2005).
Trabalhou na televisão de 1964 a 1972, anos marcados por muito trabalho e sucessos. Nesse período, aos 42 anos de idade, Lala manteve um relacionamento com um colega de televisão, do qual nasceu um filho, Eugênio, que lhe deu uma neta, Vitória.
Em 1978, começou a lecionar aulas de interpretação, como professora do Curso Permanente de Teatro do Guaíra. Entre seus alunos, constavam alguns nomes importantes do teatro paranaense e brasileiro, como Luiz Mello e João Luiz Fiani. No início dos anos 90, foi convidada pelo diretor Ademar Guerra para ir ao Rio de Janeiro estrear a peça “Mistérios Curitibanos”, baseada no texto de Dalton Trevisan. Dois anos depois, com duas novelas da Globo no currículo, voltou a Curitiba. Durante o tempo em que esteve fora, havia sido realizado um convênio do Teatro Guaíra com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná e o curso de teatro fora transferido para a universidade. Assim, ao retornar, ela passou a ser professora da PUCPR (OLIVEIRA & LIOTTO, 2005).
Segundo Lala, numa tarde, em agosto de 1993, o ator e diretor João Luiz Fiani passava pela rua Treze de Maio quando viu um barracão para alugar. Entusiasmado com a possibilidade de levantar ali o seu teatro, convocou os atores da sua companhia e, com apoio deles e da iniciativa privada, construiu o teatro, inaugurado em 23 de abril de 1994, ao qual deu o nome de Lala Schneider, homenageando a atriz. É o primeiro teatro independente do Paraná (OLIVEIRA & LIOTTO, 2005).
Lala fez inúmeras montagens e ganhou 16 prêmios, entre eles o Troféu Gralha Azul na categoria Melhor Atriz em 1984-1985 (“Colônia Cecília”) e em 1992-1993 (“O Vampiro e a Polaquinha”). Destaca-se sua atuação no teatro ainda em “Entre Quatro Paredes”, de Sartre, dirigida por Armando Maranhão (1959); e “Antes do Café”, de Eugène O’Neil, dirigida por Eddy Franciosi (1959). Ao todo, foram 99 peças, nove filmes e oito novelas em 52 anos de carreira. Lala trabalhou também na Rede Globo, fazendo participações em novelas como “Lua cheia de amor” e “Felicidade”, além da minissérie “Tereza Batista”. No cinema, Lala dava preferência aos cineastas paranaenses. Ela fez “Guerra dos Pelados”, “Aleluia Gretchen” e “Making of Curitiba”, de Sylvio Back, “O Cerco da Lapa”, de Berenice Mendes, “Maré Alta”, de Egídio Élcio, entre outros (GAZETA DO POVO, 2007).
Em 2004, Lala Schneider recebeu, do Centro Cultural Teatro Guaíra, a Medalha Comemorativa dos 50 anos do Guairinha (Auditório Salvador de Ferrante), homenagem concedida às personalidades que fizeram parte da história do teatro paranaense. Ela teve uma vida intensa, uma trajetória brilhante como artista e fez jus a muitas homenagens.
Fora dos teatros e das telas, encontrou um outro palco para fazer arte: a cozinha. Em datas especiais, reunia a família para saborear os pratos elaborados com receitas herdadas da avó e suas duas grandes especialidades: bacalhau e barreado (OLIVEIRA & LIOTTO, 2005).
No dia 28 de fevereiro de 2007, Lala Schneider faleceu, aos 80 anos, na casa onde morava com seu filho e neta. Foi velada no Teatro Guaíra, em cujo palco atuou, durante tanto tempo, com intensidade e paixão.
Referências:

 

Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.

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