Mulheres Paranaenses: Eny Caldeira, por uma educação mais bela e humana

Conheça a história de Eny Caldeira, a primeira mulher a ocupar a direção do Instituto de Educação do Paraná

eny caldeira
Eny Caldeira. Foto: Galeria dos ex-diretores do Instituto de Educação do Paraná́. Saguão do Instituto de Educação do Paraná́.

Por Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
Nascida em Prudentópolis, no centro-sul paranaense, em 23 de janeiro de 1912, filha de Alfredo Caldeira e Julia Durski Caldeira, Eny Caldeira não foi o único membro da família a obter destaque no âmbito educacional. João Paulo de Souza da Silva – pesquisador que dedicou sua dissertação e tese de doutoramento a analisar a trajetória da professora – conta que o bisavô materno de Eny, “o músico e educador polonês Jerônimo Durski, considerado o pai das escolas polonesas no Paraná” (SILVA, 2015, p. 42) poderia ter gerado simbolicamente uma herança de tradição familiar que fora incorporada pela docente.
Os primeiros anos da vida de Eny foram marcados por mudanças e pelo encontro com a finitude da vida. Após a morte do primogênito da família, deixou a cidade de Prudentópolis junto com seus pais e suas três irmãs, a bordo de carroções, em direção à Ponta Grossa. O assassinato de seu pai, quando Eny tinha 12 anos à época, foi o motivo do deslocamento da família para Curitiba. A mudança para Curitiba era rememorada por Eny como um período de dificuldades financeiras, mas de esforços da mãe para manter a escolarização das filhas.
Apesar das dificuldades iniciais a formação e trajetória profissional de Eny Caldeira foram dedicados à educação. Formou-se na Escola Normal Secundária de Curitiba, em 1935; licenciou-se em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Paraná no ano de 1941; e tornou-se Docente Livre em Didática, em 1975. No início dos anos de 1950, participou de curso sob a orientação de Maria Montessori e estagiou no Instituto Jean Jacques Rousseau de Genebra.
Quanto à carreira profissional, Eny exerceu os cargos de: professora primária em Curitiba, entre 1937 e 1944; Diretora do Instituto de Educação do Paraná́, entre 1952 e 1954; pesquisadora no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (INEP), entre 1956 e 1960); Membro do Conselho Estadual de Educação, entre 1965 e 1970; Diretora do Departamento de Pedagogia da Faculdade Federal de Filosofia, entre 1964 e 1968; Coordenadora dos Programas de Educação na Universidade Volante do Paraná, nos anos de 1961,1968,1969 e1970; e professora da Universidade Federal do Paraná, entre 1960 e 1991.
No entendimento de Silva o fato de Eny ocupar a direção do Instituto de Educação do Paraná, no ano de 1952, foi uma vitória da mulher paranaense. Silva (2012) explica que Eny foi a primeira mulher a assumir a direção da mais tradicional instituição de formação de professores do estado e a primeira egressa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que desempenhava tal função. O convite para o cargo foi oriundo de Bento Munhoz da Rocha Neto, governador no período, que almejava estampar uma aura de modernidade em sua gestão e a nomeação de uma docente, com formação superior e com cursos em São Paulo e no exterior, eram condizentes com seus planos de governo. Eny possuía os atributos formativos dignos da confiança do governo. Durante a direção da docente frente ao Instituto de Educação do Paraná, novas propostas pedagógicas foram implementadas modernizando ações na educação das normalistas e das crianças.
Diante dos cargos oficiais que ocupou e das circunstâncias favoráveis, Eny pode empreender ações modernizadoras na educação. No âmbito do espaço público, em que atuou e produziu, Eny “ buscou intervir e impor seus pontos de vistas e ao mesmo tempo obter aceitação de suas propostas por seus pares” (SILVA, 2015, p. 17). Sua dedicação e rede de relações promoveram a aproximação com grandes educadores do período, como por exemplo Maria Montessori, Jean Piaget, Anísio Teixeira e Erasmo Pilotto.
A professora é representada, por aqueles que tiveram a oportunidade de conviver, trabalhar e formar-se com ela, como Dona Eny. Na narrativa destes não falta palavras de respeito, admiração e carinho por esta grande mulher da educação paranaense. A exemplo de ex-aluna e ex-colega de trabalho a professora Maria Elisabeth Blanck Miguel salienta que a professora Eny Caldeira “marcou a vida de seus alunos, imprimindo-lhes, indelevelmente, a crença no valor da educação. Como pessoa, profissional e pesquisadora, ela foi, sobretudo, educadora comprometida com a Educação brasileira” (MIGUEL, 2016, p. 315).

Para saber mais

  • MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. Nota biográfica em comemoração ao nascimento de Eny Caldeira. Educar em Revista, Curitiba, n.62, oct.dec., 2016. https://doi.org/10.1590/0104-4060.49144
  • SILVA, João Paulo de Souza da. “Uma vitória da mulher paranaense”: à frente do Instituto de Educação do Paraná. 9º. Seminário de Pesquisa em educação da Região Sul – ANPED Sul. Anais… Universidade Caxias do Sul, 2012. Disponível em http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/449/37?fbclid=IwAR39xodwoAa9eCA0mQM95G7tOJSbT6lxfiwagiRx2PvRhuTOWwmcheNFdrE
  • SILVA, João Paulo de Souza da. Percursos entre modernidades: trajetória intelectual da educadora Eny Caldeira (1912-1955). Curitiba: Appris, 2015.
  • SILVA, João Paulo de Souza da. Sob o signo da modernidade: educação e psicologia na trajetória intelectual de Eny Caldeira (1912-2002). 347 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2018.


Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.