Maria Falce de Macedo – primeira médica do Paraná e prima catedrática do Brasil

Maria Falce de Macedo fez parte da primeira turma da Faculdade de Medicina da UFPR e tornou-se professora na instituição

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Foto: Universidade Federal do Paraná (2020)

Por Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
Nascida em Curitiba em 15 de janeiro de 1897, Maria Falce de Macedo foi a primeira mulher a formar-se em Medicina no Paraná, em 1919. Entretanto, seus contatos com a anatomia tiveram início muito antes de seu ingresso na Universidade do Paraná.
Maria era filha de Pietro e Philomena, proprietários da Empresa Funerária Falce, que providenciavam pompas fúnebres na cidade curitibana. De acordo com os escritos de Rafael Greca de Macedo (2016), contidos no livro intitulado Curitiba Luz dos Pinhais, Maria e sua família residiam no andar superior do prédio onde funcionava a funerária. O amplo armazém térreo abrigava o depósito de caixões, além de possuir estábulos para acolher os cavalos e as carruagens para os ritos fúnebres. Pode-se imaginar que, desde sua tenra infância, a morte e suas causas foram temas bastante observados por Maria.
Seus interesses puderam ser expandidos com a recém-formada Universidade do Paraná, na qual ingressou em 1914. Maria compôs o corpo discente de 15 alunos, da primeira turma da Faculdade de Medicina, conta o diretor do Museu da História da Medicina da Associação Médica do Paraná, Ehrenfried Othmar Wittig (2011). Sobre o período de faculdade, Maria dizia que as demais moças curitibanas não falavam com ela, uma vez que “era feio” uma mulher mexer em cadáveres nus na presença de homens, relata Rafael Greca de Macedo (2016). Apesar dos desafios para com a sua escolha profissional, Maria foi a primeira mulher a formar-se em Medicina no Paraná.
O percurso das mulheres para o ingresso no ensino superior foi atribulado no Brasil. A historiadora Fúlvia Rosemberg (2016) narra que decorreram 79 anos da fundação da primeira instituição de ensino superior no Brasil para que Rita Lobato se graduasse na Faculdade de Medicina da Bahia no ano de 1887. Dentre os obstáculos, encontra-se que o direito à mulher para estudar nas instituições do país de ensino superior só foi garantido no ano de 1879, com a Lei Leôncio de Carvalho. Outro entrave advém do número de mulheres alfabetizadas, pois somente 11,4% da população de brasileiras eram alfabetizadas nos anos de 1890. Assim, por mais que houvesse o direito à educação de nível superior, apenas uma minoria estava capacitada a cursá-la.
Mesmo não sendo uma carreira tradicional para mulheres, outras curitibanas seguiram os passos de Maria. A dissertação de Ana Maria Ganz (1994), que se dedicou a estudar o trabalho feminino em Curitiba, demonstra que nas décadas de 30 e 40 do século XX, seguindo o caminho aberto pela Dra. Maria Falce de Macedo, cada vez mais curitibanas estavam se diplomando numa profissão considerada como reduto masculino. Como medicina era um curso que requeria altos investimentos financeiros, as filhas de famílias mais abastadas encontravam na medicina sua profissão e “[…] iniciaram-se num setor pouco tradicional do trabalho feminino” (GANZ, 1994, p. 15). Com o decorrer dos anos, a profissão passou a ser valorizada e reconhecida socialmente.
Porém, ainda era visto com muita estranheza uma mulher como médica logo nos anos posteriores à formação da Dra. Maria Falce de Macedo. Nos jornais do período, encontram-se apenas anúncios para médicos homens e suas especialidades. Quanto à Dra. Maria Falce de Macedo, casou-se com seu colega de turma, José Pereira de Macedo, e aceitou a regência da disciplina de Química Orgânica e Biologia Médica dos cursos de Medicina e Farmácia da Universidade do Paraná logo após sua colação de grau. No ano de 1929, após o concurso de títulos e provas, ela conquistou um novo feito, ou seja, assumiu a cátedra da disciplina de Química Fisiológica e tornou-se a primeira mulher a ocupar uma cátedra universitária no Brasil, conforme narra Ganz (1994). Em sessão solene da Universidade Federal do Paraná, Dra. Maria Falce de Macedo recebeu o título de “Professora Emérita” das mãos do reitor José Nicolau dos Santos, como conta Greca (2016). Diante da impossibilidade de abrilhantar os consultórios, Maria Falce de Macedo fulgurou nos espaços universitários.
Dra. Maria Falce de Macedo também foi pioneira em outra questão: ela e seu esposo fundaram, no ano de 1922, o primeiro laboratório de análises clínicas do estado do Paraná. Para atualizar-se e especializar-se na área de análise clínicas, Dra. Maria fazia cursos em outros estados do país e, nesse entremeio, produzia trabalhos acerca de suas pesquisas. Depois de mais de 20 anos de funcionamento, o laboratório foi vendido para os colegas Dra. Fany Frischmann e Dr. Oscar Aisengart, como conta Wittig (2011).
Após o falecimento do seu companheiro, no ano de 1965, Dra. Maria Falce de Macedo foi morar com seu filho e seus netos em uma chácara. A primeira médica paranaense, primeira catedrática brasileira e fundadora do primeiro laboratório de análises clínicas do estado do Paraná (em conjunto com seu esposo) faleceu em 24 de abril de 1972, mas deixou seu legado para gerações futuras.

Para saber mais:

 

 
Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.

  1. Belissimo resumo, gostaria de fazer apenas uma correção O nome do pai da Dra Maria Falce era Pedro e não Pietro . Que foi um dos pioneiros no serviço funerário municipal.
    Com relação ao laboratório foi criado também como campo de estágio para as novas estudantes. A Dra Fani além de amiga foi estagiária da Dra Maria Falce De Macedo.

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