Livro faz uma imersão no conceito da escritora mineira, reunindo o olhar de especialistas de diversas áreas
A Escrevivência, conceito criado pel escritora mineira Conceição Evaristo há 26 anos, é analisada em um livro que acaba de ser lançado pelo Itaú Social em parceria com a MINA Comunicação e Arte. “Escrevivência: a escrita de nós – Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo” se propõe a trazer novos olhares para esse conceito criado pelo autora das obras “Ponciá Vicêncio”, “Becos da Memória”, “Olhos D’Água”, entre outros.
Lançada durante o seminário virtual “A Escrevivência de Conceição Evaristo”, ocorrido em novembro passado, a publicação está disponível por tempo limitado para acesso virtual gratuito a partir de preenchimento do formulário de interesse AQUI.
Organizado por Isabella Rosado Nunes, diretora da MINA Comunicação e Arte, e Constância Lima Duarte, professora de pós-graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Minas Gerais, o livro reúne especialistas em literatura, educação, comunicação e escritores da literatura negra contemporânea.
Com 15 capítulos, a obra apresenta ensaios e opiniões em cinco dimensões: histórica, teórica, crítica, autobiográfica e relacionada ao letramento literário que a Escrevivência propicia. “Pesquisar e estudar a Escrevivência de Conceição Evaristo nos permite compreender uma complexidade que se expressa nos espaços literário, político e histórico. É ato de garantia de direitos, de formação. É acreditar que toda pessoa tem algo para compartilhar; e que, ao registrar ou publicar, promove sentidos, reconhecimentos e uma compreensão de vida livre e ampla, essencial para que se conheça e se respeite uma sociedade tão diversa”, explica Isabella Rosado Nunes.
Estudo da Escrevivência
O livro inicia com o capítulo “A Escrevivência e seus subtextos”, que traz um depoimento inédito de Conceição, descrevendo o surgimento da narrativa e como ela vem influenciando a escrita das mulheres negras, assim como o estudo da literatura nas universidades. A escritora fala ainda sobre a identificação a partir do ponto de vista da etnia e do gênero.
Outro parte marcante da obra é o texto “Da grafia-desenho e Minha Mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita”, um registro simbólico de criação da Escrevivência, apresentado pela primeira vez em 1995, durante o VI Seminário Mulher e Literatura, organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre os artigos, a “Escrevivência em Conceição Evaristo: armazenamento e circulação dos saberes silenciados”, de Rosane Borges, jornalista e doutora em ciências da comunicação, defende a Escrevivência como princípio conceitual-metodológico potente para suportar as narrativas dos excluídos, já que considera as várias matrizes de linguagem para construir uma história.
Fernanda Felisberto, doutora em literatura comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no artigo “Escrevivência como rota de escrita acadêmica”, apresenta o termo como operador teórico para jovens estudantes negras.
A publicação traz ainda ensaios relacionados à educação, assinados pela superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, e coordenadora de Engajamento Social e Leitura da instituição, Dianne Melo, além de artigos inéditos de Assunção de Maria Sousa e Silva, Denise Carrascosa, Eduardo de Assis Duarte, Islene Motta, Lívia Natália, Ludmilla Lis, Maria Aparecida Salgueiro e Maria Nazareth Fonseca. A designer e artista plástica Goya Lopes completa a obra com uma intervenção artística na literatura de Conceição, a partir de sua arte afro-brasileira.
“O conceito da Escrevivência deve ser universalizado para que todos possam, sem distinção de raça ou condição socioeconômica, se apoderar da linguagem escrita e dos mecanismos culturais e sociais de que necessitam para serem cidadãos atuantes nessa sociedade em constante transformação”, ressalta Angela Dannemann.
Oficinas de Autores
O livro é um dos resultados do “Projeto Oficina de Autores – Memórias e Escrevivência de Conceição Evaristo”, que apoia o desenvolvimento teórico do conceito-experiência e estimula a aproximação de pessoas à leitura e à escrita como direito. De 2018 a 2020, o projeto aconteceu nas redes de bibliotecas comunitárias associadas à RNBC (Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias) nas cidades de Belém (PA), Recife (PE), São Luís (MA), Salvador (BA), Duque de Caxias, Nova Iguaçu (RJ), São Paulo e, virtualmente, para as redes de bibliotecas de Belo Horizonte, Sabará (MG), Paraty (RJ) e Fortaleza (CE).
Nessas oportunidades, Conceição ministrou oficinas para mediadores de leitura, bibliotecárias, professores, educadores e jovens. Debateu sobre a importância da leitura e da escrita como possibilidades de reconhecer a voz dos mais variados grupos sociais.