Especial Dia do Escritor – Fazer um livro é igual receita de bolo?

Revisores destacam características de uma boa obra

como fazer um livro
“Pastrix – A Revolução de uma Santa Pecadora”, de Nadja Bolz-Weber, traduzido por Letícia Ferreira e Revisão e “Destino Cataratas do Iguaçu – Novecentos quilômetros de caiaque e aventura”, revisado e editado por Adamastor Marques. Foto: Divulgação

Por Kristiane Rothstein
Meia xícara de óleo, três cenouras médias ralada, quatro ovos, uma xícara de açúcar, três xícaras de farinha de trigo e uma colher de fermento em pó. Essa é a base de uma receita de massa de um bolo de cenoura. Embora existam pessoas que mesmo com uma receita detalhada não tenham o mínimo de talento para a culinária, o fato é que uma lista com tudo destrinchado ajuda muito, especialmente aqueles que descobriram a cozinha só agora na quarentena. Mas, e no caso de um livro? Será que há receita, especialmente para um mercado que, no Brasil, não é um dos que mais crescem?
De acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro de Livros, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores e realizada pela Nielsen Book, em 2019 o mercado livreiro apresentou um aumento nas vendas de 6%, no entanto, soma um decréscimo no faturamento total na análise de 14 anos, de 2006 a 2019, de 20%. Apesar dos desafios, obras classificadas como gerais apresentaram um crescimento de 15% de vendas ao mercado e 28% nas vendas totais, que abrangem as vendas para o mercado e para o governo.

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Além do mercado tradicional de livreiros, tem crescido no país o mercado de autopublicação. O Clube de Autores, que se apresentam como a maior plataforma de autopublicação da América Latina, já representa 15% do total de livros publicados no Brasil.
O mercado de leitores no país ainda tem muito a crescer. Segundo a mais recente pesquisa “Retatos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro e Ibope Inteligência, de 2015, 44% da população é formada por não leitores, ou seja, quem não leu, ao menos, um livro ao fim de três meses. O levantamento mostrou que as principais motivações para ler são: 25% é por gostar desse hábito, 19% por atualização cultural ou conhecimento geral e 15% por distração.

A pesquisa aponta ainda que o que mais influencia a escolha por um livro são: para 30% dos entrevistados, o tema; para 12% o autor; e para 11% o título, também o mesmo percentual para capa e ainda para dicas de outras pessoas.

Com esses dados em mente, voltamos à pergunta inicial: há uma receita de bolo para um bom livro?
Adamastor Marques, revisor requisitado no mercado livreiro paranaense, com experiência de mais de 30 anos em jornal diário e literatura, explica que é possível observar algumas características comuns a boas obras. “A naturalidade, a originalidade, a simplicidade de contar a sua história com clareza é que fazem o autor carregar a escrita com vivências, emoção, dramaticidade, numa mistura de poesia e prosa (quando não sozinhas, poesia está na prosa e prosa está na poesia), criando um clima de curiosidade e cumplicidade no seu leitor”, avalia.

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Para o revisor Adamastor Marques, atrair o leitor pela curiosidade e a cumplicidade é fundamental. Foto: Acervo Pessoal

Marques considera que atrair o leitor, pela curiosidade e a cumplicidade, é fundamental. “O escritor sabe que precisa conquistar o leitor a todo instante, ser persistente, pois será vitorioso saber se eu, leitor, saboreei o texto até o fim. Se cheguei ao fim da leitura é porque, a cada instante, a cada passagem, algo (conhecimento e aprendizado) foi acrescentando em mim. Desse modo, também saí vitorioso. Esse é objetivo de um livro: entreter, ensinar, emocionar. Ler é ver, sentir e viver!”, ensina o revisor.

O coautor

Tão necessários quanto o pinhão para invernos curitibanos é o revisor para o escritor. Como disse Luis Fernando Veríssimo, “o revisor é a pessoa mais importante na vida de quem escreve. Ele tem o poder de vida ou de morte profissional sobre o autor. (…) Toda vez que manda um texto para ser publicado, o autor se coloca nas mãos do revisor, esperando que seu parceiro não falhe.”
E muitas vezes é na falha que se lembra do revisor, que pode ficar despercebido em 90% do texto, mas aí, deixou passar uma crase ou uma vírgula. Quem é revisor há tanto tempo está acostumado com a importância, embora, muitas vezes, não percebam a sua presença.

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A revisora Letícia Ferreira se afasta de tudo e de todos para fazer as revisões. Foto: Acervo Pessoal

Por isso, para Letícia Ferreira, também revisora e mestre em Letras com dissertação em Literatura, o trabalho de revisor também requer um ambiente de trabalho adequado. “Costumo me afastar de tudo e todos que possam me distrair e focar exclusivamente o texto. Nem música escuto. Fico em um lugar confortável e, como se trata de trabalho, procuro não ficar lendo por longos períodos sem interrupções.”
Adamastor destaca detalhes que muitos não veem. “De grande responsabilidade, o meu trabalho busca não só a correção gramatical, ortográfica e linguística, mas também organizar, coeso e claramente, o texto. Nesse afã ainda, atento a outras questões, não relacionadas ao idioma, como as de conhecimentos gerais. Sou um anônimo, mas tenho grande responsabilidade”, reconhece.
Ele lembra que é função do revisor também se colocar no papel do leitor, por isso, sempre que necessário questiona o autor e propõe sugestões. “Também me coloco no lugar do leitor: se ele vai entender o que está se passando… Em questão aqui, a clareza do texto e da informação ali contida. Enfim, propiciar a boa qualidade textual atrai mais leitores”, explica.
Como alguém que começou a ler ao sete anos, Letícia lamenta que muitos não tenham desenvolvido o gosto pela leitura. “Penso que minha vida seria muito mais pobre, muito mais, se eu não gostasse de ler ficção desde criança. É uma pena pra humanidade que tanta gente não tenha acesso a esse gosto”, comenta a revisora.
 
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