Escritora curitibana participa de reflexão internacional sobre o mundo pós-pandemia

Projeto “Pensando o Amanhã”, do Goethe-Institut, tem a participação de escritora curitibana Bebeti do Amaral Gurgel, que lançou seu olhar sobre como será o planeta pós-coronavírus

 


A escritora curitibana Bebeti do Amaral Gurgel é uma das intelectuais convidadas a participar do projeto “Pensando o Amanhã”, do Goethe-Institut, que propõe uma reflexão sobre o que ocorrerá no mundo após a pandemia do novo coronavírus. Seu texto, em forma de depoimento, será divulgado neste link. Em inglês e alemão já está disponível AQUI.
Bebeti conta que está em isolamento social há quase cem dias e optou por fazê-lo sozinha. “Não saio de casa há 96 dias, peço comida e o que preciso é entregue na minha casa”, conta. Para preencher seus dias, busca o exemplo de seus ídolos. “Livros, filosofia e vinho me ajudam e me inspiram, assim como escritores e escritoras, atores e atrizes que admiro. O Anthony Hopkins, por exemplo, com seus 82 anos, está fazendo isolamento social apenas com seu gato. Não quis passar com a família. O Mark Ruffalo chegou a alugar um quarto em um hotel vazio e o transformou em estúdio.”
No projeto do Goethe-Institut, Bebeti, assim como outros intelectuais, entre eles, músicos, filósofos, historiadores, poetas, tentam, a partir da vivência de cada um, projetar como será o planeta assim que for encerrada a necessidade de isolamento social e a maior crise sanitária já vivida pelo planeta Terra. O exercício de reflexão futura parte da pergunta: O que será do mundo pós-pandemia?

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“Acho que o caráter das pessoas vai sair do armário nesse isolamento. Quem são os amigos que ligam para saber se a gente está bem, se precisa de alguma coisa. Celebridades também estão mostrando seu caráter, quem é solidário, quem é egoísta. Carolina Ferraz é uma atriz que nunca dei muita importância porque não assisto novelas, mas ela me surpreendeu. O caráter dela saiu do armário quando convidou um médico para explicar sobre higienização. Agora ela comprou uma máquina de costura para aprender a costurar máscaras para doação. A generosidade dela saiu do armário” diz Bebeti do Amaral Gurgel.

A transformação pela arte

Angela Su, artista de mídia e performer de Hong Kong, não acredita em mudanças radicais no comportamento humano pós-pandemia enquanto a sociedade ainda estiver enraizada em conceitos neoliberais, capitalistas e patriarcais. Ela teme uma guerra por recursos naturais, dependência ainda maior da internet e China e Rússia em luta para se tornar o país mais poderoso do mundo. Mas vê esperança na beleza, expressa na maneira em que a arte pode emocionar e transformar um indivíduo. “Continuo com a ilusão de que a arte de alguém, ou até mesmo meu trabalho, possa tocar uma pessoa em um canto remoto do mundo e fazer com que essa pessoa traga mudanças capazes de salvar a humanidade”. Leia o depoimento AQUI.

Treinador elíptico

A escritora tcheca Petra Hulová cita o filósofo também tcheco Václav Bělohradský para refletir sobre o momento e o que há de vir passada a pandemia. Václav definiu certa vez que uma crise deveria nos permitir a escolha entre catástrofe e alternativas. “O que estamos todos experimentando no momento é um empurrão nos limites da nossa imaginação”, acredita Petra. “Sempre nos foi dito que vivemos em um sistema que não pode ser mudado, para o qual não há alternativas. No entanto, agora vemos como a vida pode mudar radicalmente em questão de dias. Essa experiência em si é valiosa”, aponta. Para ela, a esperança está no potencial de mudança. Ela entende haver conexões entre o capitalismo, mudança climática e o covid-19, sendo o vírus a “personificação de uma natureza e uma sociedade doentes”. “O coronavírus é nosso treinador elíptico, nos ensinando a ver o mundo e a nós mesmos sob uma nova luz. Se ele não nos quebrar, vai nos fazer mais fortes”. Leia o depoimento AQUI.

Lidar com o luto

Ciente de que o número de mortos em alguns países da América Latina deve ficar na casa dos milhares – se não dos milhões – a filósofa mexicana Julieta Lomelí entende que o saldo final de vítimas deve causar um impacto indelével na saúde mental das populações. Fundamental para o enfrentamento da covid-19, o confinamento social também tem um preço a ser pago, não só econômico. E isso tem se refletido em seu país, onde boa parte da economia está pautada no comércio informal. “No longo prazo, a generalização da dor da perda de membros da família forçará o Estado a dedicar mais atenção e um orçamento maior a questões de saúde mental”, avalia. Neste caso, Julieta entende que o desafio imediato do México e também da América Latina será o de aprender a lidar com a morte em larga escala, superar o luto e lembrar que a recessão econômica, em algum momento, vai passar. “Uma consequência positiva será a exigência, vigilância e mobilização de cidadãos para que o Estado garanta o direito à saúde e faça da assistência médica um serviço universal e gratuito, independentemente da classe social.” Leia o depoimento AQUI.

Desejo insistente de viver

Vivendo no país em que o governo federal se coloca contra as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o artista soteropolitano Tiago Sant’anna vê com dificuldades fazer uma previsão do que será o mundo pós-pandemia. “Mas um fator é quase certo”, constata: “as desigualdades irão aumentar razoavelmente. As medidas para as pessoas mais pobres são limitadas. As campanhas de doação e as ações de filantropia não serão suficientes porque precisamos de políticas sociais mais profundas e efetivas – em curto e longo prazos”, lamenta. Apesar do desalento com que a realidade atual se apresenta, o artista vê que a superação a essa crise sanitária sem precedentes virá por meio de “lutas diárias, do senso comunitário que nos une e do desejo insistente de viver.” Leia o depoimento AQUI.

De volta à caverna

O jornalista alemão George Seesslen retorna à alegoria da caverna, de Platão, para apontar o momento atual, em que “somos dobrados novamente e, enquanto podemos esperar por um novo desdobramento, isso não é uma situação tão miserável. Mas quanto tempo dura essa espera? E que poder ganha a impaciência?”, questiona. Embora ainda veja o mundo enfrentando crises diferentes – a “matriosca” (uma crise dentro de uma crise); a “teoria da idade das trevas” (ascensão de doutrinas de salvação e redenção e teorias da conspiração; ameaça de uma ampla catástrofe ecológica; guerras civis como um estado permanente) e a própria crise do coronavírus, que une as crises entre si enquanto aparenta encobri-las – sua esperança está na libertação do sujeito que pensa criticamente. E que pode ser ele o agente provocador da mudança no mundo a partir do isolamento.  Leia o depoimento AQUI.
Mais informações do Goethe-Institut Curitiba no site https://www.goethe.de/ins/br/pt/index.html.
 
 
 
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