Antes de ser gravada por Caetano Veloso, o sucesso “Sozinho”, de Peninha, foi rejeitado por um famoso cantor romântico e gravado por duas supervozes da MPB
Por Irma Bicalho
Quando ouvimos nossas canções preferidas, nem sempre sabemos os detalhes que a envolvem. Quem a compôs, qual a inspiração que a trouxe ao mundo ou por quais situações ela teve que passar até chegar nos nossos ouvidos. Muitas músicas têm boas histórias, que merecem ser contadas. É sobre isso que vamos tentar mostrar nessa série, que começa com um grande sucesso do cantor e compositor Peninha.
O pai xereta
A música “Sozinho” foi inspirada numa briga de namoradinhos adolescentes. A filha de 14 anos do compositor estava ao telefone discutindo com o namorado. O pai percebeu que a filha não estava bem e foi conferir o que estava acontecendo, ouvindo a conversa pela extensão. Nossa, você achou invasivo? Mas “quando a gente gosta é claro que a gente cuida”… E foi inspirado nos sentimentos daqueles dois pombinhos em conflito que nasceu esta bela canção.
Quando o Fábio pisou na bola
Caso você não saiba, Peninha compôs um dos maiores sucessos de Fábio Júnior, a música Alma Gêmea. Foi por isso que Guto Graça Melo, produtor de Fábio, pediu ao compositor mais uma música para o próximo disco, esperando, é claro, emplacar outro hit de peso como “as metades da laranja”. Peninha lhe enviou a canção “Sozinho” e foi só bater o ouvido que Fábio Júnior logo exclamou: “Não gostei, não é isso que eu quero”. Melo ainda tentou convencê-lo, dizendo que aquela canção tinha tudo para virar um hit. Mas, não adiantou.
Sozinha rumo ao sucesso
Ainda bem, pois Melo, apaixonado pela canção, a apresentou ao vozeirão de Sandra Sá. Essa, sim, adorou a música e foi a primeira intérprete a gravá-la, em 1996, no disco “A lua sabe quem eu sou”. Uma curiosidade: a música originalmente foi chamada de “Sozinha”, no feminino, como aliás está registrada no ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).
Esse disco de Sandra Sá, que passava por uma onda de baixas vendas, foi um estouro. Vendeu 800 mil cópias (Toma Fábio Júnior!). Foi um sucesso tão grande que Peninha chegou a ligar para Sandra em dezembro, só para agradecê-la pelo Natal gordo que ele teria naquele ano, graças à gravação de sua música.
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Mas não parou por aí. Quem também adorou a composição foi o grande Tim Maia. Ele ligou para Peninha pedindo para gravar o sucesso e assim o fez, no álbum Sorriso de Criança, de 1997. Talvez essa seja a gravação menos conhecida de Sozinho, uma “peninha”, pois é lindíssima, como tudo que o Tim botava a voz.
O estouro
Sozinho parece ter uma mágica não é mesmo? Em 1999, Caetano Veloso gravou o sucesso, no disco Prenda Minha, e de quebra emplacou na trilha sonora da novela Suave Veneno. Aí sim, Sozinho caiu na boca do povo, embalando as cenas de amor dos personagens de Rodrigo Santoro e Luana Piovani. Prenda Minha bateu um milhão de cópias vendidas, até então um número que Caetano ainda não tinha alcançado.
Resumindo a ópera, a música Sozinho ganhou Prêmio Sharp de 1997, o Prêmio Globo de Melhor Música do Ano em 1999, o Troféu Imprensa em 2000 e o eterno amor de Peninha. Como disse uma vez Sandra Sá, “Sozinho sempre esteve muito bem acompanhada”.
Ouça a original, com Sandra Sá.
Ouça a gravação de Tim Maia.
Sozinho
Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho
Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho, às vezes, cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você, mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?
Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?
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