Especialistas explicam como enfrentar a insegurança e ajudar as crianças durante este período de aulas em casa
Por Camile Triska
As aulas on-line se tornaram o cotidiano de crianças e adolescentes. Mas, muitos pais ainda têm dúvidas sobre como ajudar nas tarefas escolares ou enfrentam dificuldades e inseguranças, principalmente, com relação às crianças menores.
Mas, é possível amenizar um pouco os problemas que surgem. As especialistas Deyse Campos, psicopedagoga da Interpares Educação Infantil, e Vanessa Jakimiu, doutora em Educação, explicam que muitas situações são normais e orientam sobre o que fazer para auxiliar os filhos, e os próprios pais, a lidarem melhor com esta nova realidade familiar e escolar.
Pais devem ajudar, mas não são professores
Segundo Vanessa Jakimiu, é importante que os pais fiquem tranquilos e saibam que a responsabilidade do ensino é da escola por meio de seus professores, que são profissionais qualificados e estudaram para exercer a atividade docente. “Esse momento requer atenção, carinho e convivência amorosa. Aos pais cabe estabelecer uma rotina de estudos para que a criança faça as tarefas. Não é incumbência dos pais, portanto, ensinar os filhos ou fazer as tarefas por eles. A maioria está trabalhando e mantendo uma rotina exaustiva, além disso, do ponto de vista pedagógico, os pais não têm a obrigação de ter conhecimento do conteúdo específico e sequer do conhecimento pedagógico. Essa atribuição é dos professores”, afirma.
Crianças precisam fazer as tarefas escolares sozinhas
As crianças devem ser incentivadas a fazer as tarefas escolares sozinhas para que desenvolvam autonomia intelectual. “Os pais devem encorajar as crianças a ficarem no ambiente onde estão estudando por ‘tanto tempo’, ou seja, não adianta fazer a tarefa rápido, é preciso fazer com calma e atenção”, orienta Deyse Campos. Antes de enviar ou publicar a tarefa na plataforma do colégio, os pais podem conferir, ajudar em alguma situação, mas só depois do tempo que a criança ficou sozinha para realizar a tarefa.
Para isso, é fundamental criar um ambiente adequado, explica Vanessa Jakimiu: um lugar claro, iluminado, arejado, silencioso (sem distrações), contendo uma mesa e uma cadeira confortável, ambas ajustadas ao tamanho da criança. Uma rotina também deve ser criada: recomenda-se a organização de um quadro semanal contendo atividades permanentes e atividades livres prevendo os dias e horários. “Esse quadro pode ganhar significação se a criança fizer parte de sua elaboração. É importante mencionar que o estabelecimento da rotina é um momento coletivo e se torna frágil quando o próprio adulto não possui rotina e tenta estabelecê-la para a criança”, enfatiza.
Irritação e insegurança são normais
Em alguns momentos, as crianças podem acabar ficando irritadas ou frustradas, inclusive, chorar, por não compreender algum conteúdo. Mas, Deyse Campos explica que é uma atitude normal. “Elas choram porque querem que os pais fiquem próximos, pois é da nossa espécie querer ficar próximo de quem nos traz segurança em momento que são sentidos como ‘perigo’. Além disso, as crianças ‘sentem’ nosso estado emocional, como irritação, sensação de impotência, desgosto, incômodo, entre outros, e isso transparece no comportamento delas”, conta. Nesses casos, ela orienta que o melhor a fazer é dizer que você também não sabe como fazer aquela tarefa, mas que vai ajudá-la e que juntas, vão aprender.
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Interação com amigos pode ajudar a tirar dúvidas
Nessas situações de dúvidas, uma boa saída, de acordo com Deyse, é escolher um amigo ou amiga da sala de aula e entrar em contato (por vídeo ou áudio) e pedir ajuda, antes de recorrer para tecnologias como i Google. “Isso é bastante estimulante, porque as crianças vão aprendendo que, mesmo nessa situação, uns ensinam aos outros e que chamada de vídeo não é só para conversar amenidades. Um ajudar o outro nas tarefas escolares contribui para que a aprendizagem aconteça de modo mais harmônico, solidário e humano”, assegura.
Atividades diferentes podem ajudar na fase de alfabetização
Para as crianças que estão em fase de alfabetização, os pais não devem se preocupar com prejuízos no desenvolvimento do processo. “A criança passa por fases de desenvolvimento para a aquisição da leitura e da escrita e não deixará de passar por essas fases caso o processo de alfabetização seja interrompido. Evidentemente que, por razões óbvias, havendo a interrupção, esse processo ocorrerá mais tardiamente, porém, sem que isso implique em danos futuros para o desenvolvimento da aprendizagem da criança”, salienta Vanessa Jakimiu.
Algo que os pais podem fazer é estimular atividades educativas que ajudem a criança a “ler o mundo” de outras formas. A psicopedagoga Deyse Campos dá algumas ideias: pedir para a criança ler rótulos de embalagens, receitas e contribuir para uma refeição; ler histórias para fazer o pai ou a mãe dormir – a criança que já sabe ou que está tentando ler pode ser contadora/leitora de histórias também; solicitar que a criança faça um diário e escreva ou desenhe algo importante; escrever cartas, mensagens no celular para os amigos e parentes; ou brincar de ouvir uma canção e tentar escrever uma palavra da letra da música que ouviu.
A professora Vanessa Jakimiu ainda sugere pedir à criança para fazer a redação da lista de compras para o mercado, a redação de um bilhete para os vizinhos com palavras de incentivo e força para este momento que estamos vivendo, entre outras. “Independente da atividade é importante que se considere que a atividade não seja feita pela criança só por fazer, ou para passar o tempo, mas que tenha um sentido real para ela”, ressalta.
Mantenha o vínculo com o colégio
As especialistas orientam que os pais podem e devem entrar em contato o colégio quando julgarem necessário. “As famílias devem confiar na escola e manter o vínculo. Se o conteúdo está difícil ou se a estratégia e abordagem estão muito fora da realidade, vale entrar em contato e solicitar mais esclarecimentos”, afirma Deyse Campos.
De acordo com Vanessa Jakimiu, o contexto da pandemia impõe novos desafios para as escolas. “Não há um consenso sobre como proceder. Tudo é novo para todos. Vários aspectos são tomados como objeto de ação e avalição constante: a preocupação com a inclusão de todos os estudantes no processo educativo não presencial, a definição dos encaminhamentos pedagógicos mais assertivos, os canais de comunicação com as famílias, etc”, analisa e acrescenta: “Os gestores escolares e professores, sob orientação das Secretarias de Educação, estão procedendo da maneira que acreditam ser a mais assertiva e, certamente, irão tomar como objeto de análise e definição para as ações pedagógicas as demandas apresentadas pelas crianças e seus familiares”, considera.
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