Marilda Aparecida Behrens: por uma educação transformadora, ética e transdisciplinar

Conheça a trajetória da pedagoga doutora Marilda Aparecida Behrens, que defende a educação com foco na visão de cidadania, responsabilidade social e construção de uma sociedade mais justa

Marilda Aparecida Behrens
Foto gentilmente cedida pela Prof.ª Dr.ª Marilda Aparecida Behrens

Por Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
A professora doutora Marilda Aparecida Behrens nasceu em Curitiba, no dia 16 de junho de 1952, filha de Dinor Ravachi, de descendência alemã, e de Dirce Francisca Ravachi, de origem italiana.
O pai, formado em Ciências Contábeis, aposentou-se como funcionário da Caixa Econômica Federal do Paraná, o que era motivo de orgulho para ele e sua família. Dele, pode-se destacar que foi homem honrado, que sempre defendeu os direitos humanos, que foi ético e manteve uma vida familiar fundamentada no respeito e na solidariedade.
Dona Dirce cursou o ginásio profissional, na Escola Técnica Federal do Paraná. Sempre atuou no lar, mas seu sonho era ter sido professora. Contava que seu pai não a deixara estudar na Escola Normal por ser a filha mais velha, a quem incumbia ajudar a cuidar das outras três irmãs. Esse fato marcou sua vida, tendo sido assunto de longas histórias contadas em família, sempre com foco em vencer e enfrentar os desafios postos na vida. Nesse sentido, dona Dirce projetou seu sonho na formação das filhas, tornando-se grande incentivadora delas e apoiando suas iniciativas. Marilda narra que ela era “uma mãe que não poupava elogios para que eu conseguisse meus ideais e esteve presente em todos os grandes momentos da minha vida pessoal e profissional”. Além disso, tornou-se uma exímia declamadora de poemas, hábito que manteve até o final de sua vida.
Podemos nos valer do pensamento de Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, para analisar a trajetória de Marilda. Ser professora era o desejo das moças da classe média de meados do século XX. Na impossibilidade de realizá-lo, dona Dirce o projetava nas filhas. Como explica Marinho (2017, p. 27), na linha de pensamento bourdieusiano, “[…] as experiências de vida dos indivíduos não ocorrem no vácuo, e sim incrustadas em estruturas sociais.” A experiência e a apreensão do mundo social ocorrem, num primeiro momento, no meio familiar. Marilda recebeu os capitais social e cultural de sua família e, com dedicação e competência, ampliou seu capital cultural e obteve o capital simbólico, dos quais trataremos adiante, com resultados significativos que repercutiram na comunidade.
Em 1973, Marilda casou-se com João Carlos Behrens, advogado, contador e professor universitário. Dessa união, nasceram os filhos Fabiele e Tiago, que construíram suas famílias e geraram os netos Isabella e Arthur, respectivamente. Destaca Marilda que “a experiência de ser mãe e de ser avó foi sem dúvida a melhor coisa que fiz na vida e atribuo isso à importância de viver plenamente em família”.
A vida escolar da professora Marilda é densa e compõe o capital cultural institucionalizado que, no pensamento bourdieusiano  ocorre, basicamente, com a obtenção de títulos escolares. Após cursar o primário, o ginásio e a Escola Normal, Marilda se licenciou em Pedagogia – Orientação Educacional (1973) e, depois, Pedagogia – Supervisão Escolar (1977), na Universidade Federal do Paraná. A escolha pela docência atendia a expectativa de sua mãe, mas não havia sido o fator determinante. Lembra a entrevistada que a paixão pela docência acompanhou sua vida, tendo iniciado nas séries iniciais do antigo primário. Nessa época, conviveu com algumas crianças carentes, que tinham como única alimentação a fornecida pela escola. Pediu então à sua avó Helena, “uma italiana amorosa”, como refere, e a sua mãe, a colaboração para fazer pão caseiro, com o qual montava e distribuía lanches para as crianças, orientando-as para que os comessem no sábado e no domingo. E destaca: “o fato dessas crianças não terem o que comer tirava meu sono”. Assim, “procurava com a família ajuda com verduras e outros alimentos para levar à merendeira da escola, com a finalidade de colocar na sopa ou no lanche das crianças, para que fossem mais nutritivos”. Esse enfrentamento se transformou num lema de luta pela justiça social e defesa das crianças menos favorecidas, o que determinou sua opção por cursar Pedagogia.
Aprofundando seus estudos, concluiu o Mestrado em Educação – Currículo (1991) e o Doutorado em Educação – Currículo (1996), ambos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Recentemente, realizou estágio pós-doutoral na Universidade do Porto, Portugal.
Durante o período em que cursou o mestrado e o doutorado na PUCSP, Marilda teve o privilégio de conviver com grandes estudiosos, entre os quais estava Paulo Freire, que havia retornado ao Brasil após seu exílio político. Essa experiência como pessoa e como profissional marcou sua vida, interferindo fortemente em sua atuação docente e reforçando a atitude de amorosidade para com os alunos, a competência teórica e a visão epistemológica baseada na transformação por meio da educação. Ainda nessa época, começou a estudar as proposições de Edgar Morin, que propõe um novo paradigma da complexidade na docência, entre outros campos de conhecimento. Esses estudos definiram sua prática e investigação pedagógicas, na busca de construtos teóricos, epistemológicos, ontológicos e metodológicos por meio de uma aliança entre as propostas de Paulo Freire e de Edgar Morin. Dessa aliança, resultou a busca “de uma educação transformadora e complexa, que religa os saberes, com foco na aprendizagem para vida, com visão de cidadania, responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e construção de uma sociedade mais justa, solidária e fraterna”, explica a professora.
Na esfera profissional, Marilda atua no magistério desde 1968, quando iniciou no Grupo Escolar Aline Picheth, com um contrato temporário da Secretaria de Estado da Educação. Depois disso, ingressou no Colégio Santa Maria, no qual, segundo menciona, “começou uma longa caminhada junto aos Irmãos Maristas”. Com efeito, a partir de 1975, iniciou na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR, onde hoje é professora titular. Nesse período, além da docência, exerceu funções na gestão superior por mais de 25 anos. Atualmente, é docente no Programa de Pós-Graduação em Educação e no curso de Pedagogia da instituição. Marilda explica que “o espaço da PUCPR propiciou uma semeadura na formação de professores, no curso de Pedagogia, com a missão de preparar docentes que considerassem e respeitassem seus alunos em seus múltiplos aspectos”. As inúmeras dissertações e teses por ela orientadas carregam a busca de uma docência relevante e significativa, que provoque a produção do conhecimento.
A professora Marilda tem vasta publicação, compreendendo livros, capítulos de livros e artigos científicos, com ênfase em Didática, prática de ensino e formação de professores. Mais recentemente, o foco de sua obra está no paradigma da complexidade, como eixo da educação transformadora, ética e transdisciplinar.
Essa pujança na área educacional compõe o capital simbólico bourdieusiano, considerando os importantes resultados de sua obra. Por isso, a professora Marilda é respeitada, admirada e elogiada por seus alunos e ex-alunos, tanto quanto por seus colegas e professores, em âmbito nacional e internacional.

Para saber mais

Currículo Lattes da professora doutora Marilda Aparecida Behrens: http://lattes.cnpq.br/7195033535563005
Referência

  • MARINHO, Marco Antônio Couto. Trajetórias de vida: um conceito em construção. Revista do Instituto de Ciências Humanas, v. 13, n. 17, 2017, p. 25-49

 

Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.