Entre os seus diversos trabalhos de assistencialismo, Lourivete foi fundadora da Pastoral da Pessoa Idosa na cidade de Palmeira
Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
Lourivete do Rocio Klas Pianowski nasceu na aprazível e bicentenária cidade de Palmeira em 5 de setembro de 1944, pelas mãos de seu tio, o médico Tadeu Grox, formado na Universidade Federal do Paraná e que atuou por mais de cinquenta anos na cidade.
O nome Lourivete surgiu da junção de parte do nome do pai – Lourival e parte do nome da mãe – Divete. Conta Lourivete que o pai só veio a conhecê-la dez meses após seu nascimento, ao final da segunda Guerra Mundial. Até então, estava na Itália, defendendo as cores brasileiras, como tenente integrante da FEB – Força Expedicionária Brasileira, na qual ingressou em 1944. Segundo consta dos documentos da Fundação Getúlio Vargas (s.d.), a FEB foi a “força militar enviada pelo Brasil à Europa para lutar ao lado dos Aliados, contra o Eixo, na Segunda Guerra Mundial. […] Foi constituída em agosto de 1943. Adotou como emblema uma cobra fumando, em alusão àqueles que diziam que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil participar da guerra.”
Nessa missão, Lourival chegou a ser ferido por um tiro na perna, tendo ficado internado em hospital italiano. A mãe, porém, de nada sabia, porque nada lhe era contado. No entanto, Lourivete sabe que ela chorava muito, preocupada com o desenrolar dos acontecimentos.
Quando Lourival retornou da guerra, em 1945, o avô de Lourivete presenteou o filho com uma loja de tecidos em Londrina, no centro da cidade, para que ele a gerenciasse. Idêntica atitude teve em relação ao tio de Lourivete, irmão de Lourival, ao qual destinou uma loja de venda de presentes, também em Londrina.
Dona Divete havia feito um curso de confecção de flores, na Escola Técnica Federal do Paraná, em Curitiba, no que era exímia, mas não trabalhava, dedicando-se ao cuidado dos três filhos: Lourivete, Sônia Regina e Antônio Edilton.
Em entrevista às autoras, Lourivete contou que a mãe era descendente de portugueses, sendo que o bisavô, engenheiro, havia vindo ao Paraná para participar da construção da estrada de ferro que liga Paranaguá a Curitiba, entre os anos de 1880 e 1885. Essa estrada, atualmente, é um dos pontos turísticos do estado do Paraná, sendo considerada uma das mais ousadas obras da engenharia nacional. O avô materno trabalhou na prefeitura de Antonina vindo, em seguida, para Curitiba, como funcionário do Banco Mercantil. A avó, por sua vez, era proprietária de uma pensão situada na Praça Carlos Gomes, em Curitiba, na qual exercitava suas habilidades de excelente cozinheira.
Com os filhos ainda pequenos, os pais de Lourivete foram morar em Guaragi, Distrito de Ponta Grossa, onde a família possuía uma olaria, a Olaria dos Klas. Ali, Lourivete iniciou seus estudos primários sob orientação de três professoras normalistas, duas das quais eram suas tias, Izabel e Maria, ambas formadas no Instituto de Educação do Paraná. Ao término do terceiro ano, porém, foi morar com uma tia e madrinha em Araucária e aí concluiu o ensino primário.
Os pais de Lourivete priorizavam a educação católica e, para que cursasse o ginásio, matricularam-na, em regime de internato, no Colégio Sant’Ana, em Ponta Grossa, tradicional instituição pertencente à congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo. Conta Lourivete que o colégio, à época, era famoso pela excelência dos estudos e pela rigorosidade em relação ao comportamento das alunas. Não concluiu, porém, o curso ginasial no Colégio Sant’Ana, porque veio morar em Curitiba, com uma tia, indo estudar no Colégio São José, até a 3ª série. Em seguida, como a família foi residir em Palmeira, Lourivete concluiu o ginásio no Colégio Estadual Dom Alberto Gonçalves. Após, iniciou o curso normal colegial, mas desistiu no segundo ano, ao conhecer aquele que viria a ser seu marido. Era o final de seu sonho de ser engenheira, comenta, sorrindo.
Lourivete lembra que, nessas escolas em que estudou, sempre esteve entre as primeiras alunas da turma, tendo recebido vários quadros de honra e medalhas de 1º lugar nas séries que cursou.
Em 28 de abril de 1962, casou-se com José Carlos Pianowski, o Nêne, jovem empresário na cidade de Palmeira, com o qual teve dois filhos: Christine Maria Klas Pianowski e José Carlos Pianowski Filho, que lhe deram quatro netos: Paulo César Lourenço Filho, Guilherme Pianowski Lourenço, Luiz Francisco Carboni Pianowski e David Joseph Rosenfeld Pianowski. Em 07 de agosto de 2004, José Carlos faleceu. Lourivete narra que ele foi um marido amoroso, dedicado, maravilhoso, e que seu falecimento lhe trouxe muita tristeza e solidão. Sente saudades da vida em comum e guarda lembranças extraordinárias de sua vida com ele.
Após seu casamento, Lourivete sempre cuidou dos afazeres domésticos, mas sua atividade incluía também o assistencialismo social. Assim, podem ser enumeradas diversas entidades com as quais colaborou durante esses anos e nas quais exerceu o voluntariado: Legião Brasileira de Assistência, Ação Social Imaculada Conceição, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, Asilo de Velhos Acelino Teixeira de Oliveira, Lar dos Vicentinos, Santa Casa, Provopar, Centro Social Urbano e Amiga da escola Jesuíno Marcondes. Por sua atuação junto aos mais humildes, foi-lhe outorgado, pela Câmara de Vereadores de Palmeira, o prêmio “Cidade Clima”.
Dentre suas obras assistenciais, destaca-se a atuação, desde 1969, na manutenção do Asilo de Velhos Acelino Teixeira de Oliveira, construído pelo Lions Clube de Palmeira. Essa instituição foi reconhecida de utilidade pública municipal pela Lei nº 603, de 22 de março de 1969 (PALMEIRA, 1969), e se constituiu em avanço, na área social, no que se refere à proteção do idoso.
Lourivete também foi muito ativa na igreja católica, durante 57 anos, atuando em equipes de cursilho, catequese e cursos para noivos. Foi fundadora da Pastoral da Pessoa Idosa, em Palmeira, que tinha entre seus objetivos visitar os idosos, como os apóstolos faziam. Chegou a visitar 145 idosos por mês, coordenando a equipe de 15 a 20 pessoas que trabalhava com ela. Também fazia palestras sobre “como educar os filhos”, em eventos que reuniam pessoas de todos os estados do Brasil.
Perguntada como descobriu que se realizava como pessoa no assistencialismo, respondeu que desde pequena sentia amor ao próximo e se alegrava em realizar caridade. Na Olaria dos Klas, quando era menina, essa força interior se manifestava: cortava o cabelo das crianças, fazia permanente no cabelo das mulheres, ensinava bordado, crochê e tudo o mais que fosse necessário. Gostava de brincar com as crianças, dava aula para elas no paiol de guardar o milho, fornecendo cadernos, lápis e ensinando-as a escrever. Lembrou que desde pequenina se preocupava com as pessoas, indo, inclusive, ajudar nas plantações que os vizinhos faziam. Percebe que foi assim que seu carisma se desenvolveu.
Conta que, atualmente, ainda, quando há necessidade de alguma ação em favor de pessoas, vai à Rádio Ipiranga de Palmeira e, no noticiário, faz uma solicitação de apoio à população. Nesse sentido, sua popularidade e o respeito que as pessoas lhe dedicam, auxiliam para que essas campanhas sejam bem-sucedidas.
Envolvida em suas atividades sociais, aos 76 anos, Lourivete continua vivendo em Palmeira, ajudando a todos aqueles que necessitam.
Nossos agradecimentos à Sr.ª Lourivete do Rocio Klas Pianowski, pela entrevista que nos foi concedida e pela cessão de uso da foto que ilustra a coluna.
Para saber mais:
- FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS – FGV. CPDOC. A Era Vargas: dos anos 20 a 1945. Diretrizes do Estado Novo (1937-1945), s.d. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/OBrasilNaGuerra/FEB. Acesso em: 20 abr. 2021.
- PALMEIRA. Legislação Municipal de Palmeira. Lei nº 603, de 22 de março de 1969. Reconhece de Utilidade Pública Municipal, asilo de velhos Acelino Teixeira de Oliveira, conforme especifica. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a1/pr/p/palmeira/lei-ordinaria/1969/60/603/lei-ordinaria-n-603-1969-reconhece-de-utilidade-publica-municipal-asilo-de-velhos-acelino-teixeira-de-oliveira-conforme-especifica?r=p. Acesso em: 20 abr. 2021.
Alexandra F. M. Ribeiro é doutoranda e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais e Alboni. M. D. P. Vieira é doutora e mestre em Educação – Linha de Pesquisa História, Memória e Políticas Educacionais.
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Parabéns as autoras pela linda e singela homenagem que fizeram a minha amada mãe, mostrando aos outros que a única salvação deste mundo é a caridade ao próximo.
Brilhante trajetória de vida da Lourivete, descrita de maneira muito encantadora. Conheço muito o trabalho da Lourivete, que é reconhecido com muito carinho pela comunidade palmeirense. Parabéns Lourivete, parabéns Alboni e Alexandra.
Que maravilhosa esta homenagem, fico pensando o quão emocionante está sendo para Dona Lorivete e familiares… Uma pessoa merecedora de aplausos extensos; uma pessoa que fala com a alma e que vive este olhar ao próximo com tamanha ternura e respeito. Uma trajetória de vida admirável, sinto-me honrada em conhecê-la e poder aplaudi-la. Bravo! Bravíssimo!! O Lar Acelino Teixeira de Oliveira de Palmeira-Pr, que acolhe a idosos em vulnerabilidade e risco social, manifesta gratidão por sua existência, amor a causa, e seu trabalho voluntário. Parabéns Alboni e Alexandra pelo emocionante texto, que este, reverbere, como exemplo de vida aos leitores.
Muito obrigada por lerem nosso trabalho. Queremos continuar oportunizando que muitas pessoas conheçam as trajetórias de mulheres como a de Lourivete. Essas histórias de vida são fontes de inspiração para tantas outras mulheres que se veem representadas na trajetória da homenageada.