Implementação do ensino remoto na educação infantil tem limitações
Por Rudá Morais Gandin
Para responder a esta pergunta sobre o ensino remoto na educação infantil, considero importante dar alguns pitacos a respeito da relevância do brincar no âmbito da infância, porque com o alongamento da suspensão das aulas, por ocasião da pandemia, esse assunto parece ocupar o último degrau das prioridades, muito por culpa de nós, adultos. Por isso, a criança não só acaba enfrentando a dura separação dos amigos e amigas com quem brincava, mas também a solidão em relação ao brincar, dado que os adultos, dificilmente, largam mão de suas ocupações.
É claro que não se pode generalizar, com certeza deve haver adultos que se dedicam a brincar com as crianças, embora eu suponha que esses não sejam a maioria. Mas, tudo bem. Eu não os culpo, afinal a dinâmica familiar é complexa e não quero eu ser o juiz a dizer o que as famílias devem ou não fazer neste momento, em que se testemunha sem parar o aumento de desempregados e mortes por conta do vírus. Todavia faz sentido levar a cabo um ensino remoto onde a principal tarefa a ser feita é brincar se a maioria das crianças não tem com quem brincar?
Portanto, eu diria que a implementação do ensino remoto para crianças pequenas vive uma dupla limitação, que se refere, primeiramente, ao espaço, uma vez que os ambientes dos apartamentos, casas etc., não oferecem, pelo menos na boa parte dos casos, as condições adequadas para o exercício de brincadeiras. A segunda limitação se refere aos professores, cuja determinação de distanciamento social impede que se oriente, prontamente, as brincadeiras, esvaziando o sentido pedagógico que rodeia o brincar na educação infantil. A esse respeito, é preciso reforçar que a brincadeira é algo sério e provoca ganhos fundamentais, como a contribuição no processo de desenvolvimento do pensamento abstrato, conforme analisou o psicólogo russo Lev Vygotsky.
O brincar não é exclusivo da educação infantil. As crianças brincariam tendo as instituições de ensino voltadas para elas ou não. Ocorre, no entanto, que as brincadeiras propostas pelos professores guardam uma intencionalidade pedagógica, que pressupõe o planejamento, a observação, o registro e o acompanhamento. Pensar que isso pode acontecer remotamente, ou seja, não presencialmente, é uma contradição que, no fim das contas, acaba solapando o direito à educação das crianças. Dito isso, fica evidente a minha resposta caso me perguntem se faz sentido o ensino remoto para crianças pequenas, a saber: não!
Rudá Morais Gandin é mestrando em Educação da PUCPR. Pedagogo e especialista em Políticas Educacionais pela UFPR. Atuou como professor de Educação Infantil na cidade de Curitiba
Muito bom a reflexão sobre a Educação.
Como é bom ler a opinião de pessoas lúcidas. Parabéns pelo texto e pela colocação.