Coluna Feijão com Arroz: Receita para afagar a alma (ou comfort food, se preferir)

Precisamos do afeto de uma receita simples, mas que também seja carregada de carinho, de lembranças gostosas, que nos traga novamente aquela sensação de segurança

Arte: Maria Clara Bicalho Patzsch
Arte: Maria Clara Bicalho Patzsch

Por Irma Bicalho
Logo que comecei a escrever esta coluna, meu amigo Carlos Bório, um dos editores do site Curitiba de Graça, sugeriu que eu ensinasse às pessoas receitas simples. Ele disse que durante a pandemia, muita gente estava se batendo na cozinha. Por nunca ter cozinhado antes, por não gostar de cozinhar, por não poder ir aos restaurantes costumeiros. E ele tem razão. Nossa zona de conforto alimentar foi gravemente abalada. Até mesmo para aqueles, que como eu, estavam acostumados a fazer a própria comida.
Nesses dias em que a prioridade é manter a saúde física e mental e tentar não enlouquecer diante deste panorama digno de filme de zumbi, até o meu apetite foi detonado. Me pego várias vezes por dia com aquela vontade louca de comer alguma coisa, mas sem conseguir saber ao certo o quê. Isso acontece com você também? Penso nas minhas guloseimas preferidas, como marta rocha, confeitos de amendoim, bolacha recheada com leite gelado, mas nada…não é nada disso que vai me satisfazer.
Acho que esse buraco no meu estômago é mais profundo. Vem da alma, vem do medo, da tristeza, da incerteza e até da raiva. Fico pensando… Se eu fosse um personagem daquele filme, Divertida Mente, da Pixar, que cor eu teria? Quem eu seria? Uma mistura tão louca de sentimentos e emoções que não consigo sequer definir o que preciso e quero comer.
Então, pensando no que o Bório me falou, pensando no turbilhão de emoções que estamos guardando na barriga, acho que, mais do que comida, precisamos é de um pouco de afeto, de carinho. Como quando éramos crianças e deitávamos na cama dos nossos pais nas noites em que tínhamos pesadelos. Eu fazia isso. Entrava sorrateira debaixo dos lençóis, ao lado da minha mãe, me encostava no ventre quentinho dela e me sentia segura, salva de qualquer ameaça dos sonhos ruins ou da noite silenciosa lá de fora da janela.
Precisamos do afeto de uma receita simples, mas que também seja carregada de carinho, de lembranças gostosas, que nos traga novamente aquela sensação de segurança. Você tem uma receita assim? De comida confortável? Eu tenho. Está aqui, do lado do meu teclado, escrita com a letra da minha falecida mãezinha, num papel amarelado e cheio de dobras esquisitas. É uma receita tão simples, que qualquer um pode fazer. Tão barata, que qualquer um pode comprar. Mas tão deliciosa e sublime, que merecia fazer parte de um banquete dos deuses. Quero dá-la de presente para vocês, para que possamos compartilhar um café da tarde fortalecedor de almas.
É uma receita de pão de minuto. Um pãozinho doce, para tomar com café coado na hora, ou um bom pingado. Faz-se em cinco minutos. Leva mais 20 para assar. E cabe a você decidir em quanto tempo irá abocanhar cada um dos 12 ou 15 pães que rendem essa receita. Ah, se passar manteiga por cima então, quando ainda quentinhos…

Pão de Minuto da Dona Helena

  • 13 colheres de farinha de trigo branca (bem cheias, de montanha. As receitas caseiras antigas são assim, imprecisas. Querem atenção, retoques. Mas eu medi na balança e deu 440 g de farinha de trigo, ou duas xícaras e meia)
  • 4 colheres de sopa de açúcar
  • 1 colher de sopa montanhosa de manteiga em temperatura ambiente (sim, pode ser margarina, mas com 80% de lipídios, ou seja, nenhuma versão light ou daquelas que se dizem saudáveis)
  • 1 colher de sopa de fermento químico (tipo Royal)
  • 1 xícara de chá de leite
  • 2 ovos
  • Uma pitada de sal

Misture todos os ingredientes secos numa vasilha grande. Em outra vasilha, bata muito bem os ovos, a manteiga e por último o leite. Quando estiver bem misturado, jogue por cima da mistura com a farinha e mexa delicadamente com uma colher, só até que tudo seja absorvido. A massa não fica lisinha não, fica empelotada mesmo, mole e pegajosa. Não bata forte, se não os pães ficam borrachudos. Com a ajuda de duas colheres, vá colocando pequenas porções na forma untada, com um espaço de uns 5 cm entre cada um. Asse em forno pré-aquecido a 180°C por 25 minutos ou até que estejam levemente dourados. Importante: Enquanto espera os pães assarem, coe café ou faça um chá e desfrute o aroma inebriante da sua cozinha. Pense em coisas boas, pessoas que ama e sinta-se fortalecido e abraçado.
Se quiser trocar uma ideia, pedir uma ajuda, mande um e-mail para irma@curitibadegraca.com.br e terei o maior prazer em responder.


Irma Bicalho é uma das editoras do Curitiba de Graça, jornalista, formada pela PUC-PR, dona de casa, mãe de quatro filhos e tutora de três cachorros e três gatos. Há três anos se formou no curso de Cozinheira do Senac-PR. Desde então tem se dedicado mais a duas de suas grandes paixões: comer e cozinhar.