Avó revolucionária protagoniza um retrato crítico e carinhoso do Chile

Exibido nos festivais de Rotterdam, Rio e Olhar de Cinema, longa-metragem chega aos cinemas brasileiros na próxima semana

A história recente do Chile é o tema de fundo do novo filme da diretora chilena Camila José Donoso, “Nona: Se molham, eu os queimo”, que tem como protagonista a avó da diretora, Josefina Ramirez, que fez parte da resistência anti-Pinochet e se tornou uma especialista na produção de molotovs.
A estreia nos cinemas brasileiros acontece em 18 de fevereiro – em Curitiba, o lançamento  será exibido no Cine Passeio e em outras salas ainda não confirmadas.
O filme é uma coprodução chilena, brasileira, francesa e sul-coreana. O elenco combina não atores, como a própria Josefina, e profissionais, como as atrizes Gigi Reyes, Paula Dinamarca e Nancy Gómez. O Brasil é representado pelo ator Eduardo Moscovis, que interpreta Pedro, uma figura misteriosa que ronda Nona.
Camila, que também assina o roteiro, combina memórias de Nona e uma narrativa ficcional sobre uma mulher que cometeu um crime passional e se vê obrigada a deixar Santiago, exilando-se na cidade costeira de Pichilemu, em uma casa que comprou na época do governo de Salvador Allende. A protagonista também acaba de realizar uma cirurgia contra catarata o que a deixa ainda mais fragilizada e de mal humor.

O brasileiro Eduardo Moscovis é um dos atores do filme. Foto: Divulgação

Esse é o terceiro longa-metragem de Camila José Donoso. Em seu primeiro, “Naomi Campbell”, de 2013, ela acompanhou a trajetória de uma transexual chilena e o documentário prevaleceu sobre uma ficção discreta. Agora em “Nona: Se me molham, eu os queimo”, a diretora radicaliza, e constrói um jogo de cena entre o real, o imaginário e a fantasia, sem se preocupar em deixar claro o que é o que.
“Eu queria que o personagem de Nona tivesse profundidade. Eu queria que o espectador descobrisse Nona como eu a conhecia: uma avó, uma dona de casa extrovertida que ocasionalmente mentia, uma mulher volúvel, e tudo aquilo que estava longe da femme fatale piromaníaca que mais tarde descobri. Eu queria que o espectador pudesse viver na intimidade de Nona, sem julgamento, pois a beleza de Nona também reside na complexidade, na ambivalência de seu caráter”, explica a diretora.

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Ao redor dessa nova morada de Nona existe uma floresta que começa a sofrer incêndios inexplicáveis, e dado o passado piromaníaco dessa mulher de 66 anos, ela se torna uma espécie de suspeita, ainda mais que sua casa permanece intacta, ao contrário de outras da região. Mas o filme vai muito além desse suspense, ao fazer um retrato crítico e carinhoso do Chile do presente, no qual a aparente calmaria, tal qual a cidade onde a protagonista se instala, pode esconder a turbulência política que o país sempre enfrenta.
O longa-metragem ainda acrescenta uma nova camada trazendo filmagens caseiras em vídeo, remetendo ao passado e resgatando a trajetória de Nona. Misturam cenas amadoras captadas em diferentes formatos de vídeo, película, e o digital límpido, que conferem a “Nona: Se me molham, eu os queimo” uma proposta estética diferenciada e bem-vinda que espelha a figura de sua protagonista, uma mulher fascinante e intrigante na mesma medida.

Retrato crítico do Chile

Peter Bradshaw, do jornal inglês The Guardian, chamou o longa de “sagaz e subversivo”. Já o Cineuropa, em sua crítica, alega que a diretora fez um filme “que é um retrato carinhoso, engraçado, e ainda assim brutalmente honesto.” O argentino Página 12 ressalta que o filme “tem êxito em entrecruzar o pessoal e o político de uma maneira muitas vezes notáveis.”
“Nona: Se me molham, eu os queimo” é produzido por Rocío Romero, do Chile (Mimbre Producciones), por Tatiana Leite, Bubbles Project, produtora entre outros do sucesso “Benzinho”, de Gustavo Pizzi e de “Pendular”, de Julia Murat, Pelo Jeonju Cinema Project (Córeia do Sul) e por Alexa Rivero, da França (Altamar Films). O projeto conta com a TvZero como produtora associada. No Brasil a distribuição do longa é a Vitrine Filmes.

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