Álbum gravado em Curitiba revela músicas da corte francesa do século XVII

Ainda sem data de lançamento, “Nossos espíritos livres: Árias da corte francesa do século XVII” tem canções divulgadas pelo estúdio onde foi gravado

Por Camile Triska
Pouco executadas em concertos de músicas eruditas, as árias da corte francesa foram as composições escolhidas pela professora e coordenadora do Laboratório de Música da UFPR, Silvana Scarinci, alaudista e teorbista especialista na música europeia do século XVI e XVII, e pela curitibana Marília Vargas, uma das mais ativas e respeitadas sopranos de canto barroco de sua geração, para o álbum “Nossos espíritos livres: Árias da corte francesa do século XVII”.
A expectativa é que o lançamento seja feito em um concerto na Capela Santa Maria, mas, por causa da pandemia da covid-19, ainda não existe uma data definida. Nesse período, o Estúdio Trilhas Urbanas, que fez a gravação, sob a direção do Dirceu Saggin, está divulgando as faixas do álbum no YouTube, que podem ser acessadas na playlist AQUI.
As árias são um termo genérico que se referem a peças primordialmente vocais, em geral acompanhadas por instrumentos harmônicos, como o cravo ou alaúde. “As árias ganharam presença marcante em Ópera a partir do século XVIII, quando se tornam extremamente virtuosísticas”, explica Silvana Scarinci.
Ela conta que as air de cours, ou árias da corte, tiveram uma grande importância para a criação de uma linguagem musical essencialmente francesa. Com as árias, os compositores descobriram um meio de expressar em música as sutilezas da declamação francesa e abriram caminhos para a criação da Ópera na França, que surgiria uma geração depois.

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“As airs de cour surgiram num momento de criação de um estado forte, uma França que, embora absolutista, valorizava profundamente seus artistas e percebia na produção artística um meio de demonstração de seu grande poderio e riqueza. As artes, em geral, receberam enorme apoio do estado e foi um momento de grande florescimento da literatura, artes visuais e música. As cortes europeias exibiam orgulhosamente seus grandes artistas como símbolo do ambiente culto e refinado, centrado no humanismo, que se propagara a partir da Itália”, revela a música e professora.
O repertório das árias da corte são “praticamente inesgotáveis”, diz Silvana, e para a gravação foram escolhidas músicas que, aparentemente, nunca tinham sido registradas em um álbum. “Escolhemos verdadeiras joias, algumas que tocamos várias vezes em concertos e que são mais conhecidas, como “Vos Mépris” de Michel Lambert, ou “Une Jeune Fillette”, que é provavelmente a mais antiga do CD, ainda do começo do século XVI. Trata-se de uma melodia que se tornou muito popular na época e foi usada por muitos compositores. Ela ficou famosa nos dias de hoje graças ao filme “Todas as manhãs do mundo”, em que a peça é cantada por duas jovens em uma cena muito comovente”, observa.

Da ideia à concepção

A ideia para o álbum surgiu em 2014, quando a soprano Marília Vargas ofereceu um concerto de árias da corte do século XVII para um festival em São Luis e Alcântara, no Maranhão, do qual ela era curadora. Pouco tempo depois, ela e Silvana participaram de um evento na Capela Santa Maria, em Curitiba, ligado à Associação de Professores de Francês e à Aliança Francesa.
“Com esses dois concertos, pudemos explorar mais profundamente o repertório de árias da corte francesa e tivemos então a ideia de submeter um projeto para a Fundação Cultural de Curitiba”, conta Silvana. Com a aprovação, elas tiveram o patrocínio do Grupo Positivo e produção da Paideia, escola de música e produções artísticas.
“Nossa aposta foi sensacional, e o CD cresceu muito com a exploração de passagens instrumentais brilhantes dos outros músicos. A interpretação da música dessa época permite e mesmo supõe a presença da improvisação e/ou criação de melodias complementares que enriquecem as composições registradas nas partituras da época”, comenta.
O álbum também teve a participação do alaudista e guitarrista barroco Roger Burmester, mestre pela UFPR, e dos violinistas barrocos Juliano Buosi e Raquel Aranha, que contribuem em projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Música da UFPR.
Assista ao vídeo da gravação de “Une Jeune Fillette”

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