Trupe Ave Lola lança livro gratuito sobre dramaturgia e processo de montagem teatral

“Nuon – dramaturgia e memórias do processo de montagem” conta os bastidores de um espetáculo sobre uma sobrevivente de guerra

Falar sobre as pessoas que não provocam a guerra, mas que estão submetidas a ela. Esse foi o desejo que moveu a Trupe Ave Lola em direção à montagem do espetáculo Nuon, em 2016. Agora, a peça ganhou um livro, com direito aos detalhes sobre o processo de criação.

O lançamento de “Nuon – dramaturgia e memórias do processo de montagem”, será neste sábado (07/08), entre 15 e 18h, com distribuição gratuita em evento no sistema drive-thru na sede da companhia, localizada Rua Marechal Deodoro, 1227 – Centro. A publicação ainda ganhará, em novembro, uma versão em audiolivro. Um QR Code na contracapa do livro que será distribuído agora direcionará para esse próximo lançamento.

“Nuon”, a peça, conta a história de uma cambojana, sobrevivente da guerra que assolou o Camboja na década de 70. No livro, Ana Rosa Tezza, dramaturga e diretora, fundadora da companhia, fala sobre como surgiu o interesse em fazer o espetáculo e  como chegou a ser questionada sobre as razões que levaram uma artista brasileira a falar sobre um país tão longínquo.

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A publicação traz ainda relatos sobre os procedimentos adotados pela trupe em seus processos de criação. A autora discorre sobre como nasce o interesse por determinado assunto, como é feita a escritura da peça e a forma como este texto se revela em uma dramaturgia estendida para a luz, o cenário, figurino, linguagem cênica e tudo aquilo que se dá a ver no palco.

O texto é feito por meio de um interessante diálogo entre a dramaturga-diretora e toda a equipe de atores, técnicos e produtoras. Na trupe, o processo nunca é linear: escrever o texto, escolher os atores e montar a peça. “Até hoje, a dramaturgia que eu crio nunca veio pronta. Começa com uma ideia que esboço num papel e compartilho com a equipe. Grande parte do texto se desenvolve na medida em que as cenas vão aparecendo, a partir de improvisações coletivas ou individuais”, explica Ana Rosa.

Compreensão da violência para tempos de paz

E o que uma guerra no Camboja na década de 70 tem ver com nosso tempo? A dramaturga aponta que todas as guerras são iguais e destituem o homem de sua dignidade, colocando o ser humano em um lugar de vulnerabilidade incontrolável. “Parece que naturalizamos os estados de violência. Mas eles estão acontecendo constantemente. Podemos dar outros nomes: conflito com a milícia, terrorismo, violência urbana. Quando falamos sobre essa guerra, queríamos falar sobre as pessoas que não provocam a guerra, mas estão submetidas a ela”, afirma.

Segundo Ana, o teatro tem potência para suscitar e provocar a reflexão sobre questões fundamentais para a humanidade e compreender mecanismos que suscitam a violência na sociedade pode ser uma forma de construir a paz.

“O teatro não tem a função de converter ninguém, nem de manipular o pensamento, mas pode ser um espelho quebrado de como funcionamos, enquanto indivíduo e sociedade. Pode alterar as lógicas e abrir espaço para uma forma distinta de enxergar a realidade, ou proporcionar um instante de bom divertimento em assembleia. No final das contas, o Nuon é uma peça que já fazia sentido, porque trata de uma questão mundial, mas hoje, no Brasil, ela faz mais sentido ainda”, avalia Ana Rosa Tezza.

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