Sobrevivencialismo e férias: dicas para evitar problemas ao fazer trilhas e escaladas

Vai aproveitar as férias para trilha e escaladas com os amigos? É um tipo de passeio muito bacana, mas que precisa ser pensado com cuidado para evitar problemas e acidentes. Confira de como se preparar na coluna Sobrevivencialismo de hoje.

 

*Claudia L. Borio

Muitas pessoas vão aproveitar estas férias para passear um pouco em uma deliciosa e muito esperada folga do trabalho. E muitas vão pela primeira vez fazer algum programa diferente, uma caminhada, uma trilha ou uma escalada. Neste momento, nós, sobrevivencialistas, devemos estar conscientes que acidentes e problemas podem ocorrer. E nós vamos evitá-los, é claro.

Qualquer mãe responsável sabe que deve mandar na mochila de seu filho, pelo menos, o remédio antialérgico que ele toma, mas, muitas vezes, nós adultos não tomamos esse cuidado. E infelizmente muitas pessoas são picadas por insetos, sofrem terríveis queimaduras de sol ou coisas piores em trilhas – caem, se quebram, se perdem ou até morrem. Todos acham que isso nunca vai acontecer, mas acontece! Há muitas notícias de pessoas que ficam por dias perdidas em trilhas aqui bem pertinho de casa e, até mesmo, pessoas que morreram sem achar o caminho de volta. Na faculdade onde estudo minha segunda graduação, todo ano algum estudante se perde em trilhas fáceis de viagens de campo e até na mata ao redor do prédio da faculdade. Parece ridículo, mas pode ser bem assustador para quem passa por isso. Ficar horas caminhando dentro de um mangue, por exemplo, e já pensando como vai fazer se tiver que passar a noite por lá até achar de repente o caminho de volta pode ser muito desconfortável. Por isso, vamos tomar alguns cuidados básicos?

Primeiramente, não escale o Marumbi nem outro lugar nenhum se você não está em forma. Digo muito em forma mesmo. Escale primeiro um morro fácil, uma trilha simples, e vá aumentando o grau de dificuldade. Se não se sentir plenamente seguro, não vá. Faça um passeio mais simples, mais plano, mais seguro. Não arrisque romper um tendão ou ter alguma sequela dolorosa e duradoura. Não vale a pena.

Segundo, vai passear? Que tal imprimir no Google Maps a imagem do local aonde vai e ficar atento aos obstáculos, olhar as direções das coisas? Como é o local aonde você vai? Tem alguma rodovia ou estrada perto? Você sabe usar uma bússola? Pois, então, leve-a. Muitas pessoas já se perderam e ficaram andando em círculos por não saber usar ou nem possuir uma bússola. Ah, não tem uma? Compre na loja de 1,99, esse paraíso das coisas (aparentemente) inúteis! Se tivessem uma bússola, muitas pessoas perdidas no mato podiam ter andado mais um ou dois quilômetros e, muitas vezes, estariam novamente na trilha ou até em uma rodovia.

Depois, escolha roupas confortáveis e sapatos bons, que não sejam novos, use meias macias, coloque um boné, leve um casaco. Lembre-se, o tempo pode sofrer viradas súbitas e se você se perder ou ficar isolado em algum lugar, pode ficar bem frio à noite. Já aconteceu com gente que escalou o Marumbi, que eu mencionei ali em cima. Eles ficaram ilhados por uma neblina súbita e passaram a noite tremendo de frio. E o pior: não tinham como fazer fogo, não tinham lanterna e nem comida!

Trilha não é lugar de regime ou dieta. Leve sempre lanchinhos calóricos, nada de economizar nas calorias – claro, respeitando incompatibilidades pessoais. Por exemplo, se você é diabético, não vai levar coisas com açúcar. O rei das trilhas e acampamentos é o leite condensado, que agora tem em lata com tampa, dá para abrir e fechar novamente. Tem versão vegana de leite condensado também, ou diet para quem gosta. Chocolates, amendoim, granola, sanduíche, frutas frescas, passas, frutas secas, banana passa, bolachas, barrinhas de cereal, goiabada, maçãs, cenouras, peras, bananas… Vale tudo! Leve um pouco a mais – em caso de extravio na trilha, pode salvar a sua vida, ou ajudar outra pessoa. E caminhar dá uma fome tão boa! Garanto que essas coisas serão bem apreciadas.

Se você sabe fazer fogo, e gosta disso, pode levar um isqueiro, uma caixa de fósforos e uma isca para fogo, que é importante, pois, às vezes, é muito difícil fazer fogo no mato. Essa isca é um toco de vela, um acendedor de churrasqueira ou um pano embebido em óleo de linhaça, por exemplo. Mas, não esqueça de tomar muito cuidado – fogo pode devastar uma floresta ou um parque estadual, como ocorreu em Vila Velha há alguns anos atrás, além de ser um crime ambiental. Nunca faça fogo somente para se divertir. Estou falando aqui de sobrevivência em um caso excepcional.

Ah, faltou falar mais do agasalho: toda mochila deve ter, pelo menos, mais uma muda de roupa e, se possível, ter uma pequena manta e um saco plástico, desses grandes de lixo mesmo. Em caso de emergência, dá para dormir dentro do saco, se embrulhar, fazer um pequeno abrigo e até sentar nele para não ficar com o traseiro molhado. Sempre terá utilidade e pesa muito pouco.

Item importantíssimo: água. Você não passa 24 horas tomando somente uma garrafinha de 250 ml de água. Se sua trilha é mais longa, leve duas ou até três garrafas de água. Escolha garrafas bem leves, que podem ser pets reutilizadas, pois vazias não vão pesar – nada de deixar lixo na trilha, não é? Elas vão voltar com você. Se você se perder no mato, não esqueça que pode, sim, tomar água de qualquer córrego, rio ou poça d’água e, inclusive, das bromélias. Essa água pode ser ruim, esquisita, barrenta, mas, com certeza, irá salvar sua vida. Desidratação mata muito mais rápido do que a fome. Uma pessoa bem nutrida pode viver até 20 dias sem comer, mas não passa de três sem água. Nunca deixe de tomar água se estiver perdido. Se pegar uma dor de barriga, isso será curado facilmente depois de se salvar. Ficar sem água te faz correr o risco de morrer seco(a) igual uma passa.

Leve também alguns itens básicos como esparadrapo ou band-aid, uma aspirina, filtro solar, antialérgico ou creme para picadas de inseto, um rolinho de papel higiênico e absorventes.
Mais uma dica: encontrou animais na trilha? Não tente pegar, tocar, correr atrás, enfiar a mão em toca ou buraco. Uma picada de cobra pode ser fatal em menos de 20 minutos. E se o socorro não estiver perto, isso pode virar um pesadelo. Cobras podem ficar imóveis e se fingindo de mortas com a aproximação de pessoas. Nunca toque numa cobra, mesmo que tenha certeza que ela está morta, senão com auxílio de uma varinha e com o MAIOR cuidado. Lembre que algumas cobras dão botes enormes e podem alcançar sua mão ou seu rosto. E até cobras mortas ainda têm veneno nos seus dentes.

Enfim, preste atenção no seu caminho de ida e olhe para trás na trilha, memorizando alguns detalhes – uma pedra estranha, uma árvore com um galho diferente. Dê nomes para essas coisas – passamos pela pedra que parece um nariz, etc. Isso ajuda a achar o caminho de volta e é muito divertido para crianças. Inclusive, crianças espertas já salvaram a vida de adultos com pé quebrado, achando o caminho de volta e guiando uma equipe de salvamento até o lugar onde esse adulto estava. Eu tenho o relato de um menino de cinco anos de idade que fez isso sem qualquer problema.

O passeio não precisa ser aterrorizante e nem uma tortura, pois tudo isso que eu falei aí é para o(a) sobrevivencialista atento desenvolver seu sentido de sobrevivência. As crianças, principalmente, adoram aprender com isso – usam bússola, aprendem a se orientar muito bem no mato, tomam cuidado com animais, sabem fazer primeiros socorros e podem até preparar refeições simples em lugares onde é permitido fazer fogueira. Portanto, aprenda a ser curioso(a) como elas, fique atento e bom passeio!

 

 

Claudia Borio é advogada, faz parte da Comissão de Meio Ambiente da OAB Pr e é acadêmica de Ciências Biológicas e pratica o sobrevivencialismo em todas as oportunidades possíveis.

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O portal Curitiba de Graça vem colaborar para que os moradores da capital e turistas possam aproveitar os eventos gratuitos (ou não!) que acontecem em Curitiba e Região Metropolitana.

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