Rapper curitibano lança DVD gravado no Teatro do Paiol

“Música Popular Beduína no Paiol” traz à tona assuntos que fazem repensar o papel do indivíduo na sociedade

Camile Triska
De assuntos políticos, como o “atual desgoverno e suas mazelas” e a desigualdade social, ao papel do indivíduo no mundo. É sobre o que versa e canta o rapper curitibano Beduino, que acaba de lançar um DVD gravado em novembro passado, no palco do Teatro do Paiol.
“Música Popular Beduína no Paiol”, que está disponível no canal do YouTube do rapper em todas as plataformas digitais de streaming, traz 16 faixas, sendo um poema e duas canções inéditas e 13 versões exclusivas de músicas do primeiro álbum do artista, “Música Popular Beduína”, lançado em 2019, que mistura ritmos brasileiros ao hip hop, e do EP “Normal”, de agosto de 2020, realizado em um formato mais caseiro relatando a experiência e opiniões de Beduino sobre a pandemia.
Para o músico, a arte e o rap, principalmente, têm papel essencialmente crítico e através da música, ele aborda temas que remetem à vida em sociedade e suas percepções como indivíduo sobre esses assuntos.
“Eu costumo usar fundos de cenas temáticos, como no caso da música “Habitat”, onde eu me coloco como um consumidor primário de uma cadeia ecológica na hora de falar da sociedade. Meus textos, que muitas vezes trazem sua mensagem de forma menos direta, obrigam o leitor ou ouvinte a refletir sobre as relações entre os elementos descritos para entender meu ponto de vista”, afirma.
Entre as faixas inéditas estão “Abrigo”, feita especialmente para a gravação do DVD. A música é uma coautoria entre Beduino e Jaquelivre, casal que atua em diversos projetos juntos, e aborda a possibilidade de encontrar abrigo em meio ao caos da vida, assim como em um relacionamento.
Das novas versões exclusivas para o DVD, o rapper aponta “Madruga” como uma de suas favoritas, que deu bastante trabalho para as backing vocals, segundo ele. “Apesar do desafio, é uma das minhas músicas preferidas do DVD, já que uma de suas características é um dueto entre MC e o baixo de Renan Loop.”

rapper curitibano Beduino
O DVD foi gravado no dia 22 de novembro de 2020. Foto: Divulgação

O show teve a direção musical do multi-instrumentista Renan Loop, músico de apoio da banda de Beduino, que ainda conta com DJ Bk12 nos toca-discos, Jaquelivre fazendo voz de apoio e intervenções poéticas e a cantora Mayah como backing vocal, além do convidado especial Caco, vocalista da banda Notívagos.

O incentivo vindo das ruas…

Os primeiros passos de Beduino na arte e no rap começaram nas ruas, quando explorava a cidade em cima de seu skate no fim da década de 2000. Pelas praças da cidade, ele conheceu o freestyle e as rimas improvisadas.
“Em 2013, eu entrei para faculdade e isso me afastou um pouco do rap. Mas, no segundo ano eu conheci um colega que tinha um equipamento de gravação em casa e eu gravei minha primeira música. Isso me motivou muito, e da necessidade minha e de alguns colegas de conciliar o rap e os estudos, a gente fundou em 2016, a Batalha das Casinhas, um evento de hip hop que acontece dentro do campus Politécnico da UFPR”, conta.

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O Batalha das Casinhas já teve 22 edições, estimula a ocupação da universidade como um espaço público, já ajudou a dar visibilidade para mais de duzentos artistas locais e possibilitou oferecer uma forma de entretenimento artístico gratuito e acessível para mais de três mil pessoas.
“O ponto alto do evento é a Batalha do Conhecimento, na qual MC’s são desafiados a improvisar rimas a partir de temas pré-estabelecidos pelos organizadores ou escolhidos pela plateia, criando um espaço de debate e estimulando o senso crítico dos MC’s e do público”, explica Beduino.
Outro projeto independente do qual o rapper faz parte é o Poesia Abstrata, que conta ainda com Jaquelivre e Poeta Gabriela e existe desde 2017. O projeto já reuniu centenas de poetas em torno de vídeos de poemas, saraus, palestras e apresentações inclusive no Festival de Curitiba e realização de oficinas de poesia e rap em escolas públicas da periferia de Curitiba.

… e a falta de incentivo de instituições

O DVD “Música Popular Beduína no Paiol” foi o único projeto de rap contemplado no último Edital Paiol Musical, da Fundação Cultural de Curitiba. “Um marco importante, pois os financiamentos por meio de leis de incentivo estão distantes dos artistas de rua da capital paranaense, seja por falta de explicações mais claras ou dificuldades em entender o processo ou pela falta de diversidade nas escolhas dos projetos”, diz.
Apesar de outros rappers já terem se apresentado no Teatro do Paiol, existem poucos registros audiovisuais dessas apresentações e o DVD, conta o artista, ajuda a ampliar o acervo desses registros, servindo de inspiração para que outros artistas de rua participem de editais de financiamento.
Beduino comenta que a cena do rap curitibano, em relação ao cenário nacional, ainda precisa de muito desenvolvimento e incentivo, pois carece de estrutura, tanto física quanto organizacional e, apesar de ter centenas de artistas, poucos conseguem ter o rap como profissão. “A iniciativa privada tem se aproveitado dessa fragilidade, sucateando o salário dos artistas locais, que encontram na abertura de shows de artistas nacionais, uma das poucas oportunidades de apresentarem seus trabalhos, se sujeitando a cachês muito abaixo do mercado, com a ameaça de não ser contratado”, critica o rapper.
Mais do que música, Beduino considera que rap é uma poderosa ferramenta de transformação social, que já surgiu com esse objetivo. “Nas nossas cidades, os jovens periféricos são afastados das opções de lazer do município, além de terem suas vozes constantemente silenciadas. Esses jovens encontram no movimento hip hop uma forma de se expressar e também uma oportunidade de lazer.”
Ele explica que o rap pode ser usado como ferramenta tanto para estimular o senso crítico do indivíduo quanto a produção textual de jovens e crianças por meio de uma linguagem que se aproxima da realidade e vocabulário do dia a dia deles, além de ajudar na profissionalização. “Esse ramo cria cadeias produtivas que empregam diversas pessoas, gerando uma economia criativa em volta do movimento hip hop”, aponta Beduino.

 
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