Giro pelo Brasil: Cantos de Xícaras apresenta temporada on-line até 27 de março

Explorando a mistura da linguagem teatral com a linguagem audiovisual, a encenação cria um ambiente estilo casa de vó

Num país marcado pelo protagonismo masculino e o machismo, quantas histórias fascinantes de mulheres não chegaram até nós? Inspirado por esta pergunta, o espetáculo volta ao passado e resgata as vozes soterradas de tantas mulheres que não foram ouvidas. Cantos de Xícaras, solo escrito, interpretado e dirigido por Helena Miguel (com codireção de Aline Filócomo e Thiago Amaral) apresenta temporada on-line até o dia 27 de março, sempre às 17h, no Youtube.
Cantos de Xícaras é uma “peça-chá-experiência” que nasce do desejo da também idealizadora Helena Miguel: revisitar muitas cartas, canções, cadernos de poesias, matérias de jornais, revistas e fotografias que chegaram até suas mãos por meio de guardados das mulheres de sua família e unir a este material outras histórias e tesouros de outras mulheres, com intuito de tecer uma colcha de retalhos de histórias resgatadas, recriadas, revisitadas e inventadas de tantas vozes que estão à beira do esquecimento.

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Como protagonista, uma xícara centenária, que já foi muito usada, já participou de muitos eventos, e agora jaz esquecida como enfeite em uma estante empoeirada, aguardando angustiada o dia de sua queda, de sua quebra ou de seu abandono. Conduzido pela voz inanimada desta xícara, o público é convidado a regressar a outros tempos, viajar por vários cantos de uma casa e saber das histórias, memórias e canções presentes em muitos chás da tarde entre mulheres.
“Resgatar estas vozes e estes fragmentos de memórias é, na verdade, resgatar as vozes constituintes da nossa história e dar visibilidade às mulheres idosas e um universo de saberes da tradição oral que vão se perdendo com o tempo”, conta Helena.

Sinopse

Esquecida em uma prateleira empoeirada e à beira de entrar na partilha de bens de uma família de São Paulo, uma xícara centenária resolve compartilhar com o público suas reflexões e resgatar as memórias do seu tempo de existência.
Relíquia resistente ao tempo, ela é a única de uma família de sete xícaras que permaneceu firme depois de tantas décadas. Percebendo que está prestes a ser encaixotada, que não participa mais dos chás de antigamente e a beira do esquecimento, ela resolve revisitar tantas histórias que testemunhou e que guarda no côncavo de sua porcelana, dando voz às memórias das bocas que a beijaram e que a acompanharam em tantas tardes de chá, em noites de frio, em manhãs de sol, com o desejo de que estas vozes permaneçam presentes junto à permanência desta xícara no tempo.

A montagem

Todos os materiais utilizados para elaboração do cenário, figurino e iluminação são usados e impregnados de histórias reais, testemunhas do tempo. O cenário é a própria casa da atriz, ambientada com móveis e objetos de suas ancestrais. Já a maior parte das gravações audiovisuais – que permeiam toda a peça – foram gravadas na casa da avó da atriz, localizada na Av. Rebouças, em São Paulo.
Os figurinos também são confeccionados por meio do aproveitamento de tecidos, anáguas, botões solitários, vestidos de avós, emaranhados de memórias, marcas do tempo e experiências. A iluminação fica por conta de luzes domésticas como abajures, lamparinas e velas.
Para a concepção musical do trabalho, o ponto de partida foi a tradição oral e a ambiência sonora na qual está inserida a história: vozes que emergem contando casos lá no quintal, portas que se abrem, vitrolas, vassoura que retira o pó do assoalho de jacarandá, a louça recebendo o líquido quente ou se encontrando no brinde de comemorações.
 
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