Edição brasileira da biografia do Jesus and Mary Chain tem lançamento em Curitiba

Escrita por Zoë Howe, biografia conta com prefácio exclusivo de Douglas Hart, membro fundador do grupo, em que critica Bolsonaro

Foto: Divulgação

Um pedal de guitarra quebrado e o mundo pop nunca mais seria o mesmo. Um ruído ensurdecedor gerado por uma caixinha de metal conectada a uma guitarra, uma timidez no limite da fobia social e a adoração ao Velvet Underground e ao pop do produtor Phil Spector arranharam feito arame farpado a pele pálida das paradas musicais inglesas dos anos 80, sob o nome sacana de Jesus and Mary Chain. Depois deles, tocar guitarra da maneira errada se tornou, pra muita gente, uma virtude.

A biografia da banda, “Barbed Wire Kisses, a história do Jesus and Mary Chain”, escrita por Zoë Howe, acaba de ganhar uma edição brasileira pela estreante Editora Sapopemba, com prefácio exclusivo assinado pelo baixista e membro fundador da banda, Douglas Hart, que não poupou o presidente Jair Bolsonaro. “Amo o fato de que o livro seja publicado no Brasil, por causa das minhas boas lembranças dos shows aí em 1990. E também porque o novo presidente do seu país é tão idiota que eu espero que a leitura deste livro possa alegrar as pessoas por alguns dias. Então, pode ser que elas considerem seriamente a ideia de tirar Bolsonaro do poder na próxima eleição”, escreveu.

O livro foi lançado no último dia 27 de junho, durante o show da banda, na comemoração de dez anos da Popload Gig, em São Paulo. E conta agora com novo lançamento em Curitiba, no próximo dia 24 de julho, a partir das 19h, na Livraria Barbante e no Ginger Bar, ambos no mesmo endereço, na Rua Saldanha Marinho, 1220 – Centro.

O evento terá a presença do editor Filipe Albuquerque e da tradutora Leticia Lopes Ferreira, que falarão do desafio de publicar a obra no Brasil em um bate-papo mediado por Abonico Smith. Logo depois, acontece a discotecagem “Mixology Especial: Jesus and Mary Chain” com  J.C. Branco. A entrada é gratuita.

A história do Jesus and Mary Chain
A obra “Barbed Wire Kisses, a história do Jesus and Mary Chain” conta a saga ímpar dessa banda formada por dois irmãos antissociais e um amigo em uma cidade pequena e sem graça da Escócia chamada East Kilbride. Entre fugir de delinquentes pelas ruas e tomar ácido pra matar o tédio, os irmãos Jim e William Reid mais Douglas Hart criaram uma fórmula capaz de subverter a ordem do rock pomposo que infestava as FMs que eles tanto desprezavam. Enveloparam melodias pop com distorção e microfonia e toparam o desafio de levar isso aos palcos, no distante 1984.

A execução dessa fórmula no volume máximo e com o desleixo e a arrogância necessários pra tamanha audácia – Hart tocava um baixo com apenas duas cordas – transformou os primeiros shows em celebrações do caos e da violência, e fez ruir a empáfia dos críticos ingleses. Psychocandy, primeiro álbum, lançado em novembro de 1985, deixou os semanários musicais ingleses de joelhos e é item obrigatório em qualquer coleção de discos de rock minimamente séria.

Zoë penetrou no mundo quase indecifrável dos irmãos Reid, ouviu as principais figuras que orbitaram ao redor de Jim e William desde 1983, quando a semente do Jesus and Mary Chain começou a germinar, e apresenta a história de uma banda que tinha tudo pra dar errado, mas que se tornou um dos nomes mais influentes do rock desde o lançamento do primeiro single, “Upside Down”, um ano antes do debut em LP, pela mítica Creation Records, de Alan McGee – a mesma que descobriu, na metade dos anos 90, outros dois irmãos-problema, Noel e Liam Gallagher, e com eles saiu da falência.

Das fotos “ao vivo” fabricadas dentro do quarto dos Reid pós-adolescentes aos problemas enfrentados no festival itinerante Lollapalooza em 1992; do enfrentamento a hooligans nos primeiros shows pela Inglaterra em 1984 à ressaca encarada durante a participação no programa do apresentador David Letterman, também em 1992, da briga e separação no palco do House of Blues, em Los Angeles, em 1998, à volta arrebatadora da banda, em abril de 2007, no palco do festival Coachella, acompanhados pela atriz Scarlett Johansson, Zoë não poupa ninguém nem deixa de fora histórias que teriam potencial pra arrasar a reputação de qualquer outra banda – não a do Mary Chain.

Ao se apropriar do título de uma das principais coletâneas de lados B da banda, Barbed Wire Kisses [Beijos de Arame Farpado], lançada em 1988, a autora revela a mistura da agressão e candura –psycho e candy – que encharca a música produzida pelos irmãos Reid e sustenta a trajetória da banda dentro e fora dos palcos.

A escritora inglesa Zoë Howe é autora também dos livros Typical Girls? The Story of the Slits e Stevie Nicks – Visions, lançados em 2009, How is Your Dad? – Living in the Shadow of a Rock Star Parent, de 2010, e Dreams and Rumours, de 2014. Vive em Essex, Inglaterra, com o marido Dylan.

 

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