Curitiba de Graça estreia coluna Era uma vez

Jornalista Tina Demarche trará dicas e entrevistas com escritores de literatura infantojuvenil

O Curitiba de Graça inaugura hoje a coluna sobre Literatura Infantil e Juvenil. Uma proposta de compartilhar conhecimento com pessoas ligadas a esse universo mágico e, por isso, encantador.
O início – 18 de abril – coincide com o Dia Nacional do Livro Infantil. Não por acaso é a data de nascimento de Monteiro Lobato, considerado o pai da Literatura Infantil Brasileira.
Para essa primeira coluna vamos falar sobre os contos de fada e a literatura infantil e juvenil.
Era uma vez…
Por Tina Demarche

Pingue-pongue com Cleber Fabiano 

Era uma vez… um universo onde tudo é possível! Sereias viram gente, soldadinhos de chumbo se apaixonam, animais falam, abóboras se transformam em carruagens e ohhh! borralheiras se casam com príncipes.
Os contos de fadas não só trazem à criança a magia e o encantamento da fantasia – que permite que ela escape de um cotidiano muitas vezes nocivo e violento – como possibilitam que ela se identifique com personagens e descubra que, sim, pode haver uma solução para os problemas que enfrenta e um significado para a vida.
Sobre os contos de fadas, o gênero que dá base à formação da literatura infantil, conversei com o doutor e mestre em Educação, professor Cleber Fabiano. Graduado em Letras, Fabiano tem extenso currículo: é diretor geral da Fatum Educação; ministra cursos, consultorias e palestras; é autor de livros teóricos sobre crítica da Literatura Infantil, tendo sido ganhador do Prêmio Acervo FNLIJ (2014) na categoria Teoria Literária; é membro imortal da Academia Brasileira de Contadores de Histórias; convidado frequente de seminários e congressos internacionais sobre literatura infantil e contação de histórias.
Vamos ao bate-papo:
O que é um conto de fadas? Existem características peculiares. Quais são?
A expressão contos de fadas, etimologicamente, tem sua origem na palavra fada, do latim fatum, que significa destino, fatalidade. Suas características mais peculiares residem no fato dessas histórias partirem de uma dada realidade, surgir um conflito que será resolvido no plano da imaginação e o retorno a realidade com a superação desse obstáculo. Em suma, são enredos que mostram os desafios enfrentados pelos personagens e como eles, ao resolver seus conflitos, dão novo sentido ao destino de suas vidas.
Que papel tiveram os contos de fadas na vida de adultos e crianças de antigamente?
Pode-se dizer que, antigamente, os contos de fadas exerciam um papel expressivo e fundamental e eram as bibliotecas vivas daquela época. Importante registrar que a Literatura Infantis surge muito tempo depois. Caracterizada pelo adjetivo infantil, apareceu com o surgimento da família burguesa, sendo, portanto, um fenômeno novo e apresentando um novo jeito de ver a infância. Durante séculos a ideia de um adulto em miniatura prevaleceu e as crianças participavam da vida adulta de uma forma tão intensa que para nós contemporâneos poderia ser classificada como imoral, uma vez que não existia a diferenciação entre atividades adultas e infantis.
Que papel têm nos dias atuais? O que mudou de lá para cá?
Hoje pode-se dizer que esse contos estão cada vez mais vivos e estão nos centros de educação infantil, nas escolas, nos livros endereçados aos pequenos ou nas leituras noturnas para chamar o sono dos filhos. Os contos de fadas passeiam no mundo contemporâneo e causam frenesi nos filmes, nas campanhas publicitárias, nos games, nas festas à fantasia. São motivos de decoração em quartos de bebês ou bolos de aniversário das crianças, enfim, circulam em várias linguagens e grupos sociais de todas as idades.
Quais os grandes nomes ligados aos contos de fadas?
Existem muitos narradores dos contos de fadas. Podemos citar como alguns desses nomes Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen. No entanto, muitas mulheres se dedicaram a escrever contos e, naturalmente, só agora estão com seus nomes marcados na história uma vez que não era dado a mulher essa condição de escritora. Para citar algumas: Condessa D’Aulnoy), Marie-Jeanne L’Héritier de Villandon, Condessa de Murat, Chevalier de Mailly, Madame de Villeneuve e Jeanne-Marie Leprince de Beaumont.
Qual a ligação existente entre os contos de fadas e a Literatura Infantil?
Pode-se afirmar que os contos de fadas constituem a base da formação da Literatura Infantil, sua gênese, embora, saibamos que não existia uma autoria pois a fonte era tradição oral. Em toda a Europa, as primeiras obras editadas referiam-se a contos de tradição folclóricos coletados de contadores populares e organizados em forma de histórias ou, como no caso dos Grimm, mescladas entre a fonte da tradição oral e algumas consultas aos manuais de folclore europeus.
Qual sua avaliação da condição da Literatura Infantil nos dias de hoje, em outros países e no Brasil?
Creio que temos, no Brasil e no mundo, excelentes obras e autores de Literatura Infantil. Algo que ainda precisamos é pensar nas estratégias utilizadas pelos adultos (pais, professores, mediadores) para fazer os livros chegarem efetivamente nas crianças. Muitas vezes, as obras são usadas na mediação com o propósito didático-pedagógico de mera ilustração de conteúdos ou como instrumento de aprendizagem e moralização. Vale lembrar que essa literatura deve ser entendida como categoria de arte, com uma função fruitiva e sem ligação com pretextos pedagógicos ou de ensinamento de valores.

Quem indica o quê

Lúcia Tulchinski é jornalista pela UFPR e escritora. Morou três décadas na capital paulista, onde iniciou sua carreira de escritora em 1994 com Vupt, a fadinha e O porta-lápis encantado. Publicou adaptações dos clássicos Fábulas de Esopo, Viagem ao Centro da Terra, Viagens de Gulliver e O Mágico de Oz. Lançou Histórias Maravilhosas do Brasil, reconhecido como “altamente recomendável” pela FNLIJ. Em parceria com Rosana Rios, publicou O segredo da montanha. Em 2019 lançou Monstronário – Monstros e Assombrações do Brasil de A a Z. Em 2020 voltou a morar na capital paranaense, onde pretende desenvolver projetos de incentivo à leitura em escolas e bibliotecas.


“Um livro que marcou minha vida é o clássico Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Ainda tenho comigo o original que ganhei lá pelos anos de 1970. Até hoje sou apaixonada pelos personagens da história como Dona Aranha, a costureira centenária, a boneca falante Emília, o Visconde de Sabugosa, Pedrinho, Dona Benta, Tia Anastácia e Narizinho, que para meu mais puro deleite chama-se Lúcia. Esse livro me levou para reinos encantados, como o das Águas Claras, para a brejeirice do sítio, para um espaço-tempo único. Adoro como os personagens interagem nos diálogos. Minha imaginação despertou para muitas possibilidades criativas com a leitura de Reinações de Narizinho. Lobato é um mestre para mim. Recomendo para todos a leitura deste livro. Ler é mágico e abre portas dentro da gente”.

Eu indico

O livro “Lá e Aqui”, de doçura intensa – no texto e na ilustração – para tratar de um assunto às vezes traumático, tão pertinente e quase corriqueiro nos dias atuais: a separação dos pais. De Carolina Moreyra, com ilustração de Odilon Moraes, Editora Pequena Zahar.
 

Tina Demarche é jornalista, apaixonada por literatura infantil e metida a escritora. Também gosta de crianças, animais e plantas. Sonha com um mundo sem fronteiras, como o mundo da imaginação. E-mail de contato: tinademarche@yahoo.com.br
 
 
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11 COMENTÁRIOS

  1. Excelente a ideia desta coluna , adorei !!!Parabens a todos jornalistas que fazem parte dela !! Hoje , a nossa querida e competente Tina Demarche !!!

  2. Muito bacana a idéia dessa coluna.
    Parabéns Tina.
    Eu tinha até esquecido que nos tempos de piá eu era um devorador dos livros do Monteiro Lobato. E depois de crescido passei a ler também o que ele escreveu para jovens e adultos.

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