Ser alfabetizado em nosso país representa muito mais do que se ter o domínio da leitura e da escrita, representa estar dentro de uma das fatias privilegiadas socialmente
Viviane Schueda Stacheski
Que importância é dada por cada pessoa à sua alfabetização? O que é ser alfabetizado em nosso país? Para quem é alfabetizado e a teve na idade certa, nem consegue imaginar o que seria de sua vida sem o domínio da leitura e da escrita, já que essas atividades são naturais no dia a dia e em diversas práticas corriqueiras. Mas, esse cenário muda completamente quando tratamos das pessoas não alfabetizadas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 7% da sua população analfabeta, isso transformado em números equivale a 11,5 milhões de pessoas que vivem sem conseguir reconhecer informações simples e úteis em seu cotidiano, já que esses dados equivalem ao analfabeto completo, não aqueles que sabem escrever seu nome e ler e escrever algumas palavras. Diante disso, se faz necessário lembrar que por trás das pessoas que não foram alfabetizadas, há sempre um senão social que as impediram de frequentar a escola. Como exemplo, podemos pensar nas pessoas que vivem muito distantes e não têm locomoção para chegar a elas; nas muitas famílias que não puderam matricular seus filhos, pois necessitavam de seus serviços braçais, embora ainda menores de idade; nos tantos brasileiros que acabaram vivendo nas ruas correndo atrás de esmolas para não morrerem de fome, dentre tantos outros casos.
Motivos para o não acesso à alfabetização são muitos, mas as ações para diminuir esse número ainda não demonstram resultados para uma queda significativa. A meta de número 9 do Plano Nacional de Educação tem como objetivo elevar a taxa de alfabetização e atingir zero por cento da taxa de analfabetismo até 2024, número este impossível de atingir, já que em 2019, de acordo com Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada pela Agência Brasil, a taxa era de 6,6%. Para o índice dessa pesquisa são consideradas as pessoas com mais de 15 anos e para que esse número diminua, são necessários fortes investimentos na Educação de Jovens e Adultos com campanhas de resgate àqueles que não tiveram oportunidade de ensino na idade certa.
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Por conseguinte, ser alfabetizado em nosso país representa muito mais do que se ter o domínio da leitura e da escrita, representa estar dentro de uma das fatias privilegiadas socialmente, já que não lhe foi negado o direito ao acesso ao ensino das letras. Privilégio este, maior ainda, para aqueles que tiveram oportunidade de acesso e de permanência na educação básica.
Frente a isso, nos cabe sermos gratos e conscientes de que o nosso direito à educação foi preservado e, na medida do possível, buscarmos maneiras de agir a favor da mudança do cenário de analfabetismo do nosso país. Não apenas para a melhoria dos índices nacionais perante às organizações mundiais, mas, principalmente, para que para esses milhões de brasileiros passem a enxergar o mundo com a clareza das letras e possam recuperar, ainda que tardiamente, seus direitos à educação.
Viviane Schueda Stacheski é mestre em Ciências Humanas e professora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter
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