“Não Se Mate” apresenta o ator, diretor e produtor Giovani Tozi na dramaturgia
Com interpretação de Leonardo Miggiorin, que morou por muito anos em Curitiba, participação especial de Luiz Damasceno, design de luz de Cesar Pivetti e figurino de Fábio Namatame, estreia no dia 2 de abril o espetáculo inédito “Não se mate”, que apresenta o ator, diretor e produtor Giovani Tozi na dramaturgia. As sessões ocorrerão sempre de sexta a domingo, às 20h, com transmissão gratuita pela Sympla. A peça ficará em cartaz até o dia 11 de abril.
O titulo do espetáculo faz referência ao poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, lançado em 1962, como parte da “Antologia Poética”, organizada pelo próprio autor. Além de “Não Se Mate”, poemas emblemáticos de Drummond costuram a história, entre eles: “Poema das Sete faces”, “E agora José” e “Uma Pedra”.
Drummond é um dos mais importantes autores brasileiros e um dos grandes colaboradores para a vanguarda modernista que revolucionou a literatura no Brasil. A semana de Arte Moderna, que completa 100 anos em 2022, foi um marco simbólico para repensar as estruturas dominantes entre os autores nacionais. Seguindo esse lugar de experimentação, Drummond evidenciou seu brilhantismo pela fluência de suas palavras, que conseguem transitar entre frases elaboradas e versos livres, sem deixar de ser popular e elegante. A profundidade alcançada pelo autor é notável, Drummond agregou aspectos existencialistas aos seus poemas, refletindo sobre os avanços tecnológicos e suas implicações como a guerra e a bomba atômica.
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Essa fluência entre o erudito e o popular é o primeiro desafio de Leonardo Miggiorin, que busca equilibrar a freqüência dos poemas de Drummond à dramaturgia de Tozi. O autor conta que “os poemas foram sendo incorporados ao texto de forma muito natural. “Tentei fazer com o que a minha vontade pessoal não se sobressaísse ao que a obra me pedia. Dessa forma, procurei escutar o personagem e, mesmo sendo muito fã dos poemas de Drummond, me contive ao que era necessário na história.”
Na história, Leonardo Miggirion interpreta Carlos, um artista plástico que vive um momento complexo de perdas. Essas ausências afetam diretamente o seu equilíbrio emocional. Mesmo partindo de um tom humorado, onde o personagem ainda consegue rir de si próprio, o texto propõe um mergulho psicológico, amparado pelos poemas e pela noção de autonomia proposta pelo existencialismo, onde o ser humano é diretamente responsável pelas perdas que coleciona.
“Hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será”
Carlos Drummond de Andrade
A abordagem psicológica do texto ganha força no entendimento e na intimidade de Miggiorin com o tema, que é formado em psicologia. O ator, que já fez atendimento em consultório clinico, aproveitou o tempo disponibilizado pela pandemia para iniciar uma pós graduação (online) em psicodrama. Sobre esse interesse o ator comenta: “Sempre quis estudar psicologia antes mesmo de pensar em ser ator. Mas a carreira na atuação surgiu de surpresa e deu certo, então aproveitei ao máximo, pois é algo que amo e me realiza muito. Neste momento da minha vida, a psicologia está a serviço da arte.”
Parceria com Damasceno
Sinal dos tempos de pandemia, Leonardo Miggiorin divide a cena de forma virtual com o veterano Luiz Damasceno, que completa 80 anos em 2021. Ator consagrado nos palcos, Damasceno interpreta José, um homem misterioso que passa a enviar mensagens ao celular de Carlos. As imagens foram captadas no apartamento do ator, seguindo todos os protocolos, afinal em um ano de comemoração tão importante seria impensável não estar no teatro, mesmo digitalmente.
Damasceno e Tozi já são parceiros de trabalho há tempos. Estrearam em 2009 como pai e filho em “O Colecionador de Crepúsculos”, de Vladimir Capella; interpretaram o mesmo homem, em idades e tempos diferentes, em “Pergunte ao Tempo”, de Otavio Martins; foram dirigidos por Jô Soares quando lutaram em diferentes lados em “Tróilo e Créssida” , de William Shakespeare; e uma porção de outros mais.
Sobre a parceria, Tozi comenta: “Os trabalhos de teatro que me fizeram mais feliz, têm sempre a participação do Damasceno. Eu brinco que é o meu pai teatral, porque aprendo tudo com ele. Nunca pensei que um dia eu fosse dirigi-lo e agora que aconteceu percebo que os grandes atores, além dos recursos técnicos e do talento – que lhe és nato – há também uma generosidade imensa e um respeito absoluto em transmitir o essencial desse oficio.”
“Não Se Mate” estreia em um ano em que as mortes pela covid-19 alcançam seus mais altos índices. O imperativo do título pode ser um pedido de paciência a todos aqueles que perderam nessa pandemia. Perderam o emprego, um amigo, um ente querido, perderam os sonhos ou a vontade de continuar.
Sobre o momento para realizar essa peça o diretor diz: “Assim como todos, somos incapazes de reverter a dor causada a tantas famílias brasileiras por esse vírus. A única forma da gente tentar se aproximar, com todo nosso respeito e empatia, é oferecer aquilo que dedicamos a vida a fazer, que é o nosso trabalho e, através dele, inspirar fé no que vem por aí”.
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