“E assim, vamos tecendo a vida, bordando caminhos,
conquistando sonhos e no final… o que valeu
mesmo foram os corações que tocamos”
(BETTEGA, 2020)
Por Alexandra F. M. Ribeiro e Alboni. M. D. P. Vieira
A professora Maria Odette de Pauli Bettega, nasceu em Curitiba, no dia 23 de setembro de 1948, filha de Dario Leonardi Bettega, cirurgião dentista, e de dona Odete Nazarena de Pauli Bettega, auxiliar de enfermagem. Foi a mais nova de dois irmãos homens.
Maria Odette pertence à quarta geração de imigrantes italianos, oriundos da Província de Trento, da comuna de Fiera di Primiero, na região do Trentino-Alto Ádige. Em entrevista concedida às autoras, lembra que seu pai lhe contava que o bisavô, Giovanni Bettega, havia vindo da Itália em um navio chamado La Picolla Golondrina, que saíra de Gênova e chegara a Paranaguá, em 1877. Na Colônia Novo Tirol de Piraquara, o bisavô instalou a indústria J. Bettega, ligada ao setor madeireiro. Mais tarde, expandiu suas atividades para várias localidades no Paraná, exportando madeiras e produtos para outros estados do país e para o Prata.
Nos primeiros anos de vida, Maria Odette residiu em Porto Vitória, pequena cidade do interior do Paraná, na qual seu pai gerenciava uma das filiais das Indústrias J. Bettega de Curitiba. Nessa cidade, havia um clube que possuía um salão de molas, que balançava, e no qual as crianças adoravam brincar. “Era uma delícia!”, lembrou sorrindo. Menina, ainda, foi a mascote de um time de vôlei feminino de Porto Vitória.
Mais tarde, a família se mudou para União da Vitória, cidade em que Maria Odette realizou seus estudos no Colégio de Aplicação “José de Anchieta” e, mais tarde, a primeira e a segunda séries do ginásio, no Colégio Santos Anjos. Novamente a família se mudou, desta vez para Curitiba, onde concluiu o ginásio no Colégio Sacré Coeur de Jesus, hoje Colégio Madalena Sofia, e cursou o clássico e o normal.
Maria Odette identifica precisamente o momento em que surgiu sua inspiração para ser professora e relata: foi no período em que o Papa João XXIII realizou o Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965, o qual gerou transformações profundas na Igreja. A partir das discussões nesse Concílio, sentiu necessidade de voltar-se para as pessoas mais vulneráveis, carentes de solidariedade e de amor. Decidiu estudar novas formas de olhar as pessoas em situação de risco – vulneráveis -, especialmente as crianças e os adolescentes provenientes das chamadas comunidades de baixa renda.
Movida por seu sonho, cursou Ciências Sociais, na Universidade Federal do Paraná, o que lhe propiciou ferramentas para analisar mais criticamente a realidade e aprofundar as políticas voltadas a crianças e adolescentes em situação de risco. Era o início de seus estudos na área da pedagogia social, criada pelo médico Bernard Lievegoed, em 1950, e que se caracteriza por ser “um projeto radical de transformação política e social” (GRACIANI, 2006, p. 2).
Concluído o curso de Ciências Sociais, ingressou na Congregação do Sacré Coeur de Jesus (atualmente Sagrado Coração de Jesus), com o objetivo de trabalhar com projetos e ações que levassem a uma transformação social, principalmente pela educação. Durante o período em que esteve vinculada à Congregação, trabalhou em Belo Horizonte e em Itabira, ambas no estado de Minas Gerais. Em Itabira, foi professora e diretora da Faculdade de Ciências Humanas de Itabira – FACHI, além de diretora do Centro Integrado de Atendimento ao Menor – CIAME. O CIAME, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de MG, objetivava o atendimento de crianças e adolescentes oriundas de famílias mais necessitadas, no horário em que não se encontravam na escola.
As ações e programas ofertados para as crianças e os jovens compreendiam o reforço escolar, a alimentação saudável, o apoio sócio familiar e os cursos profissionalizantes de marcenaria, eletricidade e de bombeiro hidráulico, além da reconstrução de vínculos familiares e comunitários. As ações, os programas e as atividades do CIAME eram embasadas na pedagogia de Paulo Freire. Para Maria Odette, era o início da articulação entre a teoria e a prática relacionadas à pedagogia social.
Deixando a Congregação, retornou a Curitiba, onde realizou o mestrado em Educação na Universidade Federal do Paraná e, no mesmo período, foi aprovada em concurso público para a docência na universidade, passando a integrar o Departamento de Planejamento e Administração Escolar – DEPLAE.
Com um grupo de professores do Setor de Educação, participou da criação de um Núcleo de Apoio à Criança e ao Adolescente em situação de risco, que tinha por finalidade elaborar projetos, programas e ações para a capacitação dos Conselheiros Tutelares de Curitiba, ofertar cursos sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, realizar pesquisas a respeito das crianças em situação de rua e assessorar os órgãos públicos municipais e estaduais quanto à educação em direitos humanos.
Aposentada da UFPR, em 1998, recebeu convite das Irmãs do Colégio Madalena Sofia para exercer a direção da Escola Cônego Camargo, filantrópica, no Bairro Alto, em Curitiba. Durante cinco anos foi gestora da escola e, com a comunidade escolar, realizou atividades que culminaram com uma rede como base de apoio ao desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Nesse percurso, buscou conciliar os princípios educacionais de Madalena Sofia Barat (fundadora da Congregação que subsidia a Escola), com a pedagogia transformadora, de Paulo Freire. Esses princípios se resumem em um compromisso com uma educação transformadora, que objetiva formar líderes, pessoas e grupos com critérios éticos, capacidade de autonomia, solidariedade e responsabilidade.
De 2009 a 2013, Maria Odette atuou na Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional, coordenando as políticas de avaliação institucional e exercendo a função de Pesquisadora Institucional da UFPR. Na sequência, coordenou o Planejamento Institucional da Pró-Reitoria de Orçamento, Planejamento e Finanças da instituição.
Atualmente, dedica-se a atividades de consultoria, palestras e cursos. Para ela, sua vivência como educadora faz lembrar a frase de Paulo Freire: “Eu gostaria de ser lembrado como um sujeito que amou profundamente o mundo e as pessoas, os bichos, as árvores, as águas, a vida” (FREIRE, 2004, p. 329).
Para saber mais, consulte: http://lattes.cnpq.br/1225697930610733
Referências
- FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire: uma história de vida. São Paulo: Paz e Terra, 2018. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=zd51DwAAQBAJ&pg=PT41&lpg=PT41&dq#v=onepage&q&f=false . Acesso em 29 jun. 2020.
- GRACIANI, Maria Stela Santos. Pedagogia social: impasses, desafios e perspectivas em construção. 2006. Disponível em: http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000092006000100038&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 30 abr. 2020.
Agradecemos à professora Maria Odette de Pauli Bettega, pela entrevista concedida e pela cessão da foto que ilustra esta coluna.
Parabéns pelo artigo e publicação. Conheço a pessoa a profissional e cidadã , Maria Odette há muito tempo, desde a organização do Sindicato dos Sociólogos do Paraná. Dedicou – se com prazer e deu tudo de si em todas as etapas de sua vida profissional. Doou- se sempre porque acredita nas pessoas e no seu poder transformador. Minha solidariedade e meu eterno reconhecimento a esta amiga de sempre. Abração fraterno! Beth.
Muito obrigada pelo seu testemunho!
Tive a oportunidade de trabalhar com a Professora Maria Odete e vivenciar seu jeito meigo e agregador. Parabéns pela escolha da entrevista. Parabéns pela história Professora Maria Odete.