Bate-papo abordará as idas e vindas da censura no cinema a partir de um antigo código de proibições de Hollywood
Camile Triska
Você sabia que já existiram diversas regras de censura para os filmes hollywoodianos? Ou que filmes clássicos, como “Casablanca” e “Festim Diabólico”, entre outros, tiveram que adaptar cenas e roteiro para se enquadrar em uma “lei de moral e bons costumes”?
Entre as décadas de 30 e 60, a Associação de Produtores e Distribuidores de Filmes da América criou o Código Hays, que tinha uma lista de proibições para as produções. Esse controle moral, que acabou deixando rastros até hoje no cinema norte-americano, será o tema de discussão de uma live neste sábado (15/05), às 19h, pelo Instagram @festivalcineurge. O bate-papo virtual é uma ação do do Festival Itinerante CineUrge, que está previsto para acontecer em julho.
Com o tema “Cinema X Moral”, o artista visual e diretor geral Edson Godinho conversará com Flávio Jayme, jornalista cultural e terapeuta com especialização em psicologia e diversidade sexual, que também é colunista aqui, no Curitiba de Graça.
O bate-papo terá como ponto de partida justamente o Código Hays e os resquícios que ainda deixou, passando pelo desenvolvimento de um cinema possível para temáticas diversas até a atualidade, com novos movimentos de regulação no audiovisual do Brasil e do mundo. “O que falaremos é bem do ciclo censura-liberdade-censura e de como hoje conservadorismo tenta derrubar a liberdade, mas ela luta de igual pra igual, diferente de antigamente”, revela Flávio Jayme.
Controle do conservadorismo
O nome Código Hays é em alusão ao advogado e presbiteriano Will Hays, que foi contratado para tentar melhorar a imagem de Hollywood após uma série de escândalos, como a acusação de estupro e assassinato da atriz Virginia Rappe pelo ator Fatty Arbuckle.
“O código Hays foi criado pra ‘controlar’ alguns abusos e censurar os filmes. Ao mesmo tempo que um controle era necessário, já que até estupros aconteciam durante as filmagens, o pessoal conservador viu ali uma maneira de também censurar o que achava inadequado, como cenas de nudez, violência, palavrões ou até mesmo romance interracial. Havia uma série de podes e não podes listados”, revela Flávio Jayme.
Com uma lista de proibições (confira no final da matéria as principais), os filmes passavam pela avaliação e recebiam um selo se estivessem adequados. Caso reprovados, precisavam pagar uma multa e não eram distribuídos pela associação, o que reduzia o alcance comercial.
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Mas, a censura era aplicada somente para os filmes. Por trás das câmeras, a realidade não mudou e ainda ficou protegida pelo próprio Código Hays, deixando vestígios até mesmo depois dele acabar, em 1966. “Acho que uma das principais consequências do Código Hays que ainda podemos ver é a presença e fortalecimento do conservadorismo em atitudes machistas e preconceituosas que não eram questionadas, como as que estão acontecendo com o Globo de Ouro: a atriz Scarlett Johansson disse que as atitudes da organização do prêmio (HFPA) deram aval pro comportamento abusivo de gente poderosa como o Harvey Weinstein (preso por estupro e assédio sexual de atrizes). Esse tipo de comportamento dele só acontecia porque o Código Hays, de certa forma, dava aval pra isso”, observa Flávio Jayme.
LISTA DAS PRINCIPAIS PROIBIÇÕES DO CÓDIGO HAYS
- Sexo apresentado de maneira imprópria
- Cenas românticas prolongadas e apaixonadas
- Ridicularizar funcionários públicos
- Retratar religiosos de maneira pejorativa ou cômica
- Filmes com o tema da escravidão branca
- Destacar o submundo
- Ofender crenças religiosas
- Referências a doenças venéreas
- Tornar os vícios atraentes
- Tornar o jogo e a bebida atraentes
- Enfatizar a violência
- Uso de drogas
- Nudez
- Exibir em detalhes métodos de ação criminosa
- Retratar gestos e posturas vulgares
- Miscigenação e alusão ao amor entre brancos e negros
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