O espetáculo solo “O Caderno Rosa da Senhora H”, baseado em obra de Hilda Hilst, traz para o teatro a vivência da leitura de um livro
Quando lemos um livro, estamos sozinhos, em um universo totalmente nosso. Já o teatro é um momento coletivo, que dividimos com tantos outros espectadores. Mas, e se essa experiência individual da leitura pudesse ser levada para a plateia de uma peça? Esse é um dos propósitos do espetáculo solo O Caderno Rosa da Senhora H, produzida pela Boreal Companhia de Teatro e baseada no livro O Caderno Rosa de Lori Lamby, da escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004), que está em sua segunda temporada em Curitiba, com apresentações no Teatro José Maria Santos até o dia 11 de agosto.
A disposição da plateia, em formato de arena, tem características não convencionais, para tentar propor uma experiência teatral mais individualizada, como explica a atriz Thyane Antunes. “O cenário é composto por 20 cabines fechadas, onde as pessoas não têm nenhum acesso a quem está ao seu lado. Na frente também tem uma cortina, é como se o espectador estivesse escondido e espiando aquele mundo que está sendo encenado, fazendo a sua leitura.”
O monólogo apresenta uma garota de oito anos, a Lori Lamby, escrevendo histórias pornográficas em um caderno cor-de-rosa. Apesar do choque do impacto inicial que o espectador tem, a história acaba tendo um desfecho totalmente diferente e inusitado. “Só essa primeira ideia da peça já deixa você um pouco com o pé atrás, algumas pessoas ficam chocadas com a história, mas quando você acompanha e vai até o final, descobre que algumas coisas não são exatamente da maneira como você vê pela primeira vez”, comenta a diretora Cris Betina Schlemmer.
O texto, adaptado pela diretora Cris Betina Schlemmer, pela atriz Thyane Antunes e pelo dramaturgo Lucas Komechen, também apresenta a própria Hilda Hilst, que explica as motivações que a levaram a escrever esse livro. Um desafio para a atriz Thyane Antunes, pois ambas as personagens são encenadas por ela. “A Hilda é a parte mais difícil pelo fato de ser uma pessoa que existiu e a maior parte dos vídeos que eu tive acesso, ela já estava bem mais velha, mas mostramos na peça uma Hilda jovem, dos anos de 1990. Em contraponto, temos a Lori, que é uma criança de oito anos. Muito espontânea, ela fala de tudo muito abertamente, sem absolutamente nenhum problema. Então, acaba sendo um pouco estranho, para mim, como atriz, me acostumar a falar as coisas com a naturalidade que o personagem fala, pois não imaginaria uma garotinha falando assim”, relata a atriz.
Teatro e leitura
“O Caderno Rosa de Lori Lamby” é o primeiro livro da chamada “Trilogia Obscena” de Hilda Hilst, escrito para atender a uma solicitação do mercado livreiro que insistia que a escritora tivesse textos mais comerciais e com garantia de vendagem. “Nós procuramos preservar ao máximo o texto da Hilda, praticamente não existem palavras nossas, toda a escrita é da Hilda. E como tem dados autobiográficos nessa história, foi inevitável durante o processo criativo trazer a própria Hilda como personagem da história”, revela a diretora.
Um dos objetivos da peça é fazer com que o espectador também se interesse pela obra da escritora. “É um texto incrível, nosso maior trabalho foi fazê-lo chegar ao público da melhor forma possível e da maneira como nós achamos que a Hilda poderia querer. Por isso, tentamos trazer o humor e todas as críticas que ela fez. A nossa maior expectativa é que as pessoas que assistem ao espetáculo saiam de lá querendo ler a obra da Hilda Hilst”, considera Thyane Antunes.
Apresentações
As apresentações ocorrem sempre de quinta-feira a sábado, às 20h, e aos domingos, às 19h. A classificação indicativa é 18 anos. Os ingressos custam R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada) e podem ser adquiridos no site Disk Ingressos. O Teatro José Maria Santos fica na Rua Treze de Maio, 655 – São Francisco.