JK Rowling, de Harry Potter, Amandine Dupin e as irmãs Brontë são algumas mulheres que precisaram usar pseudônimos ou apenas iniciais de seus nomes para começarem a ser lidas
Mariana Ramiro
Li uma matéria no ano passado que trazia uma informação consternadora, mas nada surpreendente: 80% dos livros mais populares da história foram escritos por homens.
Homens escreveram, de fato, muitas obras importantes, atemporais e relevantes ao longo da história. Isso é inegável e não é o que está em discussão aqui. Mas a porcentagem discrepante entre obras masculinas e femininas apresentada na matéria que eu citei não se deve ao fato de que mulheres não escrevem livros nem a alguma incapacidade feminina e muito menos por mulheres escreverem algum tipo de “literatura inferior”, como já foi defendido no passado.
Por uma série de fatores históricos que talvez não caibam neste pequeno texto, a produção intelectual feminina foi muito desqualificada ao longo do tempo. Mulheres não eram incentivadas a publicar suas histórias e, quando o faziam, eram muitas vezes julgadas e criticadas ferozmente. Livros escritos por mulheres eram classificados como “literatura feminina” e inferiorizados, enquanto os livros escritos por homens eram apenas “literatura” e tidos como universais. Muitas autoras, para fugir de preconceitos, evitar ideias pré-concebidas sobre suas obras ou até para que a venda não fosse prejudicada, tiveram que publicar seus livros sob pseudônimos masculinos ou, mais recentemente, usando somente as iniciais de seus nomes, como foi o caso de JK Rowling, Amandine Dupin, das irmãs Brontë, entre tantas outras.
Para quem pensa que essa discrepância é coisa do passado, os dados divulgados pelo grupo de Estudos em Literatura Brasileira, vinculado à Universidade de Brasília, podem ser surpreendentes: entre 1965 e 2014, mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras foram escritos por homens.
Mesmo com tudo isso, gosto de me manter positiva: desses livros mais populares citados na matéria, o principal e mais popular deles foi escrito por uma mulher (O Sol é Para Todos, da Harper Lee) e há uma grande movimentação hoje para que mais livros escritos por mulheres sejam lidos – e o mesmo acontece com livros escritos ou protagonizados por pessoas negras, LGBT, pessoas de diferentes nacionalidades e regiões etc. Inclusive, há pequenas editoras e selos focados nesses livros.
Particularmente, acho isso muito animador. Vamos dar espaço à boa literatura, independente de quem a produz, sem desqualificar as obras previamente devido às suas origens e exaltando todas as grandes obras, sejam elas escritas por homens ou por mulheres.
Como o natural é que busquemos pelas obras mais conhecidas ou mais divulgadas, muitas vezes precisamos fazer um esforço consciente em busca dessa igualdade. Por isso, quero deixar um convite a todas e a todos, reforçado pelo Dia da Mulher: que tal começar este mês lendo livros escritos por mulheres?
Esse é o meu primeiro texto para o Curitiba de Graça. Vou trazer quinzenalmente dicas de livros ou comentários sobre literatura. Você vai encontrar as mais diversas obras por aqui. Espero que me acompanhe e possamos trocar muitas figurinhas e dicas a respeito deste tema.
De uma apaixonada por livros para outros – ou para futuros apaixonados por livros, quem sabe?
Deixo aqui uma lista de referências para vocês:
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Mariana Ramiro é uma profissional de marketing apaixonada por livros desde que se conhece por gente. Ela também é dona do canal Ressaca Cultural, no YouTube, onde compartilha experiências literárias e cinematográficas e você pode acessar, AQUI.
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