Com inspirações na extinta Revista Joaquim, Toma aí um poema explora conteúdos digitais e aposta em temas contemporâneos e subversivos
Curitiba é o berço de grandes escritores, como o grande poeta Paulo Leminski, o renomado contista Dalton Trevisan e a referência contemporânea Luci Collin, só para citar alguns. Nesse cenário, as publicações voltadas à literatura também sempre foram destaque na capital. Ainda em 1857, surgiu “O Jasmim”, o primeiro jornal literário do paraná. Já na década de 1940 circulou a moderna “Joaquim”, uma revista repleta de ambições gráficas. Atualmente, os jornalis “Rascunho” e “RelevO” também se dedicam ao unvierso literário e, agora, uma nova revista surge para os amantes dos livros: a “Toma aí um poema.”
A revista digital, que é gratuita e terá periodicidade bimestral, foi lançada no dia 15 de junho com um design gráfico minimalista e recursos digitais. Suas web páginas têm vídeo-performances, declamações, publicações do Instagram, pré-vendas de livros e outros links interativos, como a última página “Poemas sortidos”, na qual o leitor escolhe um link e clica para continuar navegando por poesia na internet, ao invés de fechar a revista e encerrar a experiência da leitura. Junto com a publicação, ainda foi lançado um podcast.
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A primeira edição de “Toma aí um poema” traz a fotografia de capa de Darlene Andrade, tendo o enquadrado poeta Ítalo Saldanha através de mãos que engolem. O projeto, que conta com a edição-chefe da poeta curitibana Jéssica Iancoski, se inspirou na extinta Revista Joaquim.
“O periódico chama atenção justamente pela ideia de lançar uma revista que explora realmente a questão da produção de conteúdo digital, remetendo fortemente às ambições gráficas da Revista Joaquim. No que se refere ao design gráfico, a revista literária Joaquim, editada por Dalton Trevisan, ganhou destaque no final da década de 50, sobretudo pela busca consciente pelo equilíbrio gráfico entre a linguagem textual e visual, motivações que são facilmente percebidas na Toma aí um poema”, considera a editora-chefe.
Entre os temas abordados nessa primeira edição estão questões de LGBTQIA+, com foco na transexualidade e visibilidade drag, feminicídio, desigualdades sociais e raciais e também a contestação do período político atual do Brasil.
Segundo Jéssica Iancoski, essa busca por conteúdos mais subversivos também foi inspirada na “Joaquim”. “Assim como a Joaquim, a Revista literária Toma Aí Um Poema, não se limitou a publicar apenas a cena local de Curitiba, assim como, priorizou a construção de conteúdo que apresentasse teor de frescor em relação aos pensamentos conservadores de maior circulação nacional”, afirma.
A “Toma aí um poema” está disponível pela Calameo e em PDF. Já o podcast pode ser acessado no Spotify, no Google Podcasts e no YouTube.
Tendências modernistas
Em um post do Instagram, Lucas de Matos, poeta e comunicador, autor do poema Por que um pai trans te incomoda? presente nesta primeira edição, aponta tendências modernistas brasileiras na revista Toma Aí um Poema.
“Quero parabenizar pela edição primorosa deste material que traz uma navegação interativa com os rostos dos escritores e escritoras, que me remeteu a obra Operários de Tarsila do Amaral. E somos isso mesmo: operários da palavra, é por meio dela que conseguimos tocar mentes e corações”.
Operários (1933) é um dos principais quadros brasileiros, que representa o processo de industrialização e a imensa variedade étnica das pessoas que migraram de suas cidades impulsionando o capitalismo
Foto: Divulgação
No índice apresentado pela revista, também é possível notar semelhanças com a obra de Tarsila do Amaral. No primeiro plano encontra-se uma grande variedade de rostos que poderiam representar as questões contemporâneas, fugindo de certa maneira dos padrões sociais. Enquanto que no plano de fundo, os nomes dos participantes da edição são posicionados em coluna, formando o que pode ser compreendido como estruturas urbanas.
Por fim, a chamada na página faz referências às diversas lutas atuais dos brasileiros: “Cada semblante uma luta. No semelhante a sua”, propondo um movimento de empatia e convidando o leitor a se relacionar com o outro.
Além da presença de Lucas de Matos e Sandra Modesto, a primeira edição da revista conta com a participação de escritores como Tchello D’Barros, grande expoente da poesia visual brasileira, com mais de 150 exposições em 15 países; Flávia Quintanilha, poeta londrinense (Desabotoar, Patuá – prefácio de Luci Collin), Isabel Furini, escritora premiada no Brasil, Espanha e Portugal; Milena Martins Moura, editora-chefe da Revista Cassandra (publicação exclusiva de mulheres). Demétrios Galvão, editor brasileiro da Revista Acrobata; Anna Apolinário e Thomas Brenner, poetas minimalistas e promessas da literatura contemporânea; Rafael Rocha, selecionado Prêmio Oceanos 2021; Dia Nobre, autora do sucesso No Útero Não Existe Gravidade (Penalux, 2021), entre outros.
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