É hora de praticar um olhar diferente para o Natal, enxergar todas as coisas simples que nos fazem felizes agora – afinal, se você está lendo isso, é porque sobreviveu
Por Irma Bicalho
Pinheirinho de alegria tra lalá lá lá, lalá lá lá
Sinos tocam todo dia tra lalá lá lá, lalá lá lá
É o Natal que vem chegando…
Muitos não lerão este texto. Pararam em “alegria”, ou no máximo em “sinos tocam”. Entendo. Afinal, que motivos temos para comemorar em um ano como este? Com tantas perdas, com mais de 1 milhão e meio de pessoas mortas por um vírus, com a população mundial vivendo uma vida atípica, sem o convívio social, sem emprego, sem saúde… sem paz. Então, por que uma idiota viria com seus “tra lá lás” como se nada estivesse acontecendo?
E eu respondo: porque se estamos lendo isso é porque sobrevivemos. Tivemos a sorte ou a benção de sermos poupados nessa grande roleta russa que foi o ano de 2020. E que, por sinal, ainda não terminou. Mas, até agora, sobrevivemos. Ao contrário do nosso amigo, do nosso ente querido, do nosso vizinho, do nosso ator ou cantor. Ao contrário de tanta gente conhecida que vimos partir, sem nem podermos nos despedir direito. Então, eu canto sim, meu “tra lá lá”, com a voz meio embargada, mas grata por estar aqui ainda, ao lado dos meus filhos e dos que amo.
Quem me conhece sabe que não sou a pessoa mais animada do mundo. Fico sempre na minha. Mas, outro dia, lendo um texto, que já nem sei qual era, senti um “clique” nos meus neurônios, os que ainda funcionam. O texto falava de uma sensação de prazer causada por uma substância liberada pelo cérebro enquanto estamos fazendo ou observando algo que nos supõe um futuro momento de felicidade. Confuso? Bem, o texto exemplificava essa situação com aqueles vídeos que viraram mania no YouTube, de gente abrindo presentes, conhecidos como “unboxing”. O que acontece é o seguinte: não importa o presente que está embrulhado, mas, sim, a expectativa que criamos ao desembrulhá-lo. A sensação de abrir o pacote, quase sempre, é muito mais intensa e agradável do que a de possuir o objeto que ganhamos. Já notou isso?
Seguindo essa mesma linha de pensamento, comecei a analisar os Natais passados. A gente começa em novembro, com a faxina especial de fim ano. Daí enfeita a casa, monta o presépio. Tem o planejamento do que comprar para quem, fazer biscoitos de especiarias, panetones, pensar no menu da ceia (que aqui em casa é sempre o mesmo, tem que ser!). E daí, chega o grande dia. Mas, no fundo, parece que nunca corresponde a expectativa. Uma ou outra coisa não sai como o esperado. Na hora da ceia, de tanto comer castanhas e frutas calóricas, a gente nem está mais com fome. De tão cansada de preparar tudo, o sono é sempre mais forte do que a animação. O resultado? Uma frustraçãozinha.
Com você acontece isso? Por que, depois de tantos preparativos, a coisa desanda? Porque focamos no momento final, o dia da festa, enquanto a alegria e o prazer estão nos preparativos, meus caros. Sim, na faxina, em sentir o cheiro da casa limpa e paredes claras para receber os enfeites. Na montagem da árvore com as crianças, matando as saudades das bolas de vidro antigas enroladas em jornal amassado, no perfume das especiarias que invade os cômodos da casa enquanto assamos as bolachas. É o agora o que temos, então só precisamos focar nele, valorizar o momento que estamos vivendo. E inventar muita coisa, sim, para fazer no Natal. Boas ações, culinárias especiais, artesanatos natalinos, ouvir músicas e assistir a filmes que instigam esse espírito comemorativo. Afinal, é um aniversário muito especial que está chegando, mas que na verdade já chegou, há mais de dois milênios. É ou não é? E estamos todos convidados, o que é incrível, todos mesmos, até aqueles que não ligam pro aniversariante.
Então, vamos praticar esse olhar diferente, enxergar todas as coisas simples que nos fazem felizes agora? E quando chegar o dia da festa, sem aquela expectativa gigante, acho que vai ser bem mais fácil curtir de verdade. E, é claro, essa coluna é sobre gastronomia né? Por isso vamos encerrar com uma receitinha de bolachas para reunir a galera na cozinha, perfumar a casa e ganhar uns quilinhos. E se você mora sozinho, não tem galera para reunir, vai sobrar mais pra você, mesmo que dê algumas de presente para o seu vizinho. Afinal, é Natal!
Bolachas de especiarias com glacê de limão
Esta receita é da famosa Martha Stewart, com pouquíssimas adaptações. A original está AQUI
Ingredientes
2 e 1/2 xícaras de farinha de trigo (e um pouco mais para enfarinhar a mesa na hora de abrir a massa)
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de gengibre em pó (ou uma colher de sopa de gengibre fresco ralado)
1/2 colher de chá de cravo em pó
1/2 colher de chá de canela
1 colher de chá de sal
1 xícara de manteiga na temperatura ambiente
3/4 de xícara de açúcar
1 ovo grande
1/4 xícara de melado ou mel
Glacê de limão
2 colheres de sopa de suco de limão
1 e 1/3 de xícara de açúcar de confeiteiro
Modo de preparo
Misture em uma tigela a farinha de trigo, o bicarbonato de sódio, gengibre, cravo e canela em pó e o sal. Reserve.
Bata a manteiga e o açúcar até ficar bem cremoso.
Adicione o ovo e bata até misturar.
Adicione o melado e bata até incorporar.
Adicionando a mistura de secos que você reservou. Misture levemente só até incorporar. Se bater muito os biscoitos podem ficar pesados.
Forme um disco com a massa, embrulhe em papel filme e leve para a geladeira. Deixe na geladeira por pelo menos 1 hora. O melhor é fazer a massa à noite e assar as bolachas no dia seguinte. A massa pode ficar na geladeira por até 3 dias.
Pré-aqueça o forno à 180°C. Unte as assadeiras com margarina.
Abra a massa em superfície enfarinhada, até ficar com a espessura de meio centímetro. Use cortadores de biscoitos, um copo ou até mesmo uma faca para cortar as bolachas.
Coloque-as na forma com uma distância de cerca de 2,5 cm entre elas.
Asse até elas ficarem douradas na lateral, cerca de 10 a 12 minutos.
Transfira os biscoitos para uma grade ou superfície fria e deixe esfriar por completo antes de decorar.
Glacê
Misture o suco de limão e o açúcar de confeiteiro mexendo até ficar cremoso.
Coloque o glacê num saco plástico e corte a pontinha dele. Decore suas bolachas como quiser e sua criatividade deixar!
Irma Bicalho é jornalista formada pela PUC-PR, dona de casa, mãe de quatro filhos e tutora de três cachorros e três gatos. Há três anos se formou no curso de Cozinheira do Senac-PR. Desde então tem se dedicado mais a duas de suas grandes paixões: comer e cozinhar.