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Curitiba perde o compositor Gerson Bientinez

A despedida do músico será restrita à família

Por Kristiane Rothstein
O cinza tradicional de Curitiba, nesta segunda (09/11) ficou mais triste. O compositor Gerson Bientinez faleceu nesta manhã. A companheira, Tetê Soares, comunica que a despedida “será restrita à família, tudo com muito silêncio”.
Amigos e admiradores deixaram mensagens nas redes sociais e seu perfil de Facebook foi transformado em uma espécie de memorial em sua homenagem.
“Muita tristeza. O Gersinho era e sempre será amado por muita gente. Unânime! Ele me ligou esses dias por engano. Estava atrás do [músico] Grafite. Que benção esse ‘engano’. Conversamos muito, colocamos o papo em dia. Sem que pudéssemos imaginar, foi uma despedida. Ele foi um dos primeiros a me incentivar quando eu era ainda muito menina e imagino que tenha feito isso com muita gente. Vai em paz, tão querido por todos, Gersinho. Inesquecível Gersinho. Viverá pra sempre nos nossos corações a sua ternura, a sua música, sua arte, seu jeitinho único de ser. Sua grandeza! Gigante”, comentou a Clarissa Bruns, cantora e compositora.
“Uma perda irreparável! Descanse em paz, amigo!”, disse o compositor Celso Pirata.
As homenagens foram se elencando no grupo de whatasapp do qual o compositor participava.
“Curitiba perde uma de suas grandes personalidades. Gerson representou como poucos a Música Popular Curitibana e Brasileira. Figura doce e carismática que tocava pelo prazer de produzir alegria e emoção. Que viva para sempre em nossos corações”, disse Daniel Faria.
“Vai ser difícil conviver com essa ausência. Ele tinha o tempo todo algum projeto que envolvia algum de nós [compositores]. Na penúltima vez que falamos, ele tinha me ligado porque queria compor uma canção para o filho de alguém, acho que do Maurício Carrilho – não tenho certeza- batizado de Tenório, provavelmente em homenagem ao Tenório Jr., o pianista brasileiro morto pela ditadura argentina. Combinamos pra depois da vacina”, contou a compositora Etel Frota.
Paulo Vítola, criador do grupo de compositores no aplicativo, comentou: “Há quem a vida tenha levado na flauta. Assim foi o Alaor. Gerson Bientinez foi levado no violão. Inseparáveis, ele e o violão. Não dá pra imaginar um sem o outro. De bar em bar, de lugar em lugar, ambos sempre cercados de amigos. Gente do dia e da noite, do sol e da lua, alegres e nostálgicos, arlequins e pierrôs. Gerson deu alma a essas rodas, com sua música, sua poesia, seu humor estranho. Por vezes, doce, ingênuo. Por vezes, acre, parabólico. Sempre desconcertante. Ao lado dele, as cantoras, os cantores, os instrumentistas. Todos, admiradores devotados de sua arte ou críticos mordazes de suas idiossincrasias, acabavam por se render ao talento que brotava da sua voz meio rouca e do seu violão inventivo. Teve a companhia e a parceria dos melhores. Já tinha feito canções com todos e com todas, quando um dia me apresentou um choro que havia nascido instrumental mas que, segundo ele, era uma homenagem ao Arlindo Sete Cordas. Um choro lindo. Pediu-me para fazer a letra. Tentei homenagear o Arlindo várias vezes cobrindo de versos aquele choro inspirado. E nada de sair a letra. Até que eu descobri uma particularidade. A musa do choro não era o Arlindo. Era a Lais Mann, sua amiga há mais de quarenta anos e a quem ele sempre jurou amor eterno. Então, acertei na veia. Fiz a letra de uma só pegada, pensando num encontro meu com a Lais Mann. E o choro para o Arlindo virou ‘Cinema Grátis’, nossa primeira e única parceria, lindamente gravada por Selma Baptista. Até hoje não sei se ele gostou ou não. E agora, como vou saber? Se houver um jeito, não me incomodo que demore um pouco para eu me encontrar outra vez com ele. Leve-me a vida na poesia, assim como levou o Alaor na flauta e o Gerson Bientinez no violão. Linda, lenta e levemente.”
A musa do choro em questão, Lais Mann, cantora e comunicadora, também deixou esta sua despedida no Facebook:
“Hoje o Gerson Bientinez se foi daqui. Cansou, eu acho. Perdi um irmão. Estava tudo muito sem graça pra ele, pra sua alegria e contentamento em viver a vida como gostava. Fez parte da minha vida. Da maior parte. Conheci o Gerson há 42 anos exatamente. Nunca mais nos largamos. Eu brincava que ele era meu apêndice. Sempre teve um lugar importante na minha vida, na minha casa. Se eu estava na praia, ele estava junto, no Rio, ele tinha um ‘anexo’ no meu apartamento, onde fiz uma reforma pra ele ter mais conforto. Levava meus filhos pra escola às vezes. Ele mudou minha vida pra melhor.
Lembro quando voltei de Brasília depois de alguns anos começando uma nova etapa. Separada, com quatro filhos pequenos, tendo que buscar trabalho e recursos. Comecei um programa de entrevista na antiga TV Iguaçu, hoje SBT, ao vivo diariamente, inclusive aos sábados. Era difícil encontrar convidados aos sábados, eles faltavam e nos deixavam na mão. Naquela semana eu e minha produtora, a Iracema, não estávamos conseguindo nada. Então ela me disse, eu tenho um amigo músico, acho que ele vai. E foi assim, eu esperando o convidado na porta da TV, o diretor berrando que o programa estava entrando no ar e o Gerson chegando esbaforido e de ressaca estacionando o seu indefectível Dodge branco em cima do Jardim da emissora. Nem tivemos tempo de combinar nada, mal eu sabia seu nome.
Foi uma entrevista boa e engraçada, ele era engraçado. Me disse que atrasou porque chegou em casa de manhã depois de uma noite de orgia, como costumava brincar. Só nos afastamos um pouquinho quando um anjo chamada Tereza apareceu em cena. Foi a mulher da vida do Gerson e conquistou a todos nós, amigos dele. Parece que nasceram um para o outro. Inseparáveis, nos mostravam como era o amor.
Obrigada, Tetê [companheira de Gerson] por compartilhar tão generosamente a convivência dele conosco. Agora ficam a lembrança e as músicas que ele compôs pras suas musas e musos.
Obrigada Gerson, amado amigo por todos os momentos de alegrias e risadas boas que você proporcionou pra mim e minha família, pelo amor que, eu sei, você sentia por nós.
Vá em paz, você cumpriu lindamente sua missão deixando uma grande e bela obra musical para todos os artistas e habitantes dessa cidade! Amo você!”.
Tonicato Miranda, um dos grandes parceiros musicais de Gerson Bientinez, comentou detalhes da jornada juntos. “Faz dois anos e meio que componho com ele quase toda semana. Temos já trinta e quatro músicas terminadas, cinco ficaram penduradas no pincel. Vou sentir muito a falta do parceiro”, disse.
Contou também que havia um sonho que esperavam concretizar. “Ele sonhava ter grana, eu também, para levarmos ao Rio de Janeiro e conseguir, com velhos companheiros da cidade maravilhosa, ter arranjos incríveis para depois fazer dois CDs com nossa música. Não deu tempo e este ano maledeto levou embora o parceiro. Vou chorar até o final da vida.”
Relembrou que eram as diferenças que faziam deles uma grande dupla: “Discordávamos em tudo. Como na música do Guinga, ele era Flamengo, eu Fluminense. Eu torço aqui pelo Paraná, ele pelo Coritiba. Ele gostava mais de choro e samba, eu gosto mais de bossa nova e jazz. Tentei convencê-lo, e consegui em parte, a arriscar outros gêneros. Então fizemos um fado, um “boogie-woogie”, algumas baladas; um “blues”; alguns “jazz”; alguns sambas; algumas bossa novas; marcha rancho; boleros e já nem sei mais. Era um sujeito admirável. (…) Peço apenas ao barqueiro que demore a fazer a travessia, dê uma passada geral pela Terra, visite a França onde ele esteve algum tempo e outras localidades do Brasil. Vai Gersinho! Vai companheiro! Vá fazer a felicidade com seu violão entre bambas já hospedados no céu!”.
Em setembro, a jornalista Irma Bicalho fez uma matéria especial para a coluna Curitiba é Arte aqui, do Curitiba de Graça. “Quem cruzou o caminho de Gerson recebeu seu carinho e foi tocado pela magia de sua poesia e música. Um grande coração musical. Conversei com ele recentemente, após anos sem nos falarmos. Ele estava grato pela vida que teve até então, segundo ele uma vida boa que o fez um homem feliz. Siga em paz Gerson, realize grandes serestas aí no céu”, comentou a jornalista.
Irma conta que após escrever o perfil de Gerson, ele fez questão de ter um novo contato com ela e sua família – ela, o marido e os quatro filhos. Antes haviam se visto no casamento dela, em que ele havia sido um dos músicos contratados para a cerimônia.
Ela relata que Gerson ficou muito feliz com a reportagem e que, apesar do distanciamento e máscaras necessárias devido à pandemia, foi muito festivo o encontro. “Ele estava com muitos planos. Havia feito até um convite para trabalharmos juntos”, conta a jornalista, comovida.
Confira alguns dos sucessos de Gerson Bientinez
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