Com estética dos anos 50, o musical Ninguém Mexe Comigo conta com a participação de 40 voluntários do cenário artístico brasileiro
A cada dia, acontecem 180 pessoas estupros. A cada hora, quatro meninas de até 13 anos são estupradas. De todos os casos de violência sexual, 53,8% correspondem a crianças e adolescentes, segundo estatísticas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Diante desse preocupante cenário, 40 profissionais da área artística brasileira abriram mão de seus cachês e aceitaram participar voluntariamente do musical Ninguém Mexe Comigo, criado para incentivar os adultos a somarem suas vozes à rede de proteção da infância.
A produção e as gravações do musical aconteceram durante a pandemia da covid-19 e seguiram todas as diretrizes e protocolos de segurança. Segundo Antonio Roberto, diretor geral do musical, foi muito gratificante despertar o interesse e engajamento de grandes nomes da cena artística brasileira, como Cassio Scapin (que protagonizou Nino na TV Cultura), André Dias (o Patrício, da novela “O Novo Mundo”, e Groa, do “Segundo Sol”), Bruna Caram (minissérie Dois Irmãos da TV Globo), Fred Silveira (Fantasma da Ópera), Anderson Bueno (Hebe – O Musical), Marly e Ulisses Montoni (Ópera Madame Butterfly), e vários outros artistas do teatro, música e televisão.
O musical faz parte da campanha Ninguém Mexe Comigo, no Instagram, Facebook e TikTok, que estreou há quatro meses, com música composta pela atriz e cantora Bruna Caram. O objetivo inicial foi ajudar crianças e adolescentes a identificarem situações de potencial abuso e aprenderem a se defender, como gritar, correr, contar ou ligar para o Disque 100. A campanha foi divulgada amplamente nas redes sociais e ganhou até repercussão internacional, tendo a letra traduzida para oito idiomas.
Para focar nos adultos e no tabu sobre esse tema que se arrasta por décadas, a música ganha novo arranjo vocal feito por Marly Montoni no estilo anos 1950. “Essa história não é de hoje e mesmo assim pouco se fala. Agora, vamos cantar juntos e mudar essa história!”, diz Cássio Scapin, que participa do videoclipe e reforça o quanto a causa é importante e urgente.
Criança relata abuso após conhecer a campanha
A campanha estimula o olhar atento dos adultos sobre abuso sexual, trazendo uma linguagem mais leve para esse assunto complexo. Por causa do clipe original, muitos pais passaram a conhecer o Disque 100 (Direitos Humanos), abriram espaço de diálogo com os filhos sobre proteção e uma criança surda relatou à mãe que estava sendo abusada após assistir a canção lançada em maio com interpretação de libras.
“Salvar uma criança dos abusos é o mesmo que salvar a humanidade. Nosso foco é conscientizar cada jovem e adulto que nossa missão é eliminar o abuso sexual infantil do Brasil e do mundo”, reflete Paola Bellucci, idealizadora da Ninguém Mexe Comigo, designer e ativista social, mestranda em Paz na Universidade Soka, em Tóquio.
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Paola teve seus direitos violados na infância e hoje se dedica para que nenhuma criança mais sofra pelo que ela passou. Mesmo morando no Japão, ela se empenha para proteger os jovens brasileiros dos abusos durante a pandemia aplicando o princípio “não deixar ninguém para trás” dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
A campanha Ninguém Mexe Comigo vem ganhando força também fora do Brasil. Em outubro, o projeto será tema de um vídeo produzido por uma associação musical de Tóquio como exemplo de projeto que une os ODS e a música para a paz.
Assista ao clipe de Ninguém Mexe Comigo – O Musical
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