Mostra apresentará a perspectiva histórica dos saberes e usos dos povos indígenas do Sul sobre a erva-mate
O Museu Paranaense (MUPA) inaugura em dezembro projeto Circuito Ampliado – Acervos em Circulação com a exposição “Eu Memória, Eu Floresta: História Oculta”, que propõe diferentes olhares sobre obras, objetos e documentos históricos relacionados à erva-mate, provenientes do acervo do MUPA.
A mostra, que já está montada, será aberta para visitação presencial em 2021, assim que o funcionamento do museu for restabelecido – ainda sem uma data definida. O Circuito terá ainda exposição no Palacete dos Leões, sede do Espaço Cultural do BRDE no Paraná, que receberá a mostra “Narrativas e Poéticas do Mate”, também prevista para o próximo ano, e conta com a parceria do Museu Oscar Niemeyer.
Até as visitas presenciais serem permitidas, o público poderá ter contato com as obras e o conceito da exposição por meio de fotos, vídeos e apresentações do acervo que começarão a ser divulgados ainda em dezembro no Facebook, Instagram e no site www.museuparanaense.pr.gov.br.
A exposição tem como perspectiva os saberes e usos dos povos indígenas do Sul sobre a erva-mate, seus primeiros locais de cultivo: as florestas, o manejo e beneficiamento da planta por pequenos produtores e aspectos ligados à representação científica e artística da erva-mate e da natureza feitas por viajantes estrangeiros e colonizadores.
O público terá acesso a um amplo conjunto de fotografias, peças tridimensionais, reproduções do álbum Voyage pittoresque et historique au Brésil, de Jean Baptist Debret, bem como a emblemática fotopintura Família Kanhgág no Museu Paranaense, de 1903, e especialmente restaurada para fazer parte da exposição.
Entre as dezenas de peças do acervo do MUPA, a exposição contará ainda com uma obra do artista indígena wapichana Gustavo Caboco. De maneira poética, ela propõe uma atualização da história indígena ligada à erva-mate, questionando o lugar dos saberes dos povos originários em contraposição à história “oficializada” pelas instituições museológicas. A obra comissionada fará parte do acervo da instituição.
“Entendemos que desta forma reforçamos o diálogo com as comunidades que representam os temas abordados, trazendo uma reflexão sobre o papel do museu na sociedade”, afirma a diretora do Museu, Gabriela Bettega.
Gustavo Caboco trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra indígena Canauanim. Sua pesquisa se produz nos encontros com os parentes e é apresentada através de desenhos, bordados, textos, vídeos, murais, performances e objetos. O artista já participou de importantes exposições como VaiVém, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Atualmente integra a exposição Véxoa: Nós Sabemos, na Pinacoteca de São Paulo, além de ser presença confirmada na 34a Bienal de São Paulo, em 2021.
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Junto com as peças do acervo e a obra de Caboco, faz parte da mostra a fotografia “Eu Memória, Eu Floresta a obra Tapeaba (2013)”, de Caio Reisewitz, que promove o tensionamento entre o natural e o artificial a partir da representação da floresta.
Mestre em poéticas, Reisewitz é considerado um dos fotógrafos mais importantes de sua geração no campo das artes visuais. Já ganhou diversos prêmios e expôs na 51ª Bienal de Veneza, 26ª Bienal de São Paulo e Nanjin Biennale (China).
Roda de Mate On-line
No dia 12 de dezembro, às 15h, será promovida uma Roda de Mate on-line, com inscrições já encerradas, para professores, indígenas, estudantes e interessados. O evento será com a cacica Mbyá-Guarani Juliana Kerexu e o artista wapichana Gustavo Caboco. Os participantes irão conhecer a importância da erva-mate na cultura Mbyá-Guarani, como as histórias, cantos e rituais, ligados ao contexto de uso da erva-mate pelos indígenas.
Juliana Kerexu Mirim Mariano chefia a aldeia Tekoa Takuaty, na Ilha da Cotinga, município de Paranaguá,e é conhecida por lutar por uma maior visibilidade das mulheres indígenas no sul do Brasil. “É uma oportunidade de trazer para a roda de conversa a riqueza cultural, a origem e a importância dessa árvore sagrada para os povos indígenas”, afirma a cacica.
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