Documentário sobre a companhia de dança da UFPR será exibido no Festival Olhar de Cinema

A criação de um espetáculo da Téssera Companhia de Dança da UFPR é apresentada no documentário “A alma do gesto”

Téssera Companhia de Dança da UFPR
Filmagens do documentário, que aconteceram em 2017. Foto: Christian Alves

Antes que as cortinas se abram para o espetáculo, um longo caminho é percorrido. O que acontece durante essa trajetória é apresentado no documentário  “A alma do gesto”, que retrata o processo de criação de um espetáculo da Téssera Companhia de Dança da UFPR (Universidade Federal do Paraná). O filme foi selecionado para a mostra Mirada Paranaense do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, que acontece de forma virtual em outubro.
Com direção Eduardo Baggio e Juslaine Abreu-Nogueira, o filme tem como personagem centra o processo criativo e, segundo eles, a a grande questão foi traduzir algo tão abstrato para a linguagem do cinema. “Foi um grande desafio. Nosso objetivo não era mostrar o espetáculo, mas entender e mostrar o processo criativo para o espetáculo. Fomos nos guiando por filmagens que pudessem apresentar tal processo, entendê-lo e conceber um filme no qual esse processo fosse protagonista”, explica Baggio.
As filmagens duraram cerca de cinco meses, de fevereiro a julho de 2017. “Filmamos desde o processo seletivo de bailarinos e bailarinas até a apresentação do Teatro da Reitoria”, lembra Baggio. Cerca de 40 pessoas, entre criadores, equipe técnica e integrantes da companhia passaram muito tempo juntos, enquanto nascia o espetáculo “Black Dog”. De acordo com Rafael Pacheco, diretor e coreógrafo da Téssera, a equipe do filme não interferiu no processo de criação e nem nos ensaios. “Os bailarinos são ensinados a não deixar as câmeras interferirem. Estão sempre focados no trabalho, na coreografia”, observa.
A coreografia de Black Dog foi construída a partir de uma pesquisa sobre a depressão, tendo como disparador criativo seis sintomas marcantes desse transtorno que atinge grande parte da sociedade. “Black Dog é um dos mais significativos balés, pela identidade e maturidade estética da companhia”, afirma Pacheco.
A proposta do documentário chegou perto da comemoração de 40 anos da companhia, que acontece em 2021. “Nesses 40 anos, uma das questões sempre foi a identidade da companhia. A Téssera trabalha com emoção, temas fortes e polêmicos. Através dessa emoção, a companhia conseguiu ter uma identidade própria. As pessoas identificam o trabalho da companhia. O filme é importante para mostrar essa identidade”, conta o diretor e coreógrafo.
Pacheco, que só vai assistir ao documentário na estreia, no festival Olhar de Cinema, imagina que o filme mostrará todo o processo de trabalho do coreógrafo, como a ideia do espetáculo é transmitida e como se consegue tirar a emoção dos bailarinos para se chegar ao resultado no palco. “É a magia da arte sendo processada que se conseguiu colocar na tela”, resume Pacheco.

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O processo de edição foi interrompido no segundo semestre de 2017, por problemas de falta de equipe e até de apoio, pois o filme foi realizado sem nenhum financiamento. A edição foi retomada no início de 2019 e a montagem terminou entre os meses de março e abril deste ano. Atualmente, está em fase de pós-produção, com trabalhos como legenda em outras línguas, trailer e divulgação.
A produção do documentário é uma uma parceria entre UFPR e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), por meio dos grupos de pesquisa Cinecriare e Kinedária, que pesquisam processos criativos artísticos. Juslaine  é professora do curso de Cinema da Unespar e Baggio é coordenador do mestrado em Cinema e Artes do Vídeo na Unespar e egresso do curso de Comunicação Social da UFPR, como aluno e professor substituto, já conhecia o trabalho da Téssera e decidiu convidar o grupo para o projeto.

Olhar de Cinema

Até agora, o filme “A Alma do Gesto” foi enviado apenas para o festival internacional Olhar de Cinema. Foi o único longa-metragem documental selecionado para a mostra Mirada Paranaense,que apresenta as produções recentes do estado. Baggio explica que a escolha se deu porque é um evento que ocorre em Curitiba e tem grande relevância nacional e internacional. “Também pensamos que, caso selecionado, seria um grande momento a primeira exibição pública em um cinema com toda a equipe do filme e da Téssera, além de colegas e amigos”, diz.
Com a pandemia, as sessões do festival serão todas on-line. Isso abre a possibilidade para que mais pessoas, de fora de Curitiba, possam assistir ao filme e conhecer os trabalhos das duas instituições. “Mais do que nunca, urge visibilizar as ações de nossas universidades públicas, as realizações artísticas que fazemos nas mais diversas linguagens e, sobretudo, o vigor do cinema brasileiro”, aponta a diretora Juslaine.
O Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba será realizado de 7 a 15 de outubro. Os ingressos custarão R$ 5 por filme e estarão à venda no site oficial a partir do dia 23 de setembro. Ainda é possível se cadastrar e concorrer a ingressos gratuitos com o Passaporte Acesso Livre até o dia 2 de setembro.
Dança moderna de Téssera
A companhia de dança é vinculada à Coordenadoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPR e passou a se chamar Téssera Companhia de Dança em março de 2000. O nome é uma palavra de origem grega que significa “quatro”, em alusão aos quatro fatores utilizados nas aulas e processos criativos da companhia: espaço, tempo, forma e movimento.

Téssera Companhia de Dança da UFPR
Segundo diretor da Téssera, não existe nenhuma outra companhia parecida dentro das universidades no Brasil. Foto: Christian Alves

“A Téssera é um projeto único em uma instituição de ensino, com identidade e estética incrível. Não existe nada parecido dentro das universidades no Brasil”, define Pacheco. À frente da companhia desde 1981, quando ainda era o Grupo de Danças da UFPR, o diretor conta que a proposta mudou muito, de uma reunião de alunos interessados em dança para um núcleo de pesquisa e trabalho em dança moderna.
Muito da “alma do gesto” da Téssera vem da bagagem de seu diretor. Além da dança, Pacheco foi esgrimista, ator de teatro e cinema e professor de teatro e interpretação no curso superior de dança. “A Téssera é uma companhia de dança moderna com elementos do teatro, que fornece padrões para a construção da personagem. Acredito que meu caminho com a arte e a dança contribuiu para o diferencial estético da companhia”, comenta.
 
 
 
 
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