Como e por que aprender uma língua estrangeira

Aprender uma língua estrangeira tem muitos mais benefícios do que imaginamos

A professora de inglês, Carolina Deconto Vieira, explica mais sobre como é o processo de aprendizagem de um novo idioma, como superar as dificuldades e as vantagens que isso traz para o funcionamento de nosso cérebro.

 

Por Carolina Deconto Vieira

Aprender uma língua estrangeira é cada vez mais fundamental para o mercado de trabalho e tem mais benefícios do que imaginamos.

Num mundo cada vez mais globalizado e conectado, cresce a importância de ter o domínio de um ou mais idiomas. Existem muitas vantagens e benefícios, não somente do ponto de vista competitivo na hora de concorrer à vagas de emprego, mas também do ponto de vista neurológico.

Atualmente, há inúmeras metodologias, franquias e escolas, além do mercado de ensino bilíngue crescente que evidenciam essa demanda. Existem, também, os aplicativos, os tradutores e os softwares que propiciam o aprendizado por conta própria, os quais costumam ser desafiadores. Em outros casos, o próprio processo de aquisição de uma língua não vem com facilidade apesar da disponibilidade de recursos para o processo.
Muitas pessoas acreditam que “não levam jeito” ou que possuem algum problema de aprendizado. Em meus anos de ensino de língua inglesa, muitos alunos expressaram essa frustração de não conseguir “sair do básico”. Essas experiências cumulativas costumam gerar uma queda na autoestima do indivíduo, o que, em casos mais acentuados, pode levar a um bloqueio de aprendizado.

Normalmente, esses alunos possuem um mindset – traduzo livremente como configuração mental – que não favorece o aprendizado linguístico. Contudo, em outras áreas do conhecimento ou em outras inteligências, eles se destacam brilhantemente. Em meus anos de docência, vi vários casos de excelentes atletas, artistas plásticos ou “gênios” de áreas de ciências exatas apresentarem mais dificuldade em aprender um idioma. Em alguns casos, a dificuldade em aprender um segundo idioma é acompanhada de dificuldades de aprendizado com a própria língua materna.

Por outro lado, para algumas pessoas o aprendizado vem de maneira fácil. Isso ocorre devido a inúmeros fatores, tal como ocorre com quem aprende mais lentamente. Geralmente, o fator de inteligência linguística – inato a cada um – e o hábito de leitura, mesmo que na língua materna, exercem grande influência na velocidade de aprendizado. Nesses casos em que a pessoa aprende linguagens com mais facilidade, pode haver alguma dificuldade em outras áreas do conhecimento, especialmente, o lógico-matemático. Cabe a um profissional especializado analisar cada caso.

Outro fator que acelera a assimilação do idioma é a exposição, mesmo que de forma passiva: pessoas que escutam músicas em outra língua, assistem a filmes ou séries com legendas em português ou jogam videogames costumam, de alguma forma, aprender mais rapidamente. Um professor que exibe vídeos tem isso em mente e, além de proporcionar um tempo de assimilação, ele pode fazer alguma atividade referente aos conteúdos que está ensinando em sala de aula, trabalhando gramática ou vocabulário, por exemplo.

Da mesma forma que ir a uma imersão em um país estrangeiro acelera o aprendizado, o escutar faz com que o tempo que assimilamos e aprendemos seja mais curto. Da mesma forma que os bebês aprendem escutando o que adultos falam, podemos nos beneficiar com um idioma estrangeiro: ouvindo. Ouvir as palavras nos ajuda a pronunciá-las corretamente. A vantagem da presença do professor é que ele proporciona atividades nas quais esse processo de ouvir e repetir sejam feitos de maneira mais fluida, além da benéfica possibilidade de correção imediata no caso de erros que possam ser cometidos.

As pessoas que apreciam cantar ou que possuem uma audição sensível – o que é o caso dos músicos – possuem vantagem na hora de aprender um idioma, pois parte do sucesso em aprender uma língua consiste, também, em saber reproduzir sons movendo lábios, língua, dentes e manipulando a voz para entonar frases e palavras com a cadência correta.

Grande parte dos bloqueios de aprendizagem advindos de frustrações tem raiz na dificuldade em reproduzir os sons corretamente. Se você se encaixa nesse caso, vale a pena investir em sessões de prática com um gravador, para que você treine seu ouvido comparando o que você diz com o que está sendo dito ou lido. Existem, também, softwares que fazem prática de pronúncia, mas eles costumam apresentar falhas que podem induzir ao erro. Um professor, ao ver um aluno com essa dificuldade, pode sugerir a gravação de leitura de frases ou pequenos textos para que a pessoa pratique os fonemas específicos que ela tem dificuldade em reproduzir.

Por fim, é importante lembrar que a regra de ouro para se tornar um bom escritor na língua materna também vale para a língua estrangeira. A leitura é essencial para o aprendizado do idioma, pois nos dá a chance de aprender vocabulário complementar ao que é ensinado nos cursos e, também, nos expõe a estruturas gramaticais variadas, o que é essencial para o aprendizado do bom uso de pontuação e de ortografia. A leitura também acelera significativamente o aprendizado do segundo idioma. Quem está aprendendo de forma autônoma pode, facilmente, encontrar livros com graus progressivos de dificuldades e um professor pode fazer atividades complementares de leitura para propiciar ao aluno a chance de ser exposto, de forma pedagógica e orientada, a conteúdos mais avançados do que ele está aprendendo.

Aprender um idioma é, particularmente, desafiador ao cérebro, pois envolve inúmeros tipos de inteligência. A linguística é essencial para que a escrita se torne uma atividade fluida e a gramática seja compreendida de forma plena. A musical, conforme mencionado, auxilia na pronúncia e na fala. Até mesmo a inteligência lógico-matemática é posta em prática, pois muito da gramática consiste em compreender qual é o papel das palavras nas frases. Os testes de proficiência que fazem uso de gramática como critério de avaliação – o institucional TOEFL, por exemplo – privilegiam esse tipo de aprendizagem. A inteligência interpessoal também é exercitada, pois a arte de conversar demanda que o vocabulário adequado seja utilizado em seu devido contexto.

Todo esse exercício cerebral beneficia quem está aprendendo. Segundo um artigo publicado no jornal Telegraph (https://www.telegraph.co.uk/education/educationopinion/10126883/Why-learn-a-foreign-language-Benefits-of-bilingualism.html), aprender e praticar consistentemente um segundo idioma deixa o cérebro mais inteligente pelo fato de ele ter que se reconfigurar diante da exposição de uma segunda palavra para o mesmo objeto, o que o autor denomina como “negociar significado”. Esse fator também auxilia o indivíduo em encontrar soluções criativas para problemas. Alunos que aprendem um segundo idioma também tendem a ter melhores notas em exames escolares, o que é uma evidência do estímulo cerebral positivo que ocorre.

Outras vantagens do ponto de vista neurológico apontadas pelo artigo são uma maior facilidade de fazer o famoso “multitasking” (o que não os isenta do ônus de focar em mais de uma tarefa ao mesmo tempo), o adiamento dos primeiros sintomas de doenças como Alzheimer e Parkinson, bem como uma melhora na memória de modo geral, pois uma nova configuração gramatical e lexical exercitam significativamente a memória. Testes apontaram que pessoas bilíngues são melhores para memorizar listas, nomes e direções de um ponto a outro. Além disso, os bilíngues se tornam mais perceptivos e filtram melhor informações relevantes das secundárias, melhoram o processo de tomada de decisões, além de melhorarem o uso da própria língua.

Um fator crucial que vai interferir no aprendizado do adulto é a mente aberta e a curiosidade e entusiasmo ao diferente. Alguns alunos “lutam” para se desapegar do português – o que muitas vezes é acompanhado da falta de contato ao segundo idioma – por inúmeros motivos. Outro aspecto emocional igualmente importante é a reação diante dos erros. É clichê falar, mas é importante frisar: erros são parte do processo, pois é com eles que aprendemos o que é correto. Existe entre nós, adultos, uma cobrança de impecabilidade e invulnerabilidade, mas essa postura é extremamente contraprodutiva ao aprendizado: é preciso encarar as correções com leveza e, se possível com bom-humor. Acordar a nossa criança interior ajuda, especialmente, no estágio inicial do aprendizado.

Portanto, os inúmeros desafios e frustrações do aprendizado, no fim, recompensam não somente na empregabilidade e competitividade no mercado de trabalho, como também o nosso cérebro e a nós mesmos. É verdade que aprender um segundo idioma na infância e na adolescência é mais fácil devido à elasticidade cerebral dos mais jovens. Contudo, muitas vezes os jovens não possuem a autocrítica e a disciplina dos adultos no processo de aprendizagem. O esforço constante costuma superar o “talento preguiçoso” e o mesmo vale para um adulto que quer aprender: quanto mais esforço cognitivo efetivo for empenhado, menos a idade se torna um fator de limitação. Quanto mais aprendemos, mais automotivados ficamos e mais o nosso sistema de recompensa do cérebro – essencial para a felicidade e para a manutenção de objetivos a longo prazo – é ativado. São tantas as vantagens que não há como não indicar essa vivência de 14 anos com todos com entusiasmo e convicção. O que você está esperando, leitor? Sí se puede! Let’s talk! Auf wiedersehen!

 

Carolina Deconto Vieira, também conhecida por Teacher Carol, é professora de inglês para crianças, jovens e adultos há mais de dez anos em cursos livres.

 

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